A pequena Geovanna nasceu há quatro meses e é uma das 395 crianças soteropolitanas afetadas pelos efeitos do zika vírus. Diagnosticada com microcefalia, a menina é levada uma vez por semana, pela mãe Sílvia de Jesus Pinheiro, ao Instituto Bahiano de Reabilitação (IBR) - grupo de atenção às famílias de crianças com microcefalia criado no local.
Mãe de Geovanna e professora do Bairro Nordeste de Amaralina, na periferia de Salvador, Sílvia diz que a orientação dos profissionais vai ajudá-la a estimular o desenvolvimento da filha.
“Aqui tenho toda a assistência e começamos hoje a participar do grupo com outras crianças. As expectativas são maravilhosas, sempre com muito otimismo, a certeza de que o bebê vai se desenvolver e sabendo que as pessoas estão aqui para ajudar com isso”, diz a mãe da menina, que já foi atendida duas vezes, antes do início do grupo.
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O instituto criou recentemente um protocolo que cria o grupo de atendimento especializado, específico para a microcefalia associada ao zika, já que apresenta efeitos mais severos que a malformação não relacionada ao vírus.
Equipes formadas por quatro profissionais de psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia já começaram a cuidar de sete crianças com microcefalia. Como o atendimento é novo, o número de crianças ainda é considerado baixo, mas tende a aumentar, segundo o coordenador do IBR, Rogério Gomes.
“Essas crianças estão chegando aos atendimentos agora, então, com certeza, esse número vai ser maior que o que a gente tem hoje. A estrutura já está montada para atender a esses sete, mas existe um processo de triagem e avaliação e, conforme for surgindo a demanda, a gente vai ampliando o atendimento”, explica.
A psicóloga Júlia Reis conta que a atenção dela é direcionada principalmente às mães, já que se deparam com uma situação nova e desafiadora. “O trabalho diferencial da psicologia é dar razão a essas mães. Elas têm razão de estarem preocupadas e de se sentirem desesperadas, em algum momento e, ao mesmo tempo, [o trabalho é] acolher esse sofrimento, trabalhar todo esse sofrimento, levando-as a estimular seus filhos, a vê-los não como uma patologia ou uma microcefalia, mas como um filho delas”, afirma a profissional, que acompanha a mãe de Geovanna, Sílvia de Jesus Pinheiro.
“Sílvia já sinalizou pra gente o quanto mudou o dia a dia dela, a partir do momento em que [descobriu que] precisava estimular Geovanna. Ela já sabe que a filha precisa de atendimento especial, de estimulação mais específica. Mas é a filha dela, tem o olho no olho, tem o amor, o aconchego. Nesse grupo, as crianças têm pouca idade, o trabalho da psicologia é mais forte. Cuidamos da mãe, para que ela possa cuidar da criança”, acrescentou a psicóloga.
Segundo o último balanço da Secretaria da Saúde da Bahia, entre outubro de 2015 e 27 de fevereiro deste ano, 817 casos de microcefalia foram notificados em todo o estado. Salvador lidera o ranking das cidades com maior número de casos. Sílvia conta que a surpresa, no momento do diagnóstico, é natural, mas isso não deve comandar a rotina da família.
“A diferença é só essa: a mãe de um bebê com microcefalia é mãe, mas é um bocado de especialidades (socióloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional). O amor supera tudo. O bebê com microcefalia precisa se sentir amado e esse amor quem passa, antes de qualquer pessoa, é a mãe. A relação mãe e filho deve ser centrada no amor, independentemente da microcefalia, disse emocionada.
Segundo os especialistas, Geovanna é nova no instituto, mas já apresentou avanços: tem se acostumado às músicas de boas-vindas, à troca de roupa como estímulo corporal e à presença de outras crianças. O IBR é uma entidade filantrópica e funciona há 60 anos. Referência no Estado em reabilitação, o instituto atende a qualquer pessoa com pedido e laudo médico e carteira do Sistema Único de Saúde (SUS).
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