Diamante dOeste - A liberdade de trânsito cultural nas fronteiras do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia e a punição para a discriminação, preconceito e violência são duas das principais reivindicações feitas pelos índios guarani aos governos do Brasil e do Paraguai. Em meio a um evento marcado por rituais, danças típicas e pela presença de caciques e xamãs, eles entregaram ontem aos ministros da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, e do Paraguai, Tício Escobar, um documento com oito reivindicações para a melhoria da condição de vida deles.
A entrega da carta marcou o encerramento do 1.º Encontro dos Povos Guarani da América do Sul, iniciado no último dia 3 na Aldeia Tekoha Añetete, município de Diamante dOeste, a cerca de 140 quilômetros de Foz do Iguaçu, com a presença de 800 indígenas do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia.
Acostumados a transpor fronteiras sem entraves burocráticos, hoje os indígenas se veem barrados e não conseguem ter livre fluxo para visitar parentes que vivem em outros países (veja box com demais pedidos). O ministro Juca Ferreira, que chegou à aldeia com o colega paraguaio Tício Escobar em helicóptero e foi recebido pelos guarani com uma dança de boas-vindas, diz que o governo brasileiro vai atender aos pedidos na medida do possível.
Segundo Ferreira, os Ministérios da Cultura do Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina têm condições de dar retorno a algumas demandas, incluindo a garantia de realização de outros encontros indígenas. Outras, a exemplo da liberdade de transpor fronteiras, dependem do aval do Ministério das Relações Exteriores. "Vamos propor a incorporação deste tema como item de decisão do Mercosul", disse o ministro. Ferreira também assegurou que foi definido um programa de integração e desenvolvimento cultural entre o Brasil e o Paraguai que deverá ser estendido aos guarani.
Para Mário Tupã, um dos líderes dos guarani no Brasil, o encontro foi oportuno. "É a primeira vez que as autoridades apoiam os guarani", diz. O cacique Saturnino Cuellar, da Bolívia, diz que é preciso que haja uma lei que proteja os indígenas e seja cumprida. Outra questão que precisa ser discutida é a relativa ao território. "Nossa principal demanda é por terra. Os estados têm de reconhecer territórios ancestrais", diz.
Há 36 anos acompanhando os guarani, o antropólogo da Universidade de São Paulo (USP) e do Museu Nacional Rubem Thomaz de Almeida diz que hoje seria necessário mais de 1 milhão de hectares de terra para suprir a demanda dos índios guarani em todo o país. Almeida enfatiza que não houve interferência dos brancos no encontro. "Isso foi um diferencial. Nunca teve um encontro como esse, a não ser antes da chegada de Cabral", afirma.
Segundo a Comissão Nacional de Terras Guarani, há em todo o território brasileiro cerca de 46 mil índios guarani. A etnia guarani é a maior do país em população indígena. São cerca de 60 mil a 65 mil índios. No Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia a população chega a cerca de 200 mil.