A Congregação das Causas dos Santos do Vaticano reconheceu, por meio de voto favorável e unânime do colégio de cardeais e bispos, a autenticidade de um milagre atribuído à Irmã Dulce. Esta é a última etapa do processo de beatificação da religiosa. O anúncio foi feito na manhã de ontem pelo arcebispo primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo, em coletiva na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador. De acordo com o cardeal, o Papa Bento XVI assina o decreto oficializando a concessão do título de beata ou bem-aventurada à freira baiana antes do Natal.
Com o reconhecimento final do Papa, Irmã Dulce passará a se chamar "Bem-aventurada Dulce dos Pobres". Após o decreto papal, se houver comprovação de um segundo milagre, a freira pode ser canonizada ou seja, tornar-se santa. A cerimônia de beatificação do Anjo Bom do Brasil está programada para o primeiro semestre de 2011, no Parque de Exposições da capital baiana.
O milagre validado pelo Vaticano passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios. Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).
Segundo o médico Sandro Barral, um dos peritos que participou do processo de análise do milagre, a graça validada ocorreu em 2001, em uma cidade do interior do Nordeste. "Foi um caso de pós-parto, no qual a paciente apresentava um quadro de forte hemorragia não controlável. Em um período de 18 horas, por exemplo, ela chegou a passar por três cirurgias, mas o sangramento não cessava. Contudo, sem nenhuma intervenção médica, a hemorragia subitamente parou e a paciente passou a ter uma impressionante recuperação."
Conforme relatos da época, o fim do sangramento ocorreu no mesmo instante em que um grupo de orações pedia a intercessão de Irmã Dulce em favor da parturiente. "A corrente de orações foi proposta por um sacerdote, contemporâneo de Irmã Dulce, que chegou, inclusive, a enviar para a família um pedaço de tecido do hábito que pertenceu à religiosa", comenta o assessor de Memória e Cultura das Obras, Osvaldo Gouveia.
Ainda segundo dados do processo, ao ser chamado à casa da parturiente, o médico que a atendia achou na ocasião que estava indo assinar seu atestado de óbito, em virtude da gravidade da situação, mas ao chegar ao local encontrou a mãe já recuperada do sangramento e com o bebê nos braços. A identidade da paciente e o local do milagre só poderão ser revelados um mês antes da cerimônia de beatificação de Irmã Dulce.
A causa de beatificação de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, na cidade de Salvador.