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Educação

Investimento na primeira infância reduz intolerância e criminalidade

Alunos do Peixinho Dourado, em Curitiba: “bolo” do sentimento ajuda a compreender valores | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Alunos do Peixinho Dourado, em Curitiba: “bolo” do sentimento ajuda a compreender valores (Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo)

É nos primeiros anos de vida que se aprende a lidar com os conflitos e sentimentos. Por isso, as experiências vividas até os 6 anos de idade são cruciais para a formação do caráter e da absorção de valores. Se, por um lado, uma criança que cresce num ambiente desfavorável, com uma família desestruturada, em condições de miséria e convivendo com violência tem muito mais chances de se tornar um adulto problemático, quem se desenvolve em um ambiente amoroso, no qual são ensinados valores como amizade, respeito e compaixão, provavelmente levará esses conceitos para a vida toda.

É por isso que especialistas em educação defendem a necessidade de um maior investimento na chamada primeira infância. Dar oportunidades para que a criança vivencie experiências positivas nessa fase da vida é, para alguns especialistas, a melhor arma contra mazelas como violência e intolerância.

Meios de estimular essas experimentações e políticas públicas que valorizem a primeira infância serão discutidos durante a 1ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, realizada desde ontem até o fim desta semana em Brasília. O evento, que irá reunir especialistas do Brasil, de Portugal e do Uruguai, tem como objetivo tratar a importância do desenvolvimento do indivíduo no período de zero a 6 anos para a construção da cidadania e de relações sociais não-violentas.

Investimento

No entendimento dos especialistas, o Brasil ainda não investe o quanto deveria na educação infantil. O país tem hoje cerca de 22 milhões de crianças com idade entre zero e 6 anos. Dessas, 14 milhões não têm acesso a creche. Embora a proteção integral seja um direito previsto na Constituição, cerca de 25% dos municípios brasileiros não têm nenhuma creche. "Mesmo os que têm, não têm vagas suficientes. No Rio de Janeiro os pais precisam retirar senhas. E não é para esperar a vaga, é para entrar num sorteio. É uma coisa que não tem cabimento. Trata-se de um direito constitucional", lamenta o médico psicoterapeuta e membro fundador do Conselho Científico do Instituto Zero a Seis, João Augusto Figueiró.

A existência de vagas, entretanto, não garante a assistência adequada. Em São Paulo, uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil, existem mais de duas mil creches, mas menos de 200 possuem o certificado da Vigilância Sanitária de higiene e segurança. "A situação é ruim e os efeitos serão sentidos no futuro", alerta o especialista.

De acordo com uma pesquisa da Unesco divulgada em 2000, o gasto por aluno brasileiro em pré-escolas públicas é de US$ 820 por ano. Em países desenvolvidos, como a Alemanha por exemplo, esse mesmo gasto é de US$ 5.277. Segundo o mesmo estudo, o gasto por aluno no ensino superior público brasileiro é 12 vezes maior do que o gasto com pré-escola. "No Brasil os professores mais qualificados estão no ensino superior, enquanto que deveria ser o contrário. As crianças são nossa maior preciosidade. É na educação infantil que se estrutura todo o restante do processo da escola", diz a diretora pedagógica e especialista em educação infantil Esther Cristina Pereira.

Não é preciso muito esforço para se convencer de que o investimento vale a pena. Pesquisas feitas pela organização não-governamental Figth Crime: Invest in Kids (Combata o Crime: Invista em Crianças) mostraram que, para cada dólar investido em atendimento de qualidade na infância, cerca de US$ 7 são poupados em gastos no sistema policial e prisional. A ONG tem também um estudo feito com adultos que sofreram abusos na infância. A estimativa é de que 3,1 mil de 77.860 crianças abusadas ou negligenciadas se tornaram criminosos, que não teriam tomado esse caminho se tivessem tido um bom acompanhamento durante os primeiros anos de vida.

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