Acampados na Esplanada dos Ministérios, cerca de 80 índios lutam por uma demarcação territorial diferente: eles querem a volta de cargos da Fundação Nacional do Índio (Funai) que foram extintos pelo governo. O descontentamento maior é com a redução das administrações regionais e postos locais da Funai, cujas direções eram ocupadas em sua maioria por representantes da comunidade indígena.
"Não é só uma questão de perda de salário do funcionário. Por que tirar o índio da administração? Sabemos das nossas necessidades, somos capazes de tomar decisões. Não queremos ser apenas guiados", afirmou Raimundo Carlos Guajara, de 38 anos. Ele saiu em abril da sua tribo, no Maranhão, para integrar o acampamento de Brasília e não tem intenção de ir embora.
Publicado em dezembro, o decreto 7056, de 2009, provocou descontentamento imediato entre índios. Das 45 unidades administrativas regionais da Funai, nove foram extintas. Houve ainda redução de postos avançados, localizados nas entradas das aldeias. "Pernambuco tem 42 mil índios. Alagoas, 13 mil. Com a mudança, a administração vai para Alagoas, o que significa que temos de ir até lá para discutir qualquer assunto", afirmou Toponoyê Xukuru, de Pernambuco. "Nossa maior preocupação não é o simples salário do índio. Mas o que isso representa", completou.
Ele afirmou que as coordenações e os postos são locais que índios recorrem para fazer certidões, para reivindicar transporte necessário para fazer mobilizações, para assuntos fundiários. "Ficamos sem poder, ficamos sem interlocução." Desde que a polêmica começou, o presidente da Funai, Márcio Meira, afirma que o decreto foi mal interpretado e que as maiores mudanças foram terminológicas, não de função. Manifestantes não estão convencidos e pedem também a saída do presidente.
O grupo de protesto está acampado na Esplanada dos Ministérios desde janeiro. Sábado, por determinação da 6ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, barracas tiveram de ser retiradas do local. "Daqui não saímos. Podemos dormir no tempo", afirmou Guajara. Manifestantes aguardam que outros índios juntem-se ao grupo. A expectativa é de que, nos próximos dias, ônibus com mais 500 índios cheguem à Esplanada. Procurada pelo Estado, a Funai não se manifestou.
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