A televisão de 20 polegadas está quebrada há mais de um mês na casa da família Jesus da Paixão. Qualquer pai ou mãe de três meninos teria enorme dor de cabeça nessas condições. Mas os irmãos Natanael, Gabriel e Gileard não têm videogame. Tampouco assistem a futebol. A tevê para eles é inútil. Moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), desde que nasceram, os irmãos de 13, 12 e 7 anos encontraram na música erudita uma razão de viver.
Natanael, o mais velho, toca viola há três anos. Gabriel é, desde então, seu parceiro no violino. E o caçula, Gileard, estuda violoncelo há seis meses e também arrisca seus acordes.
Vê-los tocar é uma experiência emocionante. Sentados no alto do teleférico do Alemão, com o cenário das favelas a perder de vista, eles começam a ensaiar. As cordas entoam a composição "Mourão", do maestro Guerra Peixe, considerada de alto grau de dificuldade. E eles não param mais: passam por obras dos mestres Vivaldi e Beethoven. Depois, tocam o Hino Nacional e completam o recital com o clássico "Over the rainbow", do filme O Mágico de Oz.
A turista canadense Benia Kalus, que visitava o Alemão, para e se emociona. "Vocês fizeram o meu dia melhor", disse ela, que toca violino desde os 4 anos. Um menino, também de 7 anos como Gileard, aplaude o trio. Ele carrega um isopor com picolés para vender. "A música é a minha vida. Ela me trouxe concentração e tranquilidade. Quero continuar aprendendo até chegar a uma orquestra filarmônica", diz Natanael, que sonha em tocar no Teatro Municipal.
Tudo, aliás, começou com ele. Numa segunda-feira, em 2011, queria brincar com um vizinho, mas o menino já tinha compromisso: estava indo para a aula de viola do projeto Ação Social pela Música, que tem 18 anos de existência em comunidades cariocas e acabara de nascer no Alemão. Dois dias depois, Natanael foi junto e escolheu a viola como instrumento. Na aula seguinte, o irmão Gabriel o acompanhou. E escolheu um violino.
Débora Jesus da Paixão, a mãe dos meninos, conta que ela e o marido são acordados todo fim de semana com música clássica. A dona de casa passou a conhecer alguns dos grandes compositores pelos filhos. "Eu ficava com sono sempre que ouvia essas músicas. Mas eu e meu marido aprendemos a gostar. É tão bonito", diz.
Quando percebeu o talento dos filhos, o pedreiro Manoel da Paixão perguntou se eles não gostariam de tocar no teleférico do Alemão. E lá foram os dois mais velhos para a Estação Palmeiras, por onde passam centenas de turistas diariamente. Com o dinheiro que ganham em apresentações, os meninos ajudam a família. Deram roupas e uma sandália de presente para a mãe. Natanael e Gabriel compraram um celular novo para cada um. Agora começam a pensar num computador, já sonhando com chance de assistir a concertos pela internet.
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