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Questão indígena

Índios pedem livre trânsito na fronteira

Os ministros da Cultura do Paraguai, Tício Escobar (à esquerda), e do Brasil, Juca Ferreira, são enfeitados pelos índios para participar do encontro | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Os ministros da Cultura do Paraguai, Tício Escobar (à esquerda), e do Brasil, Juca Ferreira, são enfeitados pelos índios para participar do encontro (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
Confira os principais pontos da carta entregue aos governos do Brasil e Paraguai |

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Confira os principais pontos da carta entregue aos governos do Brasil e Paraguai

Diamante d’Oeste - A liberdade de trânsito cultural nas fronteiras do Brasil, Para­guai, Argentina e Bolívia e a pu­­­nição para a discriminação, preconceito e violência são duas das principais reivindicações feitas pelos índios guarani aos governos do Brasil e do Paraguai. Em meio a um evento marcado por rituais, danças típicas e pela presença de caciques e xamãs, eles entregaram ontem aos ministros da Cultura do Brasil, Juca Fer­­reira, e do Paraguai, Tício Esco­bar, um documento com oito reivindicações para a melhoria da condição de vida deles.

A entrega da carta marcou o encerramento do 1.º Encontro dos Povos Guarani da América do Sul, iniciado no último dia 3 na Aldeia Tekoha Añetete, município de Diamante d’Oeste, a cerca de 140 quilômetros de Foz do Iguaçu, com a presença de 800 indígenas do Brasil, Para­guai, Argentina e Bolívia.

Acostumados a transpor fronteiras sem entraves burocráticos, hoje os indígenas se veem barrados e não conseguem ter livre fluxo para visitar parentes que vivem em outros países (veja box com demais pedidos). O ministro Juca Ferreira, que chegou à aldeia com o colega paraguaio Tício Escobar em helicóptero e foi recebido pelos guarani com uma dança de boas-vindas, diz que o governo brasileiro vai atender aos pedidos na medida do possível.

Segundo Ferreira, os Minis­térios da Cultura do Brasil, Para­guai, Bolívia e Argen­tina têm condições de dar retorno a algumas demandas, incluindo a ga­­rantia de realização de outros en­­­contros indígenas. Outras, a exemplo da li­­berdade de transpor fronteiras, dependem do aval do Ministério das Relações Exte­riores. "Vamos propor a in­­­corporação deste tema como item de decisão do Mer­cosul", dis­­­­­­se o mi­­­nistro. Ferreira também assegurou que foi definido um programa de integração e desenvolvimento cultural entre o Brasil e o Paraguai que deverá ser estendido aos guarani.

Para Mário Tupã, um dos líderes dos guarani no Brasil, o encontro foi oportuno. "É a primeira vez que as autoridades apoiam os guarani", diz. O cacique Saturnino Cuellar, da Bo­­­­lívia, diz que é preciso que haja uma lei que proteja os indígenas e seja cumprida. Outra questão que precisa ser discutida é a relativa ao território. "Nossa principal demanda é por terra. Os estados têm de reconhecer territórios ancestrais", diz.

Há 36 anos acompanhando os guarani, o antropólogo da Uni­­versidade de São Paulo (USP) e do Museu Nacional Rubem Tho­­maz de Almeida diz que hoje seria necessário mais de 1 milhão de hectares de terra para suprir a demanda dos índios guarani em todo o país. Almeida enfatiza que não houve interferência dos brancos no encontro. "Isso foi um diferencial. Nunca teve um encontro como esse, a não ser antes da chegada de Cabral", afirma.

Segundo a Comissão Nacional de Terras Guarani, há em todo o território brasileiro cerca de 46 mil índios guarani. A etnia guarani é a maior do país em população indígena. São cerca de 60 mil a 65 mil índios. No Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia a população chega a cerca de 200 mil.

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