Um grupo de 15 indígenas de três aldeias de Ubatuba (litoral de São Paulo) permanece instalado em frente ao núcleo do Ministério da Saúde, no centro de Curitiba, pelo segundo dia consecutivo, para reivindicar melhorias no atendimento básico de saúde.
Eles chegaram ao local na manhã da quarta-feira (26), depois de viajar mais de mil quilômetros, em três carros particulares. O objetivo é tentar uma conversa com o chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Litoral Sul, Paulo Camargo.
Informados de que o departamento de saúde indígena está fechado até segunda-feira (31), quando Camargo volta de Brasília, eles decidiram acampar no local até serem atendidos. Nesta quinta-feira (27), o grupo se reuniu com o assessor da procuradora Antonia Lélia Sanches, do Ministério Público Federal (MPF), que está em Guaíra, para tratar de questões indígenas locais.
Segundo a assessoria do MPF, ao retornar, possivelmente na sexta-feira (28), a procuradora tomará as providências cabíveis contra a omissão do departamento de saúde indígena.
Segundo o cacique da Aldeia Renascer, Antonio da Silva Awá, o grupo tinha uma reunião marcada com Paulo Camargo há quatro meses, mas ele não teria comparecido.
"Disseram que ele está em Brasília e que volta segunda [31]. Ele mandou o pessoal se retirar do prédio, porque estamos aqui", diz. De acordo com o cacique, as condições de saúde das aldeias Bananal, Piaçaguera e Renascer, onde vivem quase 300 indígenas, são precárias. "Não tem remédio, cortaram a cesta básica das crianças que têm problemas de saúde, crianças morrem na aldeia", conta.
O cacique Awá reclama também da mudança da coordenação da saúde indígena do Litoral Sul de São Paulo para Curitiba que atualmente é sede de cinco estados.
"Dificultou nossas reivindicações. Antes era em São Paulo, não sabemos por que mudou." Segundo ele, a intenção do grupo não era invadir o prédio do Ministério da Saúde ou agir com violência. "Não estamos aqui para perder a razão, queremos diálogo, conversar com ele."
Um funcionário da Funai do litoral paulista que pediu para não ser identificado acompanhava o ato dos índios. "Eles têm autonomia, estamos apenas como observadores." Sem lugar para dormir, os manifestantes ainda avaliariam a permanência em Curitiba por mais dias. "Disseram que o Paulo Camargo só volta segunda, que só haverá expediente aqui na segunda. Se for verdade, não compensa eles ficarem", afirma.
A Gazeta do Povo tentou contato com o Dsei de Curitiba, mas foi informada de que todos os funcionários deixaram o local, ao saberem da "ameaça de uma invasão" indígena. A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde também foi procurada, mas não respondeu os questionamentos da reportagem.
Impasse
Morador da aldeia Renascer, Donizete Machado da Silva, 35 anos, garante que o grupo permanecerá na capital paranaense até ter o problema resolvido ou encaminhado. "O Ministério Público está vendo, eles farão o que puderem. Mas viemos com recursos próprios, não vamos embora antes de conseguir um diálogo." Sem lugar para ficar, o grupo deve dormir pela segunda noite consecutiva em frente ao Ministério da Saúde, na Rua Cândido Lopes.