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Ao percorrer a área residencial de Santa Felicidade, chega-se até a imaginar que não se trata de uma parte de Curitiba. As ruas calmas, sem grandes prédios e com pessoas conversando tranqüilamente nas calçadas, tal qual uma cidade do interior, transmitem a sensação de que a violência ainda não chegou ao bairro. Mas essa sensação se desfaz logo no primeiro contato com os moradores, que reclamam de falta de segurança e de freqüentes assaltos a residências. "Santa Felicidade já foi segura. Hoje não é mais", avalia Teresina Túlio Francischini, moradora do bairro desde que nasceu, há 76 anos.

Oficialmente, segundo números da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), Santa Felicidade ocupa a vice-liderança no ranking de roubos a residências neste ano, com seis ocorrências. A primeira colocação fica com o Jardim das Américas, com um caso a mais. Mas, na boca do povo, o número de ocorrências é bem maior, o que fica evidente com a não-realização dos boletins de ocorrência na delegacia.

"A criminalidade lá em Santa Felicidade é muito menor que em outros bairros. Mas pelo fato de ser um bairro turístico, de uma colonização mais conservadora, o impacto é maior quando acontece algum problema", considera o delegado-titular da DFR, Rubens Recalcatti. Na divisa com outros bairros, mais seis assaltos em casas foram registrados pela delegacia: três no Cascatinha, dois no Santo Inácio e um no São Braz.

Quadrilha

Os relatos são muito parecidos. Na maioria dos casos, quatro homens armados e encapuzados pularam muros ou abordaram as vítimas quando elas chegavam ou saíam de casa. Foi o que aconteceu com o construtor Celso Valle, 43 anos, por volta das 22h30 do dia 20 de fevereiro, uma segunda-feira. "Quando chegamos em casa, meu filho, minha mulher e eu fomos rendidos por quatro rapazes que já nos aguardavam no quintal", relata. Os três foram amarrados e trancados no banheiro. Durante mais de uma hora, a quadrilha roubou tudo o que podia. "Carregaram o nosso carro com computador, TV, panelas, roupas. Até a maquiagem da minha mulher levaram", lamenta. Valle estima o prejuízo em R$ 40 mil.

O construtor conta que, na noite seguinte, a vizinha da frente teve o carro roubado por assaltantes que a esperavam no portão. "Os assaltantes se mostram bem profissionais e a polícia deixou a desejar. Chegou aqui 1h30 depois que os acionamos", conta Valle. A solução encontrada pelos moradores da Rua Francisco Antônio da Costa Nogueira foi contratar um vigilante para tomar conta das casas. "É um gasto extra que não deveríamos ter de fazer. Logo após o assalto, a polícia passava direto, mas depois sumiu", completa.

Grades

Após um assalto e um arrombamento no início de janeiro, a rotina de uma família residente na Rua Wanda Wolf mudou. Agora as janelas têm grades, as portas não ficam mais sem tranca e o portão é fechado também com uma corrente. "A primeira vez que entraram aqui acontecia uma festa e a porta estava aberta. Levaram tudo. Dois meses depois arrombaram o portão e a porta, mas não tinham mais o que levar. Foi só um radinho", conta um estudante de 14 anos. "Minha mãe está neurótica. Não podemos deixar nada aberto", descreve. Vítimas de outro assalto em janeiro, os moradores de uma casa na Rua Maestro Lindolpho Gaya não resistiram ao temor e se mudaram para outro lugar na mesma semana. "O pessoal não conseguiu ficar, estava com muito medo", relata o caseiro André Luiz Prucínio.

Para o delegado Joel Bino de Oliveira, do 12.º Distrito Policial, o fato de Santa Felicidade estar entre os primeiros do ranking em assaltos é uma mera coincidência. Segundo ele, os crimes são praticados por quadrilhas que vêm de outros estados, como Santa Catarina, Mato Grosso e São Paulo.

O delegado Recalcatti alerta a população para tomar cuidado ao chegar em casa. "É preciso observar se não há algum suspeito próximo ao portão. É melhor dar uma volta a mais na quadra para ter mais segurança antes de entrar. Se a pessoa permanecer lá, chame a polícia", alerta.

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