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O retorno

Irmãs voltam à prisão da infância

Inaugurada em 1990, a creche Cantinho Feliz, Penitenciária Feminina do Paraná, abriga hoje 40 crianças, filhas de 37 presas | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Inaugurada em 1990, a creche Cantinho Feliz, Penitenciária Feminina do Paraná, abriga hoje 40 crianças, filhas de 37 presas (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Quando tinham 3 e 2 anos de idade, as irmãs Jaqueline e Patrícia (nome fictícios) viveram na creche da Penitenciária Feminina do Pa­­raná, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba. Foram quatro anos ali, de convivência com a mãe, que havia sido presa por tráfi­co de drogas. "Foi bom porque pu­­de ficar com a minha mãe. Não depende do lugar. Com minha mãe, eu estava bem cuidada", revela Jaqueline. Hoje, vinte anos de­­pois, as duas irmãs estão de volta à creche da penitenciária, agora como mães.

Patrícia, que antes era vendedora de videogames e vivia com a mãe no Paraguai, decidiu morar com a irmã em Colombo, região metropolitana da capital. Cinco dias após sua chegada, em agosto de 2007, foi presa com Jaqueline por tráfico de drogas. "Quando me dei conta pensei: nossa, olha onde eu estou. No mesmo lugar onde eu fiquei quando era criança", conta Patrícia. "Foi muito chocante. Ago­ra eu sei o que minha mãe sofreu quando estava presa", completa.

As duas chegaram grávidas à penitenciária, receberam acompanhamento pré-natal e deram à luz no Hospital Angelina Caron, na cidade vizinha de Campina Grande do Sul. Nesses quase dois anos de detenção, passaram o tempo cuidando dos filhos, que vivem na creche Cantinho Feliz, do próprio presídio. Jaqueline, de 23 anos, tem um filho de 1 ano e 10 meses e uma filha de 4 anos; Patrícia é mãe de uma menina de 1 ano e 7 meses.

A rotina é parecida com o dia a dia de uma casa: elas acordam ce­­do, lavam as roupas dos filhos e vão para a creche passar o dia com eles, voltando às celas apenas à noite, para dormir. Na Cantinho Feliz, são responsáveis pela limpeza do local, por isso não precisam trabalhar nos chamados canteiros. "A atividade que desempenham na creche conta como remissão de pe­­na. Para cada três dias trabalhados aqui, ficam um dia a menos detidas", afirma a diretora da penitenciária, Valderez Camargo da Silva.

Condenada a 26 anos de prisão por latrocínio, Maria (nome fictício) também faz parte do grupo de mães da Cantinho Feliz. Ela tem quatro filhos, mas apenas o mais novo, um menino de 1 ano e 9 meses, mora na creche. O marido também foi preso na ocasião e, desde então, nunca mais se viram, comunicando-se apenas por cartas. Quem cuida dos outros três filhos do casal é a mãe dela. "Não posso deixar meu filho me­­nor porque ela já tem muita responsabilidade com os outros. Se não fosse essa creche, ele não teria para onde ir", diz emociona­­da. "Aqui eu dou para ele muito mais amor e atenção do que dei para meus outros filhos, quando estava lá fora".

Há 26 anos, a Penitenciária Feminina do Paraná dispõe de um es­­paço para as detentas e seus fi­­lhos. Em 1990 foi inaugurada a Can­­tinho Feliz, que hoje abriga 40 crianças, filhas de 37 presas. Se­­gundo a direção da penitenciária, as gestantes são acompanhadas por médicos, psicólogos e assistentes sociais, além de contar com exa­­mes pré-natais. Ao receberem alta após o parto, são encaminhadas à chamada Galeria A da penitenciária, ala de incentivo ao aleitamento materno, onde permanecem até o filho completar 6 meses. Ao atingirem essa idade, as crianças passam a viver na Cantinho Feliz.

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