A partir de 11 de maio os cerca de 11 milhões de brasileiros portadores de diabete poderão contar com uma nova alternativa de administração de insulina que substitui as incômodas injeções. A partir dessa data, estará disponível em todo o país a primeira insulina inalável. O medicamento, que foi aprovado em junho do ano passado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), poderá ser usado no tratamento de pacientes com diabete tipo 1 (quando ocorre a destruição das células beta, ocasionando deficiência absoluta de insulina) como do tipo 2 (caracterizado pela resistência ao hormônio, geralmente associada à obesidade).
Por evitar as injeções diárias, a expectativa da classe médica é de que a insulina inalável diminua a resistência do paciente ao tratamento. O medo de agulhas e o receio em relação ao estigma trazido pelas injeções são apontados como as principais causas para a não-aceitação. "Esta é mais uma ferramenta que vem para aumentar a adesão ao tratamento", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Marcos Tambascia.
Dados do Estudo Epidemiológico do Diabetes no Brasil: Grau de Controle Glicêmico e Complicações realizado com 6.700 pacientes em 22 centros clínicos distribuídos em dez cidades brasileiras, inclusive Curitiba, mostram que 75% dos pacientes não têm um controle adequado da doença. O estudo, realizado entre março de 2006 e fevereiro de 2007 pela Universidade de São Paulo, em parceria com o laboratório farmacêutico Pfizer e a Fundação Oswaldo Cruz, revelou que o problema é maior entre pacientes do tipo 1 nesses casos o controle inadequado chega a 90%. "Esses resultados indicam a necessidade de melhorar o controle glicêmico e servem de alerta para o aumentado risco de complicações", afirma um dos coordenadores do estudo, Edson Moreira. O levamento demonstrou ainda que 45% dos pacientes sofrem de problemas sérios de visão que podem levar a cegueira, 44% têm neuropatia (alteração nos nervos) e 16% apresentam alteração na função renal.
Para o presidente do Centro de Diabetes de Curitiba, Edgard Niclewicz, quem mais irá se beneficiar da insulina inalável é o paciente que sofre do tipo 2 da doença. Ele poderá controlar as taxas glicêmicas apenas com a insulina inalável e o uso de medicações orais. No caso dos diabéticos tipo 1, a nova medicação não elimina por completo as injeções.
Ao contrário da insulina subcutânea, a inalável não precisa ficar em refrigeração. O aparelho no qual ela é inalada é portátil (do tamanho de um estojo de óculos), não precisa de pilhas e nem bateria. O desenvolvimento da insulina inalável levou cerca de 15 anos e teve um investimento de US$ 1 bilhão. Para comprovar a eficácia do produto foram feitos testes com 3.500 pacientes em todo o mundo, cerca de 500 deles do Brasil. Durante três anos, 20 paranaenses experimentaram o tratamento com a nova medicação.
A cabelereira Nilva Silva, 49, foi uma das voluntárias da pesquisa. Diabética há cinco anos, Nilva tomava cinco injeções ao dia, hoje toma apenas uma. "Para mim melhorou muito, até o controle da glicemia que oscilava muito agora está mais estável", conta. Apesar da melhoria na qualidade de vida, a cabelereira já começa a se preocupar com a hipótese de ter de voltar para as injeções. "Acredito que não vou ter condições de arcar com o custo do medicamento", afirma.
O valor do tratamento dependerá da quantidade de insulina administrada, do número de inalações e do peso do paciente, mas deve ficar em torno de R$ 450 ao mês. O aparelho tem validade de um ano e o ativador que rasga o blister onde fica a insulina deve ser trocado a cada 15 dias. De acordo com o diretor médico da Pfizer, João Fittipaldi, pacientes que se cadastrarem no site do laboratório (www.pfizer.com.br) poderão receber o ativador sem custos.
A repórter viajou a São Paulo a convite da Pfizer