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Muralhas altas para impedir a invasão de inimigos; torres de vigilância elevadas que permitam a observação de tudo o que está acontecendo aos pés da edificação e que possa representar uma ameaça; portões duplos para garantir mais segurança. Essa descrição pode muito bem ser a de um castelo medieval – fortaleza construída para impedir a entrada de exércitos conquistadores. Mas na verdade refere-se a algumas casas, edifícios e condomínios contemporâneos das grandes cidades. A violência urbana tem feito com que as edificações modernas incorporem soluções arquitetônicas da Idade Média – época histórica marcada pelo constante risco de guerras e de invasões às cidades.

"Na Idade Média, as cidadelas se fortificavam para evitar a invasão de bárbaros", afirma a arquiteta Sônia Ferraz, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). "Hoje, as pessoas tentam defender suas casas por causa da crise da segurança pública", acrescenta.

Sônia coordena uma pesquisa sobre a relação entre a violência e a arquitetura. Uma das conclusões do estudo é justamente a de que está ocorrendo uma incorporação, nas construções atuais, de elementos medievais de proteção, tais como as muralhas, torres de vigia, paliçadas, seteiras, portões duplos e até mesmo de fossos (veja infográfico). A pesquisa da UFF está sendo realizada no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas em Curitiba já é possível observar residências e condomínios com alguns desses elementos, em bairros nobres.

O arquiteto Sílvio Parucker, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda. "Em certo sentido é uma volta à Idade Média, quando as comunidades estavam enclausuradas em feudos", diz ele. Segundo Parucker, existe uma tendência moderna de as pessoas se fecharem em suas casas por considerarem o ambiente externo ameaçador, sobretudo à noite. "Os muros altos e os condomínios fechados são exemplos disso", diz o arquiteto.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon), Júlio Araújo Filho, confirma que a procura por condomínios fechados tem crescido nos últimos anos, motivada sobretudo pela questão da segurança. "É um dos poucos setores da construção civil que estão pujantes." Segundo ele, os compradores de imóveis também têm exigido cada vez mais sistemas de segurança.

Penitenciárias

A professora Sônia Ferraz afirma ainda que, por conta da insegurança pública, também estão sendo incorporados às residências sistemas de proteção adotados em penitenciárias. As grades nas janelas – que servem tanto para impedir fugas como para evitar invasões externas – são o exemplo mais comum. Mas outros elementos começam a aparecer, como o arame farpado ou rolos de "arame-ouriço" colocados sobre os muros. Esses rolos estão tornando-se extremamente comuns em bairros curitibanos como o Jardim Botânico. A tecnologia eletroeletrônica igualmente tem permitido uma profusão cada vez maior de alarmes, cercas elétricas e sistemas de monitoramento por câmeras.

O arquiteto Humberto Mezzadri, professor de Arquitetura da UFPR, observa ainda que o medo tem provocado mudanças significativas nas características arquitetônicas de Curitiba. "Era comum casa com uma cerquinha de madeira ou com um muro baixo. Hoje, vemos muralhas, grades", diz Mezzadri. Outro elemento que vem sendo esquecido são as varandas na frente das casas. Segundo o arquiteto, até a década de 60, eram comum as pessoas colocarem cadeiras nas varandas para receber as visitas. Mas devido à violência urbana, as pessoas deixaram de usar as varandas e os novos projetos arquitetônicos as abandonaram.

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