Indígenas de várias etnias do Brasil se juntaram às manifestações em Brasília por mais transparência nas eleições e contra decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os protestos ocorrem em vários estados brasileiros, desde o final da apuração do segundo turno das eleições.
"Um grupo de Rondônia veio com 35 caravanas e, fora as mistas que vieram por conta própria, tem mais de 25 etnias espalhadas por aqui, e não têm data para ir embora", disse ontem um dos índios que estava na Esplanada dos Ministérios.
>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram
Além de mostrar indignação contra o resultado das urnas e a corrupção no país, os indígenas, que fazem vídeos e postam nas redes sociais, questionam os bloqueios nas plataformas impostos pelo ministro Alexandre de Moraes contra alguns apoiadores de Bolsonaro.
"Alexandre de Moraes tem tanto poder dos demais órgãos, inclusive em cima das Forças Armadas. Nós, indígenas, sempre falamos que tem uma força por baixo dele que o sustenta, tem alguma coisa e uma hora vai ser descoberto a força que ele tem", disse um dos indígenas de uma etnia de Rondônia que preferiu não se identificar.
O líder xavante Gerson Waraiwe, da terra indígena Sangradouro em Mato Grosso, mostrou que os indígenas estão conscientizados, sabem o que está ocorrendo com o cenário político, especialmente com as medidas consideradas abusivas, praticadas pelo Judiciário. "Esse ato reflete a nossa indignação perante ao STF e o TSE, alguns ministros se colocaram como pessoas constituintes e isso nos revoltou bastante. A justiça se impôs e está tentando ser um Supremo autoritário, tanto é que tá censurando quem fala mal deles, e eles ainda debocham de nós no exterior", disse.
Operação Lava Jato
Com placas dizendo "O BRASIL FOI ROUBADO" e cobrando urnas auditáveis, os indígenas mostraram ainda a sua revolta com a corrupção dos governos petistas. Waraiwe enalteceu a operação Lava Jato, que prendeu políticos e executivos e recuperou mais de R$ 4 bilhões em 5 anos. Segundo ele, a operação inspirou a acreditar em um Brasil melhor.
"Quando avançou a Lava Jato, tínhamos certeza que o Brasil iria pra melhor. O trabalho que a Lava Jato expôs nos fez entender como é importante a participação popular e dos indígenas nesse manifesto", disse.
Para Waraiwe, é difícil considerar a eleição de um "descondenado", que agora está rodeado de outros políticos envolvidos em casos de corrupção. O líder indígena teme inclusive o aumento da violência e os assaltos nas aldeias com a eleição de Lula.
"Eu trabalhei pra comprar um notebook e um celular para o meu filho e o que os bandidos fizeram? Roubaram o meu filho na faculdade e simplesmente levaram. O ex-presidiário agora tá falando que quem rouba celular é pra se sustentar. Tem muito trabalho, mas os bandidos passam fome porque não querem trabalhar, temos que conscientizar e orientar os políticos", explicou.
Índios no exterior e ONGs
Waraiwe também criticou os indígenas que viajam ao exterior para reclamar do Brasil. "Tem umas meia dúzia de indígenas que vai no exterior reclamar do Brasil dizendo que os indígenas estão sendo massacrados e sendo refém, isso é mentira e falácia deles", criticou.
Outra crítica feita pelo líder xavante foi em relação às ONGs que atuam em defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. "As ONGs recebem do exterior, são financiadas por países ricos e não precisam trabalhar, mas quem realmente preserva a natureza, vive bem? Recebem benefício? Quem dirige as ONGs se beneficiam na miserabilidade das pessoas", disse o xavante.
Para Waraiwe, os índios querem viver em condições favoráveis nas aldeias, com a garantia de um futuro melhor para as próximas gerações. "Como produtor nós queremos produzir também, e temos o desejo de acompanhar a modernidade e darmos dignidade para as nossas comunidades", concluiu.
- Índios querem possuir terras e empreender. Mas a lei não deixa
- Indígenas buscam autonomia e prosperidade usando terras para o agronegócio
- “Cadê os Yanomami”: o outro lado do desaparecimento de uma aldeia e da morte de uma criança
- Grupos indígenas buscam apoio para regularizar mineração em seus territórios
- “Sem data para acabar”: um dia entre os manifestantes acampados no QG do Exército, em Brasília
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora