São Paulo e Brasília - A Polícia Federal começará a investigar o vazamento da prova do Enem, oferecida ao jornal O Estado de S.Paulo, usando como primeira hipótese a possibilidade de que a prova tenha sido roubada entre a etapa de impressão das provas e a distribuição dos kits por todo o país. Enquanto isso, o Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pela organização do exame, e o consórcio Connasel, contratado para aplicar as provas, trocaram acusações.Antes mesmo da notícia do vazamento, o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, falava da dificuldade em gerir a logística de um exame aplicado para mais de 4,1 milhões de estudantes em todo o país. Questionado sobre o esquema de segurança nos locais de prova, Fernandes explicou anteontem que a preocupação era com a capilaridade do Enem. "As grandes chances de vazamento estão na gráfica", afirmou em um debate com jornalistas de todo o país, em São Paulo. Ontem, Fernandes voltou a inocentar o órgão que preside. Na avaliação dele, são remotas as possibilidades de alguém do MEC estar envolvido no vazamento. "Ninguém aqui viu a prova, até porque no Inep não existe a versão impressa, e o exemplar que vazou certamente passou por uma gráfica", afirmou.
A Plural Editora e Gráfica Ltda, responsável pela impressão da prova do Enem, emitiu nota ontem à tarde. De acordo com informações da Agência Brasil, afirmou que cumpriu as obrigações relacionadas à segurança e que todos os profissionais envolvidos na operação, inclusive impressores e profissionais de acabamento, assinaram termo de responsabilidade de sigilo. A Plural ainda se dispôs a entregar os 122 DVDs com imagens das diversas fases da produção da prova.
Para o secretário-executivo da FunRio (uma das três empresas que formam o consórcio Connasel), Azor José de Lima, o vazamento tem fim político. "Queriam desestabilizar o ministério. Se fosse um concurso para cargos com salários altos, como muitos que fazemos aqui, poderia haver uma razão comercial, mas vazaram para a imprensa. Queriam melar o concurso. Só pode ter sido por razões políticas", disse ele.
Lima disse que o vazamento das questões das provas dificilmente deve-se a uma falha do consórcio, que é responsável pela logística e aplicação do Enem. "É praticamente impossível vazar de dentro da gráfica, onde tudo é gravado por câmeras de segurança 24 horas por dia. É mais fácil que tenha sido no Inep porque houve contato de mais de um funcionário com os exames", afirmou. Além disso, prossegue Lima, como o consórcio não tinha a atribuição de elaborar as provas, não teve contato com o seu conteúdo. "Nos concursos onde elaboramos as questões há um responsável que acompanha e fiscaliza o trabalho na gráfica. Imagino que esse trabalho tenha sido acompanhado por alguém do Inep", disse ele.
Pistas
Segundo o ministro Fernando Haddad, os primeiros elementos de prova podem estar nas fitas de vídeo que monitoram 24 horas tanto a gráfica, em São Paulo, como a sala de segurança do Inep, em Brasília, onde está guardado o material digitalizado com os exames do Enem. Ao todo, existem 40 funcionários da Diretoria de Logística do Enem, vinculados ao Inep, que em tese tiveram algum tipo de contato com a confecção das provas. Eles serão ouvidos nos próximos dias.
Mas a chave da solução mais rápida do caso está no depoimento dos dois personagens que tentaram vender a prova vazada ao jornal O Estado de S. Paulo. Haddad fez um apelo para que o jornal e a população ajude as autoridades a localizar os suspeitos. Na gráfica Plural, pelo menos 20 funcionários tiveram algum tipo de contato direto com o material e também devem ser intimados a depor. O problema maior, porém, está na ponta de distribuição, porque são milhares de motoristas e operários que participam do processo, o que inclui embalagem do material, carregamento nos caminhões de entrega e a distribuição propriamente dita. A estimativa é que cerca de 400 mil pessoas estejam envolvidas em todo o processo.
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