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Entrevista

Influenciadora “antifeminista” abandona carreira artística e dedica-se ao ativismo conservador

A influenciadora Pietra Bertolazzi aborda em seus canais digitais temas como feminismo e doutrinação ideológica em sala de aula (Foto: Divulgação)

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A influenciadora digital conservadora Pietra Bertolazzi, de 35 anos, que se intitula antifeminista, passou por uma grande mudança em sua vida nos últimos anos. Abandonou a carreira de DJ, que a levou a tocar nos principais eventos de música eletrônica do Brasil, decidiu dedicar-se ao ativismo conservador e tornou-se alvo constante da esquerda. Ao abordar temas como as contradições do feminismo e a doutrinação política em sala e aula, ela atraiu a ira de militantes na internet.

Após seu perfil verificado no Instagram ter recebido massivas denúncias de “discurso de ódio”, perdeu sua conta com cerca de 200 mil seguidores. Pietra também já foi alvo de um abaixo-assinado organizado por ativistas feministas, com aproximadamente mil assinaturas, que pediam sua demissão do seu antigo emprego por ter feito uma publicação em que questionava a manipulação estatística e retórica sobre dados relacionados ao feminicídio.

Após fazer denúncias nas redes sociais de casos de doutrinação ideológica em escolas, começou a receber contatos de dezenas de famílias com cada vez mais relatos. A partir daí, decidiu investir na criação de conteúdo para orientar pais e alunos a entender como se dá a cooptação política em sala de aula.

Confira a entrevista exclusiva de Pietra Bertolazzi à Gazeta do Povo:

Há alguns anos você era DJ e tocava na noite, e agora é influenciadora digital focada em temas conservadores. Como ocorreu essa mudança?

Pietra Bertolazzi: O pessoal adora falar que eu sou DJ, principalmente a imprensa, quando publica algo sobre mim para me descredibilizar. A verdade é que não sou DJ há uns cinco anos. Eu trabalhava com moda, área em que sou formada. Deixei a moda para abraçar a carreira de DJ, aí conheci o pai da minha filha, começamos a namorar e decidimos engravidar. Quando engravidei, decidi deixar a noite.

Naquela época, eu já atuava bastante no terceiro setor. Através desses trabalhos, o Filipe Sabará [ex-secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo] me chamou, no final de 2018, para compor a equipe dele quando foi chamado para integrar o governo do [João] Doria.

Aí me entreguei totalmente. Eu gostava de política, já me enxergava como de direita, mas não tinha tido contato com nenhum autor conservador, nem aprofundado nesses conhecimentos. Fui colocada numa diretoria em que eu cuidava de projetos que visavam a melhoria da vida de mulheres em situação de vulnerabilidade – que tinham sofrido violência, que haviam sido diagnosticadas com câncer e egressas do sistema prisional, por exemplo.

Naquela época, comecei a mexer muito com números e dados. Peguei dados do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] e cruzei com outros dados do Mapa da Violência. A conclusão era que duas vezes mais homens eram mortos por crimes passionais em comparação com mulheres. Fiz uma publicação sobre isso e, a partir daí, a militância feminista caiu em cima. Fizeram um abaixo-assinado, para que eu fosse demitida do governo. Depois que isso passou, comecei a me engajar mais. A partir daí, muita gente da direita se aproximou e comecei a me aprofundar mais e a entender todo o contexto da guerra cultural em que estamos. Comecei tentando jogar luz a algo que eu considerava errado e acabou dando nisso.

Então foi da indignação com essa reação agressiva que surgiu o interesse em conhecer mais sobre o feminismo e apontar suas incoerências?

Pietra Bertolazzi: Sim. Quando teve esse cancelamento, eu pensava: “Meu trabalho é fazer coisas por mulheres em situação de vulnerabilidade, e algumas mulheres querem que eu perca o meu emprego”. Aí comecei a duvidar das intenções das feministas. A hipocrisia da atitude daquelas mulheres que diziam defender outras mulheres foi o que me chamou a atenção.

Como eu ainda não entendia a fundo o que era conservadorismo, comecei a querer estudar, a ir atrás para entender tudo e nisso as coisas foram evoluindo. Conheci pessoas como a Thais Azevedo e a Ana Campagnolo e descobri que já existia um movimento que era contra o feminismo.

Nisso, comecei a pensar em tudo o que tinha visto na minha vida inteira e, conforme eu ia estudando o movimento, fui entendendo que eu tinha sido um “produto” do feminismo minha vida inteira. Eu praticamente agi boa parte da vida como se eu fosse uma feminista - mesmo sem me rotular como tal -, e tudo por ignorância. Então, o feminismo foi a primeira pauta que comecei a lutar contra, porque vi como fez mal para mim e o quanto eu tinha caído em situações que, indiretamente, o feminismo tinha me influenciado e que eu preferia não ter vivido.

Eu sempre falo que essa é a pauta progressista mais perigosa que se tem hoje, porque ela entra de forma muito sorrateira na vida das mulheres. Pelo meu próprio exemplo, a gente começa a abraçar atitudes que nunca teríamos e a gente não sabe de onde vem – elas vêm dessa influência feminista.

Você já teve um perfil verificado derrubado pelo Instagram, correto? O bloqueio da conta está relacionado a essa perseguição política?

Pietra Bertolazzi: Sim. Perdi uma conta verificada no Instagram com 220 mil seguidores. Minhas publicações já tinham sido alvo de várias denúncias - principalmente das feministas. Em uma postagem em específico, em setembro de 2021, teve uma avalanche de denúncias e caiu minha conta.

Aí criei outra. Mas, no carnaval deste ano, hackearam meu celular e nisso conseguiram acessar meu Instagram e desativaram a conta. Eu imagino que tenha a ver com a perseguição política também, porque não faz sentido terem feito isso para apagar a conta. Estou na terceira conta agora.

Outra pauta que acabou se tornando importante para você é a doutrinação ideológica nas escolas. Como sua atuação nesse tema começou?

Pietra Bertolazzi: No ano passado, uma mãe me procurou para falar sobre uma situação que estava acontecendo numa escola de São Paulo, com uso de alguns materiais didáticos inadequados para a idade das crianças. Fiz essa denúncia em vídeo e a partir daí muitos pais começaram a me contatar. Com as novas denúncias, comecei a entender que os pais não tinham ideia do que estava acontecendo nas escolas. Naquela época eu já tinha um conhecimento relativamente bom sobre os temas que abordava, já tinha estudado sobre o gramscismo, a escola de Frankfurt, Paulo Freire, mas aí passei a me aprofundar mais em como, de fato, ocorriam essas doutrinações, principalmente no âmbito das escolas privadas.

Com os e-mails que recebia com denúncias, nada mais me surpreendia sobre o que ocorria dentro de algumas salas de aula, porque era tudo acontecendo como um padrão – as mesmas pautas: ideologia de gênero, feminismo, banheiro trans, professor fazendo propaganda positiva ou negativa de determinados políticos. Como começou a ser mais do mesmo, pensei que era preciso explicar para as famílias e os alunos o que está rolando.

Foi aí que decidi criar o curso "Doutrina Zero". No curso, eu separo a doutrinação em três pilares da educação, que considero que são as instituições de ensino, a cultura e as mídias. Entendendo o que está acontecendo nesses três lugares, você começa a fazer um link entre as coisas.

Então vou desde a Grécia Antiga para explicar como era o ensino, mostro a evolução histórica, o ensino no Brasil desde os jesuítas. Explico desde o começo também as ideologias marxistas, o gramscismo, a doutrinação soviética. Me apoio muito nas questões soviéticas. Antes mesmo do Gramsci, a União Soviética já tinha tudo isso muito bem estruturado. E quando olhamos para cá, no governo do próprio Getúlio Vargas, a forma como ele inseriu as pautas de educação são totalmente soviéticas.

Então pego a cartilha soviética de ensino, comparo com a nossa para as pessoas entenderem de onde vem determinados conceitos. E mais à frente, em outros módulos, aprofundamos nas pautas pontuais que considero que estão sendo muito disseminados, como o feminismo e a ideologia de gênero.

O objetivo do curso é que os pais aprendam a escolher boas escolas para seus filhos ou a supervisionar o que acontece nas escolas?

Pietra Bertolazzi: Os melhores feedbacks que tenho são de pais e mães que fazem o curso junto com seus filhos. Ele serve tanto para mães que não têm ideia do porquê são erradas determinadas posturas em sala de aula, mas também para os alunos.

No caso da escola Avenues, além da coragem do aluno, ele entendia do que estava falando. Você não pode questionar um professor sem saber o que está falando. É importante que os pais saibam o que está sendo falado, para que apoiem essas crianças, e [no casos dos] estudantes é importante que saibam como estão sendo doutrinados.

O que vai ajudar os pais a escolherem uma escola é saber se aquela escola está apoiando determinado comportamento dos professores ou não. No caso da Avenues, você vê que a escola endossou o comportamento do professor. Ele não vai ser mandado embora e “se você não gostou, que troque seu filho de escola”.

Os pais precisam aprender a identificar os posicionamentos das escolas e entender quais sinais precisam ser levados em conta ao escolher uma escola. Até em boas escolas algum professor pode insistir em tratar de temas inadequados. A diferença é quando os pais forem reclamar à direção, ela vai tomar providências.

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