Que fator mais atrapalha a permanência do jovem na escola? Como erradicá-lo?
Não existe um grande vilão do abandono. Temos alguns fatores que, quando associados, aparecem com grande peso na decisão do abandono. Por exemplo, a defasagem idade/série, associada à necessidade que o jovem de baixo poder aquisitivo tem de trabalhar, parece ser o fator motivador de boa parte dos alunos que abandonam o ensino médio. Mas não podemos afirmar que todos os alunos que trabalham sairão da escola. O problema é que, com o avanço da idade, os interesses dos jovens se diversificam e, para boa parte deles, a escola pública deixa de ter algum atrativo.
Como se dá a influência dos pais entre os jovens?
A influência dos pais na educação dos filhos é um fator extremamente importante na educação básica, inclusive no ensino médio. Na Psae, conseguimos verificar que a exigência dos pais por frequência, boas notas e bom comportamento ajuda a evitar que o aluno abandone a escola.
Qual é o papel do currículo nesse cenário? Se fosse mais vocacionado e enxuto, poderia ajudar a minimizar a evasão?
Essa é uma hipótese que tem estado em voga nas redes de discussões acadêmicas e reuniões cujo destaque é o ensino médio, mas ainda sabemos pouco ou quase nada sobre o impacto que o currículo vai causar no abandono. De fato, nos parece que o currículo do ensino médio é muito extenso e ambicioso. A complexidade percebida decorre do fato de que cada professor acredita que sua disciplina tem uma importância fundamental na formação do aluno e, por outro lado, cada político ou entidade de classe acredita que é possível resolver todos os problemas sociais apenas introduzindo um novo componente curricular no ensino médio. O último a dar palpite é o adolescente ou o jovem. Os alunos entrevistados na Psae afirmam que se interessariam mais pelos estudos se os conteúdos fossem mais direcionados, se os professores interagissem mais nas aulas, tornando-as mais contextualizadas e interativas, pois estão saturados pelo modelo de aula em que seus professores entram em sala e utilizam recursos didáticos tradicionais e descontextualizados com sua realidade.
O ensino médio brasileiro é muito diferente do de outros países?
O ensino médio brasileiro, nas palavras do professor Cláudio Moura de Castro, "é como jabuticaba, só tem no Brasil!". Nós não saberíamos dizer qual modelo poderíamos copiar de outro país, pois não há uma receita a ser seguida. Podemos desejar, mas não seria factível copiar o modelo finlandês, por exemplo. Vivemos num país com uma série de particularidades, seja a legislação, contratos de trabalho, falta de profissionais aptos para o ensino, carências e diferenças sociais enormes. Por isso, a melhor maneira de ter um ensino médio que possa se tornar mais atrativo seria estudar e repensar não um modelo, mas diferentes modelos adequados às diferentes necessidades dos alunos. É preciso dar mais flexibilidade para que o jovem escolha o seu caminho de acordo com os seus interesses.
Vocês foram até a casa de alunos que haviam abandonado a escola e concluíram que até mesmo questões muito básicas, como ter luz em casa, influencia os números da evasão. Como foi a experiência de ter esse contato tão próximo com esses estudantes?
Tanto a luz quanto o filtro são variáveis indicadoras da condição socioeconômica da família do aluno usadas na investigação da base de dados da Pnad. Utilizamos essas variáveis, pois as julgamos satisfatórias para medir a condição socioeconômica do aluno.
No Brasil, a participação dos alunos nas decisões da escola ainda é pequena. Como atraí-los a partir de uma gestão democrática?
A Psae identificou que os jovens querem uma escola diferente. Pensar meios de inová-la é muito importante. Incentivar o aluno a participar mais das decisões é uma forma de envolvê-lo no processo de mudanças tão desejadas, além de um estímulo à participação cidadã.
Qual é o papel do Enem nesse contexto?
O Enem está concebido para avaliar o aluno exatamente naquele mínimo de qualidade desejada para os grandes componentes curriculares e suas tecnologias, avaliando as competências e habilidades cognitivas necessárias para o mundo moderno. A utilização dele como um teste para a seleção para as universidades tem duas importantes implicações: a primeira é que padroniza os conteúdos exigidos para as diferentes universidades, democratizando-se o processo de entrada. A segunda é que, a partir dele, cada aluno e cada escola tem uma referência curricular mínima para se organizar. Esperamos que o Enem ajude a organização do ensino médio, servindo de referência para que as escolas estabeleçam metas de abrangência curricular e qualidade.
Qual o melhor jeito de usar a tecnologia no ensino?
As tecnologias permitem a facilitação do aprendizado e, certamente, cada vez mais estarão presentes nas escolas. Elas potencializam e facilitam o trabalho dos professores. A grande maioria dos adolescentes, mesmo os de classes sociais mais baixas, está conectada à internet e nós utilizamos pouco esses recursos para nos comunicar com os alunos ou ainda estimulá-los a realizarem pesquisas e estudos. Por outro lado, não podemos achar que as tecnologias sejam uma panaceia e substituam o ensino tradicional completamente.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora
Deixe sua opinião