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Olimpíada e Copa podem piorar problema

A realização de grandes eventos no Brasil nos próximos anos, como a Rio+20 em 2012, a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016, podem aumentar os casos de infecção hospitalar no país, pouco preparado para prevenir e controlar os surtos. Na época dos eventos, milhares de pessoas entrarão no país e o receio dos especialistas é de que os hospitais não deem conta da demanda por leitos e cuidados médicos, acarretando a superlotação, o que favorece o contágio e a disseminação de infecções.

No mês passado, a presidente da Anbio, Leila Macedo Oda, demonstrou preocupação também com o fato de que pessoas das mais variadas etnias entrarão no país de uma só vez, portando mi­­cro-organismos es­­tranhos aos encontrados no país, e defendeu um plano de controle mais eficiente pelas autoridades sanitárias.

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Legislação

Saiba o que prevê a lei a respeito do controle de infecções hospitalares:

Lei 9.431/1997

Cria o Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar (PNCIH), que estabelece que todo hospital deve criar um programa com normas e procedimentos padrão visando ao controle das infecções, e que esse programa será executado pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada hospital. A implantação da comissão e do programa é fiscalizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A instalação de uma comissão e a efetivação do programa pode reduzir os casos em até 30%. A lei foi regulamentada em 1998.

O que determina o programa

A realização de uma pesquisa nacional que forneça um diagnóstico da situação no país, com número de mortes a cada ano, índice de infecção em cada hospital e quantos hospitais instalaram suas comissões.

A implantação de comissões e planos de controle no nível estadual, municipal e dentro de cada hospital.

A elaboração e atualização de material científico e de divulgação sobre o tema.

Prevenção

Conheça dez práticas que diminuem os riscos de infecção hospitalar:

1 Lavar as mãos com água e sabão (de preferência) ou higienizá-las com álcool-gel antes do procedimento.

2 Usar luvas, aventais e máscaras durante os procedimentos que envolvam contato com material biológico.

3 Não utilizar aventais ou jalecos fora do hospital.

4 Esterilizar corretamente instrumentos (como os de vídeo) e locais de cirurgia, quartos e qualquer material utilizado que não seja descartável.

5 Não utilizar o mesmo pano de chão em diferentes locais.

6 Evitar a superlotação, que coloca pacientes infectados em contato direto com não infectados.

7 Trocar constantemente a roupa de cama e dar banho em pacientes sempre que necessário.

8 Ministrar antibióticos apenas quando estritamente necessário.

9 Manejar e armazenar corretamente o lixo hospitalar.

10 Registrar e reportar casos de infecção, assim como procedimentos que não seguiram o protocolo e que podem resultar em contaminação.

Fonte: Anbio, Sociedade Brasileira de Infectologia e Anvisa.

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Totalmente no escuro. Essa é a expressão que melhor define o cenário das infecções hospitalares no Brasil, um mal que mata cerca de 100 mil pessoas a cada ano, segundo dados da Associação Nacional de Biossegurança (Anbio). O controle das doenças adquiridas em ambiente hospitalar no país é precário devido à inexistência de levantamentos nacionais e estaduais confiáveis. Hoje, os brasileiros que se submetem a uma cirurgia ou internam um parente desconhecem os riscos que correm. O monitoramento das infecções é uma obrigação dos hospitais desde 1983, mas somente dois anos depois foi criada uma Comissão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar. Uma outra lei, de 1997, que complementa a dos anos 80, determina, de forma mais clara, que cada hospital crie uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e em seguida elabore e execute um Plano de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH).

No entanto, 14 anos depois, de acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 25% dos hospitais não têm uma comissão ativa, e entre os que possuem, quase metade não tem um plano em funcionamento. Isso impede o registro dos casos e o encaminhamento às secretarias de saúde que, por suas vez, precisam repassar os dados à Anvisa e ao Ministério da Saúde. No Paraná, 28% dos hospitais não enviam seus registros à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

"Existem leis e protocolos de controle. O que falta é vontade política para disseminar [a cultura da prevenção]. Outro problema é a impunidade, pois ninguém cobra e pune se o hospital não registra e repassa os casos" analisa o infectologista Edmundo Ferraz, consultor da Organização Mun­­dial da Saúde (OMS) no Brasil e responsável pela implantação da comissão nacional nos anos 80. Nos EUA e Europa, de acordo com Ferraz, o hospital que é negligente nessa área perde recursos no ano seguinte. O resultado é claro: o índice de infecção nesses países, que gira em torno de 8%, é a metade do brasileiro, que gira em torno de 15% a 19% segundo a Anbio. Para a OMS, esse índice é de 15%.

Conscientização

A infectologista Maria Terezinha Carneiro Leão, que coordenou a CCIH do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e foi chefe da Coordenação Nacional de Controle de Infecção Hospitalar do Ministério da Saúde em 1990, considera alarmante o número de 100 mil mortes/ano estimado pela Anbio, mas crê que o número pode ser muito maior, já que muitos hospitais não notificam. Ela diz que a fórmula para reduzir os índices depende pouco de recursos e mais da conscientização dos gestores.

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Entre as ações, Maria Terezinha cita o treinamento de funcionários para detectar situações que propiciam o surgimento de infecções e a importância de lavar as mãos (que previne em torno de 90% dos casos), a participação ativa da CCIH para evitar a prescrição incorreta de antibióticos e uma busca de dados mais eficiente por parte das autoridades sanitárias. Por fim, a médica sugere mais atenção às UTIs, o local de maior risco de infecções. "Não é fácil, pois o Brasil é imenso, mas também não é impossível e não custa tão caro. Basta decidir dar o primeiro passo, que é se interessar em mudar".

No Paraná, relatório é on-line, mas incompleto

A falta de transparência no controle da infecção hospitalar também persiste no Paraná, embora a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) e a Comissão Estadual de Controle de Infecção em Serviços de Saúde (Ceciss) tenham avançado em relação ao registro de dados, que é on-line e mantém contato direto com o Ministério da Saúde, o chamado Sistema Online de Notificação de Infecções Hospitalares (Sinoh).

Atualmente, os órgãos não divulgam o índice estadual de infecção hospitalar e o único levantamento sobre casos em UTIs é parcial, de junho a dezembro de 2009. Dos 485 hospitais do estado, 72% (ou 350) mandam algum tipo de dado para a comissão por meio do Sinoh, mas apenas 59, ou 12%, tiveram dados inseridos no relatório.

O coordenador da Ceciss, Moacir Pires Ramos, diz que um levantamento geral, que proporcione um índice de infecção hospitalar de todo o estado, não faz sentido, pois cada instituição tem suas particularidades. Para ele, uma pode atender basicamente pelo SUS e outra apenas usuários particulares e planos de saúde; uma pode tratar de pacientes mais suscetíveis a infecções do que outros, como os hospitais de câncer, transplante e especializados em trauma.

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O especialista, que faz parte da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital do Trabalhador, diz que o mais indicado é realizar levantamentos por setor, entre UTIs, centros cirúrgicos e maternidades, e que esse é o caminho que será tomado pela comissão. Ramos afirma que o órgão não divulgará o nome das instituições para evitar ranqueamento e que essa é uma política seguida em todo o país. Atualmente, 12% não têm CCIH instaurada.

Governo precisa cobrar hospitais com mais rigor

Para a Associação Nacional de Biossegurança (Anbio), o primeiro passo para ampliar o controle sobre os números de infecção hospitalar é cobrar os hospitais com mais rigor. A diretora científica do órgão e professora de Bioss­egurança na Universidade Federal da Bahia, Songeli Me­­nezes Freira, defende um maior contato entre os órgãos, com ações "educativas e também punitivas", como impedir hospitais com índices altos ou que não enviam dados de funcionarem enquanto não corrigirem suas ações. Para ela, a transparência é fundamental. Ela defende que a população cobre esses dados para evitar exposição a riscos. "É direito do cidadão conhecer dados desta natureza. E a cobrança deve existir, sem paternalismo"

Selo de biossegurança

Para que os pacientes tenham mais segurança na hora de escolher em qual hospital realizar um procedimento ou internar um parente, a associação lançou no mês passado um Selo de Biossegurança, que certificará os hospitais que cumprem com as normas de controle e prevenção das infecções hospitalares.

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A certificação, que é validada pela International Federation of Biosafety Associations (IFBA), terá duas etapas. A primeira consiste de uma auditoria feita pelo próprio hospital, sob orientações da Anbio. Em seguida, a associação realiza uma segunda auditoria no estabelecimento, para confirmar as informações do relatório recebido e emitir o selo.

O procedimento deve dar segurança também aos profissionais de saúde. Para que o hospital se cadastre para obter o selo é necessário ser afiliado à Anbio. (VP)

Serviço:

Mais informações podem ser obtidas pelo site www.anbio.org.br

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Interatividade

Qual sua opinião sobre as medidas de higiene nos hospitais do Paraná? Elas são satisfatórias? Por quê?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.