Londrina - A presença de membros da coordenação de patrimônio e meio ambiente da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Brasília foi fundamental para que os índios da terra indígena Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra, Norte do Paraná, libertassem, na noite de segunda-feira, José Almir Torres Quintanilha e Valmiron Torres Quintanilha, funcionários de uma empresa terceirizada da Companhia Paranaense de Energia (Copel), e o antropólogo da empresa, Alexandre Húngaro, mantidos reféns desde a semana passada. Segundo o representante da Funai, em Londrina, Marcos Cezar da Silva Cavalheiro, os índios perceberam o interesse da entidade em participar de uma solução definitiva para o impasse. Os índios pediam indenização pelo impacto ambiental da linha de transmissão da Copel que corta a aldeia. A linha, de 230 mil volts, liga a termelétrica de Figueira à subestação de Apucarana.
De acordo com Cavalheiro, outro argumento que ajudou na negociação foi a antecipação da reunião entre os índios, a Copel e o Ministério Público Federal, que seria hoje, para a tarde de ontem, na qual foi assinado o termo de ajustamento de conduta e firmado o valor a ser pago de indenização: R$ 1,5 milhão, mais a correção do Índice Geral de Preços (IGP). O total chegará a R$ 1,8 milhão, a serem pagos em cinco dias.
O encontro começou às 14 horas e se estendeu até o fim da tarde, no anfiteatro do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com a participação de representantes da Copel, dos índios, da Funai e do Ministério Público Federal.
O representante da Funai em Londrina informou que a libertação dos reféns foi decidida em uma votação dos membros da aldeia. "Os índios estavam dispostos a tudo e cansados de documentos e promessas de solução. Contudo, mesmo com membros contrários à libertação dos reféns, as três pessoas foram soltas por vontade da maioria", disse.
A reportagem tentou contato com o cacique da Terra Indígena Barão de Antonina, mas por telefone uma mulher, que não quis se identificar, informou que ele não falaria com a imprensa.
Os índios pediam R$ 3,5 milhões de indenização pelo impacto ambiental causado pela linha de trnsmissão de energia, que passa pela área indígena desde 1967. A alegação dos caingangues é de que as torres inviabilizam o uso da área ao longo dos 10 quilômetros de extensão da linha. A Copel, por sua vez, se propôs a pagar R$ 1,1 milhão e ajudar na recuperação das áreas degradadas.
Na manhã de segunda-feira, o procurador federal José Mauro Luizão ameaçou suspender a reunião caso os reféns não fossem libertados. Segundo Luizão, se não houvesse a libertação das pessoas, qualquer acordo assinado entre a Companhia e os índios não teria valor legal.
À reportagem do Bom Dia Paraná, da RPC TV, o antropólogo Alexandre Húngaro disse que a comunidade tratou os reféns muito bem. Já Valmiron Quintanilha afirmou que tudo esteve sob controle. "Eles estavam lutando pelo direito deles."
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Entenda o caso
Índios da terra indígena Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra, mantiveram dois prestadores de serviço e um funcionário da Copel reféns desde a semana passada.
Reivindicação
Os índios cobram indenização pelo uso das terras pela Copel. As linhas de transmissão da empresa, instaladas em 1967, cortam a terra indígena por cerca de 10 quilômetros.
Alegação
Os caingangues argumentam que as 14 torres inviabilizam o uso da área ao longo das linhas de transmissão.
Divergência
Os índios pediam R$ 3,5 milhões. A Copel, por sua vez, se propunha a pagar R$ 1,1 milhão e ajudar na recuperação das áreas degradadas.
Reféns
Os irmãos Valmiron Torres Quintanilha, de 30 anos, e José Almir Torres Quintanilha, 28, empregados de uma empresa terceirizada da Copel, que tinham ido à aldeia fazer uma vistoria de rotina, foram mantidos reféns pelos índios desde a última quinta-feira. No dia seguinte, o antropólogo Alexandre Húngaro da Silva, funcionário da Copel, foi ao local tentar a liberação dos dois trabalhadores e acabou sendo feito refém.
Negociações
Após reunião com representantes da Funai, na segunda-feira, os índios libertaram os reféns. Durante encontro entre índios, Copel e Ministério Público Federal, foi firmado termo de ajustamento e definido o valor a ser pago.
Outros casos recentes
19 de novembro de 2008 Índios do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, invadem a sede da Funasa em Canarana, a 525 km de Cuiabá, e fazem 12 funcionários reféns. Eles pediam a permanência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no atendimento médico dos indígenas e a criação de uma secretaria no Ministério da Saúde para questões indígenas. Após negociação, os reféns são libertados na mesma noite.
19 de outubro de 2008 Os índios gaviões da aldeia Riachinho, em Amarante do Maranhão, a 703 km de São Luís, mantêm reféns três funcionários da Secretaria de Estado da Educação e um da Funai. Os índios exigem que a secretaria assine termo de compromisso para entregar uma nova escola na aldeia. Os reféns são libertados uma semana depois.
22 de setembro de 2008 Um grupo de índios da etnia caiapó ocupa o escritório da Funai em Redenção (PA) em protesto contra a precariedade do atendimento médico.
11 de setembro de 2008 Oito professores são feitos reféns por índios caingangues em Liberato Salzano, a 388 km de Porto Alegre. Os índios, que pressionam o governo para reformar a escola da aldeia, libertam os professores após dez horas seis das quais os reféns passaram amarrados.