O Instagram anunciou que desde 16 de março estão ativos novos mecanismos para aumentar a segurança de adolescentes durante o uso da plataforma. As medidas buscam impedir a interação entre menores de idade e adultos que não são seguidos por esses jovens usuários; dificultar que adultos encontrem perfis de adolescentes para seguir e contatar; e incentivar menores de idade a tornarem suas contas privadas. A rede social também disponibilizou um guia para que pais ajudem seus filhos a terem uma experiência mais segura no Instagram.
Em teoria, os novos recursos beneficiariam usuários da plataforma com idade entre 13 e 17 anos, uma vez que a idade mínima para se ter uma conta no Instagram é 13 anos. Porém, como não há mecanismos que garantam a autenticidade da idade declarada ao fazer o cadastro na rede social, é bastante comum que crianças abaixo dessa idade utilizem a plataforma alegando terem idade suficiente.
De acordo com Juliana Cunha, psicóloga e diretora da ONG Safernet, que monitora casos de violência em ambientes digitais, as situações relacionadas a aliciamento de crianças e adolescentes por meio de plataformas digitais figuram em segundo lugar entre as ocorrências relatadas à organização. O aliciamento, que ocorre quando adultos contatam crianças e adolescentes para marcar encontros ou solicitar fotos íntimas, fica atrás apenas do cyberbullying – violência cometida pelos próprios jovens que envolve intimidações, agressões, compartilhamento de imagens íntimas, entre outros casos.
Recursos pretendem blindar adolescentes contra aliciamento
Uma das medidas que entraram em funcionamento é o impedimento de que adultos enviem mensagens para menores de 18 anos que não os seguem. Quando um adulto tenta contatar um adolescente dessa forma, a partir de agora, a rede social exibirá uma mensagem informando que a função de conversa com aquele usuário não está disponível. Para garantir a efetividade da medida, entretanto, a plataforma busca desenvolver uma tecnologia capaz de identificar se o usuário tem a idade que informa e impedir cadastros com potenciais informações inverídicas.
“Em todo o mundo, é amplamente conhecido que a maioria das plataformas de mídia social exige um requisito de idade mínima de 13 anos, mas a complexidade da verificação da idade continua sendo um desafio de longa data em todo o setor”, diz Lucy Thomas, integrante do Conselho Consultivo de Segurança do Facebook, empresa proprietária do Instagram. Ela explica que com a tecnologia – que ainda está em desenvolvimento – será mais fácil sinalizar aos adolescentes interações potencialmente inapropriadas, melhorando os recursos de privacidade dos adolescentes.
Outro mecanismo implementado é um aviso de segurança exibido a crianças e adolescentes que estiverem interagindo com adultos que exibam “comportamento potencialmente suspeito”. A partir do alerta, serão apresentadas as opções de encerrar a conversa, bloquear o usuário ou até mesmo denunciá-lo à plataforma.
A rede social não explicou todos os critérios que caracterizam tal comportamento; informou apenas que “o aprendizado de máquina (machine learning) é capaz de identificar sinais e determinar comportamento potencialmente suspeito” e que um dos critérios se aplica a adultos que tenham enviado uma grande quantidade de solicitações ou mensagens para menores de idade.
“Há casos em que é apropriado que adultos e adolescentes interajam no Instagram, mas é importante que os adolescentes sejam protegidos contra o contato indesejado de adultos. Exigir que o adolescente, não o adulto, estabeleça a conexão capacita os adolescentes a se protegerem”, diz Larry Magid, presidente do ConnectSafely – organização sem fins lucrativos norte-americana que atua com segurança digital.
Quanto aos usuários que apresentem comportamento suspeito, o Instagram passa a dificultar a localização de perfis de adolescentes por essas pessoas e a ocultar automaticamente seus comentários em postagens públicas dos usuários com menos de 18 anos.
Por fim, a plataforma passou a incentivar que adolescentes tornem suas contas privadas, restringindo o acesso aos seus conteúdos e recursos de contato a perfis que tenham sido autorizados. Caso o jovem opte por criar um perfil público durante o cadastro na rede social, posteriormente ele receberá uma notificação que apresenta os benefícios de uma conta privada, com direcionamento para a atualização de suas configurações.
Medidas são positivas, mas participação dos pais é fundamental, aponta psicóloga
Para Juliana Cunha, os novos mecanismos são um passo importante para tornar o uso da plataforma mais seguro, mas o diálogo entre pais ou responsáveis com as crianças e adolescentes a respeito da segurança no ambiente online e até mesmo o controle parental (mecanismos que permitem restringir ou bloquear determinados conteúdos considerados impróprios para determinadas faixas etárias) são essenciais.
“Sabemos que, diferentemente da infância, a adolescência é uma fase em que os pais já não são a única figura de referência e autoridade nas decisões que serão tomadas. Então para essa idade, esse tipo de mudanças é bem-vinda, mas é importante que os pais forneçam a orientação adequada”, explica a psicóloga e diretora da ONG Safernet.
Quanto à atuação das empresas de tecnologia, como o Instagram e demais redes sociais, no combate à exposição de usuários menores de idade ao risco, ela aponta que o aprimoramento dos canais de denúncia dessas plataformas é um ponto que ainda precisa de melhorias.
A psicóloga diz também que ainda faltam recursos acessíveis para pais e educadores terem as informações adequadas e saberem conduzir o assunto com os filhos de maneira adequada. “Essa é uma frente bastante necessária que as plataformas precisam investir. É importante que elas desenvolvam esses recursos, por meio de guias, vídeos e parcerias com veículos de comunicação, e façam alianças com as famílias e com os educadores, que são figuras importantes para a educação e o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes”, observa.
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