Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
segurança pública

Inquérito sobre mortes em série segue aberto

Martins, acusado pelos crimes, ao deixar a prisão em 2011 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Martins, acusado pelos crimes, ao deixar a prisão em 2011 (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Favela da Rocinha, bairro Boqueirão, Curitiba. Na madrugada fria de 8 de agosto de 2010, a conversa de três jovens foi interrompida a tiros, próximo a uma ponte de madeira, ao fim da Rua Cleto da Silva. Dois deles foram atingidos e morreram no local. O outro também foi baleado, mas conseguiu escapar. Horas depois, um casal foi executado a poucas quadras dali.

Esses foram os dois primeiros de cinco ataques atribuídos pela Polícia Civil ao ex-comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Jorge Luiz Thais Martins, que chegou a ficar preso por 19 dias. Mesmo três anos depois das primeiras mortes, o inquérito está longe de ser concluído. Nesse meio tempo, três testemunhas foram executadas.

Em comum, as vítimas dos assassinatos imputados a Martins eram usuárias ou estavam em pontos de consumo de drogas. Em 2009, o filho dele havia sido morto em uma tentativa de assalto no Boqueirão, por jovens sob efeito de entorpecentes.

A Delegacia de Homicídios chegou a concluir as investigações em novembro de 2011, indiciando o coronel. A polícia se embasou no depoimento de moradores e em reconhecimentos feitos ao longo das investigações, além de exames periciais – dois dos ataques foram cometidos com uma mesma arma.

Entretanto, o Ministério Público (MP-PR) determinou que a delegacia fizesse mais dez novas diligências e que investigasse dois policiais militares que atuaram na região da Rocinha. O caso pouco avançou. O prazo já foi renovado por três vezes, mas não há previsão para a conclusão dos trabalhos.

Feridas

Hoje, tanto o coronel Martins quanto os moradores da Favela da Rocinha lutam para cicatrizar as feridas deixadas pela série de mortes. Mais magro, o ex-comandante dos Bombeiros oscila entre a tristeza e a indignação. Fica vermelho e trêmulo ao falar das acusações, da prisão e do sofrimento enfrentado pela família.

"Quando isso vai acabar? Por que fizeram isso [as acusações] para mim, se eu nunca estive na Favela da Rocinha? Eu me pergunto isso todos os dias", diz o coronel.

Paralelamente, Martins tenta levar uma vida normal. Tem canalizado suas atenções aos netos, de 3 e 6 anos, com quem gosta de andar de bicicleta. Também tem passado mais tempo em sua casa de veraneio em Guaratuba, onde costuma cozinhar para os amigos. Apesar disso, o coronel enfrenta dificuldades constantes para dormir – embora se negue a tomar remédios para isso – e evita ir a locais públicos.

Para se distrair, a mulher dele, Graça Martins, tem ministrado palestras voluntárias a adolescentes gestantes. O casal sonha ver o caso arquivado e, com o dinheiro de indenizações, quer construir uma creche. "A gente tenta recompor os caquinhos, mas enquanto a verdade não vier à tona, vai ser difícil", disse.

Crimes

Três testemunhas do caso foram assassinadas

Com o inquérito em aberto, pelo menos três pessoas relacionadas à série de mortes foram assassinadas na Favela da Rocinha. A polícia descarta a hipótese de "queima de arquivo" e evita vincular essas mortes aos casos atribuídos ao coronel Martins. Esses três homicídios ainda não foram elucidados.

Entre os mortos, está Marcos Roberto de Souza Colaço, que era conhecido como "Demarco" ou "D2". Ele e a namorada foram mortos a tiros em fevereiro do ano passado, dentro de casa. Demarco havia sido baleado no primeiro ataque imputado ao coronel. A outra testemunha assassinada é Aderbal Batista Teixeira, executado na porta de um bar, em junho de 2011.

Defesa

Os advogados do coronel, Sílvio Micheletti e Marilde Camargo, lamentam a morte de testemunhas, pois acreditam que elas poderiam ajudar a reconhecer o verdadeiro assassino. A defesa tem insistido à polícia para que se faça uma reconstituição simulada dos ataques, com as testemunhas ouvidas no inquérito. Os advogados argumentam que o procedimento ajudaria a elucidar as circunstâncias em que estavam as testemunhas, quando afirmaram terem visto Martins na cena dos crimes.

Martins e os advogados também questionam algumas etapas das investigações, especialmente o reconhecimento pessoal, em que sete testemunhas apontaram o coronel como autor dos ataques. Alegam que as pessoas foram induzidas. "Foi carta marcada", reclama o ex-comandante dos Bombeiros. A Delegacia de Homicídios refuta as suposições e informou que os procedimentos foram gravados em vídeo e acompanhados pelo MP-PR.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.