Você já se imaginou tendo que pagar um IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de 15% do valor do imóvel? Ou, antes de colocar uma propriedade à venda, ter de verificar se a prefeitura de Curitiba não quer comprá-la? Ou ainda se questionou por que o poder público não faz nada para evitar que você tenha de morar em um bairro tão distante do trabalho se ainda há imóveis ociosos e terrenos vazios em bairros mais centrais da capital?

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Esses questionamentos talvez hoje nem passem pela cabeça dos curitibanos. Mas, em breve, essas perguntas poderão se transformar em fatos concretos. No ano que vem, Curitiba deve começar a discutir a regulamentação do uso das novas ferramentas de gestão urbana criadas pelo Estatuto da Cidade, em 2001, e incorporadas à legislação municipal em dezembro do ano passado, durante a revisão da lei que institui o Plano Diretor Municipal. Essas novas ferramentas (veja infográfico acima) devem mexer com muitos interesses, mas também podem melhorar a cidade. Embora o uso desses instrumentos já seja permitido por lei, ainda não há regulamentação.

Um dos instrumentos mais polêmicos é o IPTU progressivo no tempo, que prevê, para casos específicos, a aplicação de uma alíquota de até 15% do valor venal do imóvel. O IPTU progressivo pode, em tese, ser usado pelo poder público para pressionar donos de terrenos vazios e de imóveis não-utilizados ou subutilizados a promoverem a ocupação do terreno ou da edificação. É um instrumento que pode ser usado para impedir a especulação imobiliária, forçando a ocupação do espaço ocioso.

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O direito de preempção – a preferência de compra pela prefeitura de uma propriedade particular colocada à venda – facilitaria a instalação ou a ampliação de equipamentos públicos. O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), Clodualdo Pinheiro Júnior, afirma que o direito de preempção poderia ser usado, por exemplo, para comprar um imóvel colocado à venda ao lado de um hospital que precisa ser ampliado, mas que não tem mais espaço físico para se expandir.

Pinheiro Júnior diz que a prefeitura ainda não definiu quais critérios específicos serão usados para regulamentar os casos em que cada um dos novos instrumentos de gestão urbana serão utilizados. "Vamos debater com a sociedade. A experiência mostra que os resultados são melhores quando a gente ouve a sociedade civil", afirma ele.

Segundo o presidente do Ippuc, até janeiro do ano que vem, deve ser criada uma comissão formada por representantes do poder público, de entidades privadas e de movimentos sociais para trabalhar na regulamentação da legislação. A diretora de planejamento do Ippuc, Ana Cristina Wzornig Jayme, afirma que o instituto, que deve coordenar os trabalhos, está aberto para receber entidades interessadas em participar das discussões. O prazo para que os trabalhos sejam encerrados é dezembro de 2007.

O vereador da oposição André Passos (PT) elogia a decisão de se promover um debate para regulamentar o uso dos instrumentos de gestão urbana. Mas ele faz uma advertência: a sociedade civil tem de ser capacitada pela prefeitura para poder ter conhecimento técnico suficiente que lhe permita debater, criticar e fazer sugestões às propostas colocadas na mesa.