Balanço
Projeto já motivou onda de invasões
Em março deste ano, a Gazeta do Povo noticiou que o projeto de habitação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estava motivando uma onda de ocupações no Guarituba. De 2007 até então o bairro teria recebido cerca de 10 mil novos moradores, segundo a equipe do Programa de Regularização Fundiária do município. Essas famílias não participaram do cadastramento para as obras do PAC, feito em 2007. O levantamento indica que no Guarituba havia um terreno regular para cada dois irregulares.
O comerciante Antônio Muniz da Silva, 65 anos, será beneficiado pelo PAC, mas não gostaria de deixar a casa de madeira às margens do canal extravasor do Rio Iraí, onde vive há sete anos. Ele diz que não terá espaço para abrigar toda a família na casa oferecida pelo governo. Mesmo sem rede de esgoto e condições sanitárias adequadas, o comerciante gostaria de ficar onde está. "Minha família tem cinco pessoas e não vou ter onde colocar minha banca de doces. Ninguém que mora aqui quer ir para lá", reclama.
Uma invasão com cerca de 100 famílias, iniciada na sexta-feira, pode pôr em risco o maior projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Paraná. A ocupação irregular de terrenos particulares, que juntos medem dois hectares, ameaça o projeto de reurbanização do Guarituba, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Cerca de 55 mil pessoas vivem no local 70% delas sem o título de posse dos terrenos. O PAC prevê a regularização da situação de quase 9 mil famílias no local. O secretário do Meio Ambiente de Piraquara, Gilmar Clavisso, diz que solicitou às famílias que saíssem do local e pediu auxílio da Polícia Militar e do governo do estado, já que a legislação proíbe a ocupação do terreno. "A área é insalubre. Funciona como uma esponja e está sujeita a enchentes. Sem contar que a turfa, presente no solo, pode provocar queimadas em épocas de seca", afirma.
Hoje pela manhã haverá uma reunião de moradores com representantes da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) e da prefeitura de Piraquara. "Vamos tentar negociar, verificar quais famílias possuem necessidade de moradia mesmo e se é possível que elas sejam beneficiadas com as obras do PAC", diz Clavisso. "Essa e outras ocupações de vazios urbanos que existem no Guarituba podem atrapalhar a reurbanização do bairro e pôr em risco a segurança das pessoas que ocupam estes locais."
O Guarituba, uma área de preservação ambiental que começou a ser ocupada no fim da década de 1990, foi dividido em duas zonas. Na primeira, de adensamento urbano e passível de regularização, estão as obras do PAC, que beneficiarão 8.090 famílias. A outra área, que foi invadida durante o feriado, é de restrição ambiental. As 800 famílias que moravam nessa área em 2007, quando o projeto foi assinado, ganharão novas casas em outros locais.
Invasão organizada
Quem chegou neste fim de semana à área invadida tem a esperança de conseguir uma casa própria, com documentação. Ontem, por volta das 12 horas, cerca de 50 pessoas faziam fila para preencher um cadastro feito pela Associação de Proteção e Desenvolvimento dos Moradores. Segundo elas, a promessa é de que os lotes serão liberados e regularizados. Após o cadastro, as famílias já podem ocupar os lotes demarcados.
O pintor Claudemir Moreira dos Santos, 25 anos, diz que cada quadra tem um líder, considerado "dono" de determinada área. "Estamos precisando de um terreno e falaram que aqui seria liberado para morar. Espero que fique tudo certo", afirma Santos, que ganha um salário de R$ 700 e paga R$ 350 de aluguel. Um mecânico de 20 anos, que prefere não ser identificado, tomou posse de seu lote ontem e já roçava a terra para se mudar. Ele mora na casa do sogro, no bairro Águas Claras, em Piraquara, onde seis pessoas se dividem em quatro peças. "Vou morar aqui com minha esposa e o filho que está para nascer", diz.
Um dos coordenadores do movimento, que prefere não ter seu nome revelado, garante que não há interesses políticos por trás da invasão. "Somos moradores do Guarituba e queremos chamar a atenção da Cohapar para a nossa situação. São famílias que não têm onde morar e não serão beneficiadas com as obras do PAC. Só recebemos promessas até agora", afirma.
A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição. A Cohapar foi procurada por meio da assessoria de im_prensa do governo do estado, mas nenhum de seus representantes foi encontrado para falar sobre o assunto.
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