A teia

O esquema descoberto pela investigação da Polícia Federal e pela Receita Federal começava com 46 empresas de fachada. O responsável por essas pessoas jurídicas fantasmas pagava boletos bancários cujas beneficiárias eram duas grandes companhias de Foz do Iguaçu. Em seguida, os proprietários dessas duas grandes companhias repassavam o valor desses boletos a outra grande empresa, desses mesmos proprietários, mas sediada no Paraguai. Para fazer as transferências sem despertar suspeitas, o grupo criminoso contava com o apoio de funcionários de instituições financeiras de Foz do Iguaçu, além de dezenas de pessoas físicas.

No lado paraguaio, o dinheiro era então transferido para uma casa de câmbio, que distribuía os valores a lojistas e traficantes paraguaios. Após a divisão o grupo enviava mercadorias e drogas para empresários e traficantes no Brasil. O esquema funcionava como uma maneira de tentar despistar o comércio ilegal de drogas e mercadorias.

(Antônio Senkoviski)

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Uma operação conjunta entre Polícia Federal e Receita Federal desbaratou na manhã desta quinta-feira (22) um esquema de lavagem de dinheiro e câmbio paralelo entre Brasil e Paraguai. A fraude descoberta revelou a existência de uma teia de envolvidos na cidade de Foz do Iguaçu, Oeste do Paraná, além de ramificações em Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso. Ao longo de nove meses a Operação Sustenido levantou o esquema envolvendo 46 empresas fantasmas e dezenas de laranjas que em troca de remuneração, emprestavam seus nomes para constituí-las. Em três anos a ação criminosa chegou a movimentar R$ 300 milhões.

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A partir de agora, as investigações serão realizadas de maneira independente em cada ramificação do esquema. Além da implicação fiscal cabível a cada empresa fantasma, caberá uma investigação paralela a cada pessoa envolvida e identificada. A ponte entre clientes que realizavam depósitos para empresas laranjas era feita por duas empresas do ramo alimentício, situadas em Foz e Ciudad del Este (Paraguai). Ambas não possuíam autorização legal para importação e exportação de alimentos, caracterizando a operação como ilegal e servindo para a lavagem de dinheiro. Com as cargas transitando de um país para outro, havia a compensação do dinheiro a ser passado para o lado paraguaio. "O dinheiro físico nunca chegou a cruzar a fronteira, era somente via operações, das empresas alimentícias direto para as casas de câmbio", explicou o delegado chefe da PF, Ricardo Cubas.

Nas operações de depósito no lado brasileiro foram identificados entre os depositantes traficantes pertencentes a organizações criminosas, como o Comando Vermelho, e quadrilhas que efetuavam sequestros. Também compõem a lista de investigados um funcionário público e um gerente de banco, que supostamente teriam facilitado operações bancárias e disponibilizado contas em favor do esquema. "Vamos investigar a natureza de cada movimentação e verificar se houve ou não ato ilícito. Sabemos que há fortes indícios da participação deles, assim como de outros grupos [criminosos], como o PCC".

Para o delegado, as pessoas que dispunham de contas para fazer transações no esquema estavam cientes da ilegalidade. "Os laranjas cederam suas contas mediante pagamento e sabiam que a conta estava sendo utilizada para movimentar cotas que não eram deles, nada foi feito à revelia", afirmou. Nas transações, os valores nunca eram superiores a R$ 10 mil, evitando assim a necessidade de identificação por CPF de seus depositantes.

A suspeita partiu justamente da movimentação incomum nas contas das 46 empresas laranjas. "Elas [empresas] tinham grande movimentação financeira, mas não tinham nenhum tipo de operação. Já as duas empresas maiores [do setor alimentício] tinham operações que não eram oficializadas. A movimentação chamou a nossa atenção, pois as atividades eram incompatíveis", explicou Rafael Dolzan, delegado da Receita Federal. O esquema, segundo ele, funcionava como um elo entre traficantes e produtores de drogas.

A polícia não revelou a identidade de um dos empresários presos, que é do ramo alimentício. "Não estamos identificando, apenas confirmando que era um empresário da alta sociedade aqui da cidade [Foz]", confirmou Cubas. Na manhã desta quinta haviam sido cumpridos 6 mandados de prisão preventiva, 28 mandatos de prisão temporária [5 dias], 6 mandatos de condução coercitiva [prestar esclarecimento], além de 43 mandatos de busca e apreensão. Somente no Paraná foram cumpridos 28 mandos de prisão e 28 mandados de busca. Também foram cumpridos mandatos de busca e apreensão em São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso.

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