| Foto: Sossella

O inquérito sobre a morte de duas pessoas durante o confronto entre integrantes do Movimento Sem-Terra (MST) e seguranças na fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, foi criticado pelo advogado Hélio Ideriha Júnior, que defende os seguranças no processo, e pelo deputado estadual Élio Rusch (DEM) na tribuna da Assembléia Legislativa do Paraná nesta quarta-feira (21).

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O inquérito foi concluído na semana passada e encaminhado para a Justiça. Nesta quarta-feira (20) completam 30 dias do tiroteio que terminou com a morte de um segurança e um sem-terra. O inquérito, feito pelo Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), pede o indiciamento de 11 pessoas - nove seguranças, o dono da empresa de segurança, Nerci Freitas, e o líder da Via Campesina Celso Ribeiro.

O parlamentar afirmou que não houve imparcialidade nas investigações conduzidas pelo Cope. "É lamentável que a Polícia chegue a essa conclusão", disse Rusch. Já o advogado Ideriha classificou o documento como "uma piada" e espera que o Poder Judiciário determine diligências para apurar novamente, e de forma imparcial, o caso.

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O indiciamento é por crimes diferentes - os seguranças e o dono da empresa foram indiciados sob as acusações de homicídio, formação de quadrilha e tentativa de homicídio. O sem-terra Celso Ribeiro responderá por invasão à propriedade alheia (esbulho possessório).

Ideriha classificou o inquérito como extremamente parcial. Na visão dele, o indiciamento de Celso Ribeiro é uma fachada - serve apenas para dizer que um sem-terra foi indiciado. Ideriha questiona e critica a atuação do Cope por identificar apenas o segurança que matou o líder da Via Campesina Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun. O advogado não divulgou o nome do acusado. Ao longo dos quase 30 dias que durou a investigação, a polícia não conseguiu identificar o integrante do MST que atirou e matou o segurança Fábio Ferreira, de 25 anos.

Ideriha contou que alguns integrantes do MST que participaram do confronto armado foram reconhecidos pelos seguranças, mas nenhum aparece no inquérito. Outra crítica feita pelo advogado é que o Cope não conseguiu encontrar nenhuma arma utilizada no confronto pelos sem-terra.

Presente na cerimônia religiosa que marcou um mês do confronto, nesta quarta-feira em Cascavel, o coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, Celso Ribeiro, se recusou a fazer qualquer comentário, alegando que não conhecia o teor do inquérito e que os advogados do movimento é que acompanham o caso.

A Promotoria de Cascavel, no Oeste do estado, ainda não recebeu o inquérito - o que deve acontecer nesta quinta-feira. O advogado, no entanto, espera que a justiça determine novas diligências para apurar o que o Cope não incluiu no inquérito.

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Por telefone, o delegado do Cope, Renato Figueroa Bastos, responsável pela investigação, informou que não iria comentar nada relacionado ao inquérito. "Só vou me pronunciar se a secretaria da Segurança Pública do Paraná achar oportuno", disse. A assessoria da secretaria, por sua vez, resumiu: "o Cope finalizou o inquérito e encaminhou ao Poder Judiciário".

O Cope entrou no caso quatro dias depois do confronto. A explicação do secretário Luiz Fernando Delazari, na época, foi que o Cope entraria "para evitar interferências locais no caso".