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Não há dúvidas sobre a existência do Peabiru – o caminho que foi criado e usado pelos índios. O traçado original, entretanto, ainda é uma incógnita. Sabe-se que os caminhos ligavam uma tribo a outra, mas que sofreram modificações ao longo dos anos com a chegada dos dominadores espanhóis, dos tropeiros e dos bandeirantes. Todos eles podem ter usado o trajeto, entretanto, também podem ter aberto outros ramais que até então não existiam, deturpando o que originalmente é o Peabiru. O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Caminho de Peabiru na Comunidade dos Municípios de Campo Mourão (Necapecam) tem trabalhado para conseguir levantar mais informações sobre o caminho e ainda sobre como viveram esses índios.

Só na região do Guairá havia mais de 14 reduções jesuíticas que foram criadas para catequizar os índios. Os padres usaram o Peabiru para se locomover, mas podem ter aberto outras estradas. Há, inclusive, erros de interpretação por parte dos espanhóis sobre o autoria do caminho. Os índios falavam na língua deles em Sumé, um herói civilizador. "Na mitologia dos índios, são pessoas que surgem com conhecimentos além do que eles têm e, por isso, passam a transmitir a sabedoria a eles. Uma dessas figuras era Pai Sumé, que foi interpretado pelos jesuítas como o evangelizador apóstolo São Tomé. Há um erro de interpretação", explica o professor Igor Chmyz. Os padres entenderam que São Tomé teria construído o caminho para vir pregar a palavra de Deus nas longínquas terras e, assim espalharam a informação.

Além das reduções, vieram as tropas do Rio Grande do Sul até São Paulo. O Paraná servia de passagem e invernadas, para que o gado que percorreu grandes distâncias pudesse descansar. Neste momento os caminhos ainda são usados, mas provavelmente não na forma original. Também aparecem os bandeirantes, que destruíram grande parte das reduções em busca de índios para escravizar.

Na metade do século 18 começam as tentativas de conquista dos campos de Guarapuava pelos portugueses. "É mais um período em que são traçadas novas picadas à procura dos campos. A conquista acontece mesmo somente no século seguinte, quando foi fundada a atual cidade de Guarapuava. Então começa a divisão territorial para os criadores de gado", explica Chmyz. Uma iconografia que resultou do relatório da conquista dos campos de Guarapuava, recentemente encontrada em um museu na Europa, mostra as representações das casas dos índios – e onde as aldeias estão pintadas existe o caminho, que é o Peabiru.

A viagem mais recente ao caminho, em 1896, feita pelo general Antonio Carlos Muricy, mostra que durante o percurso ele foi assinalando as aldeias indígenas que encontrava. "Isso quer dizer que até o final do século 19 os Jê estavam na região, dominando-a", afirma o professor. Hoje existem no Paraná apenas resquícios do caminho, que desapareceu com as plantações de soja e o uso do arado. Também há tribos mais novas que vivem no Paraná – eles são descendentes do tronco Macro-Jê, chamados de caingangues. Em Santa Catarina, outra geração dos índios Jê são os xokleng.

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