O primeiro temporal que atingiu o Paraná desde o fim da seca de inverno, entre segunda-feira e ontem, deu uma amostra do que pode ocorrer nos próximos meses. Em todo o estado, houve estragos causados pelo excesso de chuva que em alguns casos veio acompanhada de granizo e ventos fortes e a previsão é de que essas pancadas ocorram com mais frequência na primavera e no verão por influência do fenômeno El Niño.
Dezenove cidades foram as mais afetadas. Ao todo, 186 mil pessoas sofreram com cortes de energia e alagamentos, e 2,2 mil casas foram danificadas por destelhamentos ou desmoronamentos. Houve 210 pessoas desalojadas: 180 em Manfrinópolis e 50 em Piraquara. Cascavel e Campo Largo foram as cidades com o maior número de pessoas prejudicadas, 120 mil e 54 mil, respectivamente.
A Defesa Civil do estado distribuiu até o fim da tarde de ontem cerca de 32,4 mil metros de lonas plásticas e 10 mil telhas de fibrocimento para famílias prejudicadas pelo temporal em todo o Paraná. A situação mais grave ocorreu em Pinhais, onde 4,5 mil residências foram atingidas.
Em Curitiba, o volume de chuva registrada nesse período foi de 72,8 milímetros, pouco mais que a metade prevista para todo o mês de outubro, que é de 140 milímetros, segundo o Instituto Tecnológico Simepar. Para efeitos de comparação, até domingo havia chovido 38,4 milímetros. A chuva foi tão intensa que os lagos do Parque Barigui não deram conta da vazão das águas e transbordaram, inundando a nova passarela do local. Para passar pelo trecho, só de barco. Os maiores registros de chuva ontem ocorreram em Guarapuava com 119,2 milímetros (mm), Palmital, 94,8 mm, e Toledo, 77,2 mm.
Mais água
Pelo menos até dezembro, o Paraná, assim como outros estados do Sul, deve registrar chuvas acima da média, que podem ocorrer de forma irregular, alternando dias de temporais e chuvas fracas. Segundo a meteorologista Sheila Radmann da Paz Rivas, do Simepar, é natural que a primavera chegue com um aumento no regime de chuvas, condição que é acentuada neste ano por causa da ocorrência do El Niño, que traz mais umidade para a atmosfera. "Além da própria instabilidade das frentes frias, há esse incremento de umidade proveniente da situação do El Niño. A tendência é de que as frentes frias se tornem mais ativas e intensas", explica.
O meteorologista André Madeira, do Cimatempo, explica que a previsão é de que o El Niño seja um fenômeno de menor duração e intensidade neste ano. "Ele ainda não está estabelecido, mas a tendência é de que chova mais e as temperaturas fiquem ligeiramente acima da média", diz.
Em Pinhais, fila para conseguir lona
A dona de casa Geny Antonio Gonçalves, 76 anos, era uma das 57 pessoas que aguardavam na fila do serviço de atendimento aos atingidos pela chuva, ontem pela manhã, no barracão da Secretaria de Obras de Pinhais. Com a senha número 36, ela estava há uma hora na fila à espera de uma lona ou o que fosse possível doar para resolver o problema da filha e das duas netas.
Vizinhas na vila Autódromo, elas foram surpreendidas com a queda de granizo na segunda-feira. A cobertura da casa da jovem ficou completamente danificada, sem possibilidade de permanecer na residência. "Moro há 40 anos em Pinhais e nunca vi uma coisa dessas", disse.
Conforme o responsável pela Defesa Civil, Lukala Nóbrega, foram dez minutos de granizo, por volta das 18 horas, e chuva intensa a partir da 1 hora da madrugada. Ontem cedo, a chuva voltou a cair, dificultando a vida de quem tentava cobrir o telhado com lona (foto).