Índios da aldeia de Dourados (MS) afirmaram não estar satisfeitos com a forma com que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo sul-mato-grossense firmaram o acordo sobre a demarcação de reservas na região sul do estado. Líderes da comunidade, uma das mais populosas de Mato Grosso do Sul, reclamaram por não terem sido convidados para o encontro que fixou novas diretrizes para os estudos que determinarão quais as áreas serão demarcadas e, além disso, demonstraram preocupação com os resultados do trabalho.
"A demarcação tem que ser discutida entre três partes: governo, Justiça e indígena", afirmou Getúlio Juca de Oliveira, cacique Kaiowá da aldeia, em entrevista concedida à Agência Brasil na terça-feira (16). "Se o índio não for ouvido, tekohas [locais de convivência tradicional, em língua Guarani-Kaiowá] ficarão de fora das reservas, e o trabalho vai ter que ser feito de novo."
"Quando a gente fica sabendo que vai acontecer alguma coisa, ela já aconteceu", complementou a Alda Silva, que também vive na aldeia. "Os fazendeiros foram a Campo Grande fazer manifestação contra a demarcação. A gente queria ir para pedir nossa terras, mas ninguém deu apoio".Segundo eles, nenhum líder da comunidade foi convocado para o encontro realizado na segunda-feira (15), na sede do governo estadual. Contudo, representantes da Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul), entidade declaradamente contra a demarcação, estiveram presentes.
Oliveira afirmou que a solução da questão fundiária da etnia Guarani-Kaiowá é fundamental para a manutenção da cultura e até para a sobrevivência das comunidades indígenas. De acordo com ele, na aldeia de Dourados, por exemplo, cerca de 13 mil índios dividem uma área de aproximadamente de 3.500 hectares. "O que a gente pode plantar aqui não dá para todo mundo. Depois da colheita, tudo acaba rapidamente e a gente sofre muito", contou o cacique.
Para Oliveira, o pagamento de indenizações a produtores que têm fazendas em terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas, assim como o acordado entre a Funai e o governo do estado, pode até facilitar a demarcação. Ele ressaltou, entretanto, que certamente haverá proprietários de terras que não aceitarão o dinheiro e não sairá por vontade própria dos territórios das reservas, mesmo após os estudos.
O cacique afirmou, porém, que os índios não farão concessões. "Queremos o que é nosso. Onde há nosso tekoha, o fazendeiro pode se preparar pois vamos reivindicar a terra."
Até a publicação desta reportagem, a Famasul não havia se pronunciado oficialmente sobre os resultados da reunião entre governo e Funai.
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