Três escolas estaduais do Paraná estão na disputa para representar o estado no prêmio Escola Destaque Brasil, concedido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Fundação Roberto Marinho e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A representante do estado vai ser escolhida entre a Escola Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto, de Paranaguá; o Colégio Estadual João Zacco Paraná, de Planalto; e o Colégio Estadual Júlio Moreira, de Faxinal do Céu.
Os projetos de interação da comunidade escolar são os diferenciais das candidatas paranaenses. No colégio João Zacco Paraná, em Palmital, o diretor Flávio Kirsch acredita que sua unidade tem potencial para chegar à final nacional do prêmio. O projeto de gestão está embasado em uma administração escolar participativa, em que são ouvidos os representantes de alunos, através do grêmio estudantil, da Associação de Pais e Mestres e da direção. "Todas as decisões relativas à comunidade escolar são adotadas após ampla consulta", diz. O projeto pedagógico incentiva os alunos com dificuldades escolares, reservando salas de aulas e professores para reforço escolar no contraturno. Além disso, várias atividades são desenvolvidas para promover maior interação entre estudantes e professores.
Em Faxinal do Céu, o Colégio Estadual Júlio Moreira também aposta na integração de pais e alunos para garantir a melhoria do sistema educacional. A escola realiza reuniões freqüentes e os pais são incentivados a participar do aprendizado dos filhos. O colégio também abre suas portas para atividades que envolvam toda a comunidade escolar.
Instalada numa área de invasão próxima ao porto, a escola estadual Bento Munhoz da Rocha Neto, de Paranaguá, concorre com um projeto idealizado pela diretora Sandra Regina Marques. Implantado há três anos, o projeto transforma a escola em uma pequena nação, com direito a constituição e moeda própria.
Regras
O regimento interno, que funciona como uma carta-magna, foi elaborado em comum acordo entre professores, alunos, funcionários e a direção. Além dos tradicionais direitos e deveres da comunidade escolar, como respeito aos colegas e preservação do patrimônio, o documento regulamenta uma espécie de crédito pré-aprovado de todos os alunos. Utilizando uma moeda própria, sem valor comercial fora da escola, chamada Bento, cada aluno recebe um depósito simbólico de B$ 300. O objetivo é estimular as atividades extracurriculares, reduzir faltas e a violência escolar, deduzindo do saldo as falhas e episódios negativos de cada um.
O dinheiro da escola é utilizado pelos alunos quatro vezes ao ano. A cada bimestre, a escola dedica um dia exclusivo para a realização do shopping da educação. As salas de aulas são transformadas em danceteria, salas de jogos culturais, lanchonete e até mesmo em bazar de produtos importados, doados pela Receita Federal, e em brechós de roupas usadas.
Alunos que se destacaram durante o bimestre, sem faltar às aulas, sem problemas de indisciplina e com participação em atividades extras como pintura da escola, restauração de carteiras e ações beneficentes para a comunidade local recebem Bentos adicionais, durante o encontro com os pais no dia da entrega dos "contracheques", o boletim escolar. Estes encontros, segundo a vice-diretora Glacinéia Silva da Cruz, servem também para atrair os pais para participarem do ambiente escolar. "Os alunos só recebem os bentos se os pais comparecerem. Mas nenhum pai ou mãe falta, já que a moeda pode ser usada para compras dos produtos doados", diz ela.
Envolvimento
O projeto modificou a escola. "Hoje temos colaboração de toda comunidade e de comerciantes da cidade que fazem doações para a melhoria de nossa estrutura", conta ela. Foi assim que as paredes e o piso do prédio receberam ladrilhos e cerâmicas. O ambiente, segundo os professores, melhorou muito após a implantação do projeto.
O número de repetência caiu em cerca de 60% e o número de faltas chega a quase zero. "Ninguém gosta de faltar, pois perde seu B$", brinca o aluno Andrew Rosário Lopes, 12 anos, da 6.ª série. Ele e o colega de classe Michel Cordeiro Moreira, 11 anos, já têm uma boa poupança em B$, mas revelam-se perdulários na hora de gastar. "Vou em todas as lojas de jogos culturais, onde quem responde perguntas ganha brindes. Também gasto na danceteria e compro no bazar de importados", diz Lopes. Para Moreira, o importante é que o projeto mudou a cara da escola e a relação entre alunos. "Hoje todo mundo está mais educado aqui. Antes havia muitas brigas e as salas eram alvo dos vândalos".