Missas e cultos religiosos não podem ser impedidos, tumultuados ou vilipendiados no Brasil. Ainda assim, um grupo de manifestantes não se importou em invadir a Igreja do Rosário, em Curitiba, no último sábado (5), atrapalhando a celebração de uma missa no local. O grupo, comandado pelo vereador Renato Freitas (PT), posteriormente alegou que o “local era público” e que por isso eles poderiam entrar nele na hora em que quisessem. Eles também argumentaram que a missa no local já teria terminado e por isso não haveria sido cometido nenhum crime. Mas não é isso o que diz a legislação brasileira.
>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram
“O fato é que é crime impedir ou perturbar cerimônia religiosa, isso já está tipificado no Código Penal”, ressalta o advogado Andrew Fernandes, especialista em Direito Processual. Ele ainda explica ainda que, mesmo se não estivesse acontecendo uma missa na igreja durante a invasão dos manifestantes, o crime permaneceria, uma vez que o culto religioso por ser considerado tanto a prática comunitária, quanto o culto interior, feito individualmente.
Segundo o artigo 208 do Código Penal, “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso” são crimes contra o sentimento religioso, com pena de detenção de um mês a um ano, ou ainda pagamento de multa. Quando há emprego de violência, a pena pode ser aumentada em um terço.
Para o jurista, essa pena não é proporcional à gravidade desse tipo de crime. “Trata-se de um crime considerado de menor potencial ofensivo, entretanto, para a pessoa religiosa, que vê seu sentimento religioso ferido, trata-se de algo gravíssimo. Há uma desproporcionalidade entre o crime e a penalidade prevista”, defende Fernandes. Ele lembra ainda que em outros lugares do mundo, também sob o argumento de protestos e manifestações, igrejas já foram depredadas e destruídas, como ocorreu no Chile em 2020. “O Brasil sempre foi conhecido por sua tolerância que admite diversas visões de mundo. Não podemos deixar que essa tradição se perca”, alerta.
Discriminação a católicos
Nos vídeos que circularam nas redes sociais, é possível observar os manifestantes, com bandeiras do PT e do PCB, entrando na igreja e gritando palavras como "racistas" e "fascistas". Na avaliação de Fernandes, isso pode indicar que os manifestantes cometeram outro crime, além do já mencionado contra o sentimento religioso. De acordo o artigo 20 da Lei 7.716, que trata dos crimes de preconceito racial, “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” é considerado crime, cabendo a aplicação de pena de reclusão de um a três anos e multa. Caso seja esse o resultado da investigação, vale lembrar que, de acordo com o inciso XLII ao artigo 5º da Constituição, o racismo é crime imprescritível e inafiançável.
“Claro que isso depende de uma análise mais profunda, da averiguação detalhada do ocorrido. Mas a princípio parece ter havido essa incitação de preconceito contra os católicos”, explica Fernandes. Ele diz ainda que não será necessário a Arquidiocese de Curitiba, responsável pela igreja invadida, entrar com uma ação ou queixa para que os manifestantes sejam processados e eventualmente penalizados por suas ações.
Ele explica que apenas em crimes específicos, como os de injúria, por exemplo, exigem que a própria vítima de manifeste, iniciando o processo. No caso da invasão à igreja, o Ministério Público do Paraná pode dar início a uma ação para apurar o ocorrido sem que haja manifestação da arquidiocese ou da igreja invadida.
Diversas entidades, grupos, e políticos já se manifestaram contra o episódio e cobraram a punição dos envolvidos.
Missa pela paz
A Arquidiocese de Curitiba não informou se irá tomar alguma medida contra os manifestantes. Mas a comunidade da Igreja Nossa Senhora do Rosário já programou uma missa e um ato pela paz em resposta ao incidente. Será no sábado (12), às 17 horas. Os fiéis foram convidados a levar lenços brancos e uma rosa. “Indo na contramão do que aconteceu, a Igreja do Rosário quer dedicar orações e preces e fazer uma convite à paz e à solidariedade”, diz Eduardo Filho, um dos fiéis e colaboradores da igreja.
STF decide sobre atuação da polícia de São Paulo e interfere na gestão de Tarcísio
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora