Uma nova aposta para combater o vírus da dengue foi lançada ontem pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. O método consiste em infectar os mosquitos transmissores com a bactéria Wolbachua, que bloqueia o vírus no Aedes aegypti, impedindo sua transmissão ao ser humano. As gerações seguintes do inseto também já nascem infectadas pela bactéria, acabando pouco a pouco com a proliferação da doença. Este é o primeiro teste no continente americano. Austrália, Vietnã e Indonésia já têm pesquisas em andamento.
Os pesquisadores explicam que como o método se torna autossustentável, o Aedes Wolbachia ganha predominância na natureza, sem que os pesquisadores precisem liberar insetos contaminados a todo momento. Registros feitos na Austrália, por exemplo, deram resultados em cerca de 10 semanas.
"Estamos diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população", pontuou o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil. Ele integrou a equipe de cientistas que fez as descobertas na Austrália, em 2008.
Plano de ação
No Brasil, uma média de 10 mil mosquitos serão lançados semanalmente na natureza durante quatro meses. O primeiro local escolhido foi Tubiacanga, na Ilha do Governador (RJ). Os próximos a receberam a infestação dos insetos também já foram selecionados: os bairros da Urca e Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niterói. Para apaziguar o incômodo causado pela quantidade de mosquito, a secretaria municipal de Saúde trabalha em campanha para eliminar os criadouros.
O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil foi lançado no Rio de Janeiro, em 2012. Nesses dois anos, os pesquisadores capturaram Aedes aegypti nos locais que servirão de testes, estudaram essas regiões e criaram os mosquitos contaminados em laboratório. Depois de lançados em Tubiacanga, os cientistas poderão avaliar a capacidade dos mosquitos com a bactéria se estabelecerem no meio ambiente e se reproduzirem com os mosquitos locais.
Cautela
Apesar do avanço, o doutor em virologia e doenças parasitárias e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Denis Bertollano alerta que ainda é muito cedo apostar todas as fichas em um experimento para conter uma doença como a dengue. Para ele, no Brasil, um país continental, mesmo que os testes alcancem 100% de eficácia, levará tempo para que a solução chegue a todos os municípios e consiga dizimar o vírus. "A vacina seria algo rápido, como ainda está apenas em fase de teste, a prevenção da população continua sendo o remédio. Métodos como estes testados pela Fiocruz precisam ser vistos para o futuro, não é algo imediato."
Neste ano, no Brasil, foram registradas 511.080 notificações de janeiro a 9 de agosto de 2014, de acordo com o Ministério da Saúde 295 pessoas morreram. A Região Sul é a quarta em número de casos (24.432 ou 4,8% do total). Já o Paraná registrou 18.824 casos e 9 mortes até julho. No atual levantamento, que corresponde ao período de 31 de agosto a 4 de setembro, são 1.928 notificações, 48 confirmações e nenhuma morte.
Maringá mostra interesse em participar do teste
Maringá, no Noroeste do Paraná, enfrenta uma epidemia de dengue neste ano. Até o momento, são 3.588 casos confirmados, 7.486 notificados e 3 mortes pela doença, de acordo com a secretaria municipal de Saúde. Alarmados com o problema, os vereadores lançaram até uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as responsabilidades do problema.
Como conclusão, o relatório concluiu que a "ineficiência nos serviços de limpeza e de prevenção da proliferação de focos do mosquito por parte da prefeitura" é a principal causa da epidemia. Diante da situação, o secretário municipal de Saúde, Antônio Carlos Nardi, diz que o método utilizado pela Fiocruz seria muito bem vindo no município.
"Sabemos que por enquanto é um estudo e ele precisa evoluir. É necessário que o resultado seja positivo também em grande escala, e é claro que seria muito bem vindo para podermos conter a proliferação aqui [em Maringá]. Temos interesse, vamos aguardar", ressaltou.
Embora a ciência venha trabalhando constantemente para conter ou liquidar o mosquito, Nardi lembra que a população não pode se descuidar da prevenção. "Enquanto não houver conscientização e mudança de comportamento, continuaremos a sofrer com a dengue."
Nesta semana, a prefeitura de Maringá, em parceria com a Unimed, lançou a campanha "Plantando Saúde", em que 10 mil mudas de citronela, planta utilizada como repelente do mosquito, serão entregues à população para reforçar os cuidados contra o mosquito.