A queda nas temperaturas tem reduzido os estoques das doações nos bancos de leite humano no Paraná. Este cenário, que impacta no tratamento e cuidados com bebês prematuros, é registrado tanto no interior do estado, como em Curitiba. Para driblar os percalços da estação mais fria do ano, as unidades estão fazendo campanhas para atrair mais doadoras e normalizar o nível das coletas.
Em Cascavel, o Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná coletou no mês passado 120 litros de leite a menos do que o de costume. “Recebíamos em torno de 250 litros por mês e baixamos para 130 litros”, calcula a enfermeira da unidade, Cleonice de Assunção. Ela acredita que no inverno as mães tenham mais dificuldades para fazer a retirada do leite. No entanto, assinala Cleonice, retirando menos leite, a própria produção das doadoras tende a diminuir. “A mama não é um depósito de leite. Cerca de 80% do leite que se tem é produzido na hora. Se não estimular, não se produz”, completa.
O BLH de Cascavel tem cerca de 200 voluntárias, que colaboram com doações de diferentes volumes. O alimento recebido, depois de pasteurizado, é destinado a bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) do hospital.
Apesar de menor, também houve redução na doação de leite humano do BLH do Hospital Universitário de Londrina. A média mensal de coletas costumava ser de 188 litros, mas em junho foi 177 litros.
Já em Curitiba, a maior queda na coleta foi registrada pelo BLH do Hospital Evangélico. De 150 litros, o inverno fez com que as doações caíssem pela metade. No BHL do Hospital das Clínicas (HC), por sua vez, a coleta baixou de 150 para 130 litros. “Com as campanhas, devagar, vamos aumentando as doações. A maioria das doadoras que conseguimos atingir é por meio de campanhas”, comenta Sabrina Andrade, auxiliar administrativo do BLH do Evangélico.
A coordenadora do BLH do HC, Celestina Bonzanini Grazziotin, avalia que as ações de mobilização pela doação de leite humano precisam ser constantes. Ela assinala que, por se tratar de um público específico - mulheres que estão amamentando - , é muito mais difícil encontrar uma doadora de leite humano do que um doador de sangue. “É uma porcentagem pequena porque nem todas as mães têm leite sobrando”, salienta.
Este é, inclusive, um requisito fundamental para se tornar uma doadora. A mulher que desejar doar leite precisa, primeiramente, produzir leite para alimentar bem o seu bebê de acordo com a idade da criança. “Se mesmo assim, ainda tiver leite em excesso, então ela pode doar”, explica Celestina. As doadoras de leite humano não podem ser fumantes e devem ter recebido acompanhamento pré-natal durante a gestação.
Benefícios
Quando a servidora pública Amanda Ansbach, de 28 anos, começou a doar leite materno para o BLH do HC, em Curitiba, a intenção era estimular sua própria produção. Ela havia voltado a trabalhar após a gestação e percebeu que seu leite estava diminuindo.
Foi aos poucos, conhecendo o trabalho da equipe da estrutura e o destino da doação – a UTI Neonatal do hospital, que a ação passou a ter um significado ainda maior para Amanda. “Conheci a UTI Neonatal e saí emocionada de lá. É muito gratificante poder ajudar bebês prematuros. O leite materno é fundamental para a saúde deles”, avalia a voluntária, que há um ano, vem doando cerca de 150 ml de leite humano por dia para o HC. Seu bebê tem hoje 1 ano e 7 meses.
A coordenadora do BLH do HC reforça que o leite materno é o melhor alimento que se pode oferecer às crianças atendidas na UTI Neonatal. Além de resistência a doenças, o leite confere aos pequenos pacientes componentes nutritivos com qualidade e chances de um desenvolvimento mais saudável. “Não existe assim nada na indústria”, enfatiza Celestina.