Provocada em especial pela queima de combustíveis fósseis, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera da Terra hoje é a maior em 800 mil anos e sua taxa média de crescimento é a mais alta em 22 mil anos. Os dados - piores do que todos os estimados até aqui - foram divulgados nesta sexta-feira, 27, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o grupo de experts das Nações Unidas, e revelam a gravidade da intervenção do homem, o fator mais importante do aquecimento global.

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Reunidos em Estocolmo, na Suécia, para discutir com delegados governamentais uma síntese de 31 páginas do diagnóstico sobre o do estado do planeta, cientistas foram enfáticos em reiterar: "O aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde os anos 1950, muitas das mudanças observadas não têm precedentes ao longo de décadas a milênios". Uma constatação semelhante já havia sido feita em 2007, mas ainda é contestada por "negacionistas" - políticos e uma minoria dentre cientistas que não acreditam no aquecimento da Terra.

Conforme o relatório, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou 40% desde a era pré-industrial em razão das emissões oriundas da queima de combustíveis fósseis. Deste total, 30% foram absorvidos no período pelos oceanos, que por essa razão se tornaram mais ácidos e menos capazes de regular o clima. "A concentração de dióxido de carbono (CO2), de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) cresceram desde 1750 em razão da atividade humana", sentencia o relatório, sem deixar espaço para dúvidas - o grau de certeza sobre a ação do Homem é de 95%. "Em 2011 as concentrações destes gases de efeito estufa excederam os níveis pré-industriais em cerca de 40%, 150% e 20%, respectivamente", completa o texto, lançando a advertência mais forte dos cientistas: "Concentrações de CO2, de CH4 e N2O agora excedem substancialmente as maiores concentrações registradas em núcleos de gelo durante os últimos 800 mil anos."

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O alerta prossegue: "As maiores taxas de crescimento nas concentrações atmosféricas ao longo do século passado eram, com muito elevado grau de certeza, sem precedentes nos últimos 22 mil anos".

A emissão de gases que causam aquecimento global na atmosfera, responsabilidade do homem, tem como efeito direto o aquecimento médio da Terra. Entre 1951 e 2010, "gases de efeito estufa certamente contribuíram para aquecer a temperatura global média da superfície entre 0,5ºC e 1,3ºC". No Hemisfério Norte, os 30 anos entre 1982 e 2011 foram o período mais quente em 1,4 mil anos. Mantida a tendência, no melhor dos cenários a temperatura vai se elevar 1,5ºC. O mais provável é que, mesmo tomadas medidas para reduzir as emissões de CO2, a média suba mais de 2ºC, o que já teria efeitos devastadores para os ecossistemas e para a humanidade - o impacto será analisado pelo IPCC em abril, no Japão.

Com mais CO2 e temperaturas mais altas, o derretimento de geleiras se intensifica, assim como o nível dos oceanos aumenta e a ocorrência de eventos climático extremos se torna mais frequente. "A influência do Homem no sistema climático é clara", afirmou Thomas Stocker, um dos coordenadores do relatório de ontem. Para o pesquisador suíço, se nada for feito a Terra viverá um cenário pior do que o pior estabelecido pelo IPCC. "A questão mais importante não é onde estamos hoje, mas onde estaremos em 10, 15 ou 30 anos. E isso depende do que faremos hoje."