
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A Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) protocolou nesta sexta-feira (31) uma denúncia no Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) apontando indícios do uso de verba pública para financiamento de performances ofensivas a comunidades cristãs. Os repasses teriam sido realizados ao “Bloco da Laje”, grupo carnavalesco que gerou polêmica após uma apresentação de “Jesus” com teor sexual, em Porto Alegre, no último domingo (26). A cena foi amplamente divulgada nas redes sociais.
De acordo com a denúncia, um homem usando coroa de espinhos na cabeça, em referência a Jesus Cristo, realizou um “strip-tease” com movimentos de caráter sexual durante o “Bloco da Laje”. A ação ocorreu ao som da música “Pregadão”, que trata da crucificação em tom de deboche e chama de “gente nefasta” quem não concorde. Ao final da dança, o ator usa tanga estilo “fio-dental”.
Segundo a Anajure, a apresentação utilizou símbolos religiosos das comunidades cristãs para escarnecer a crucificação de Jesus Cristo, figura divina central da fé cristã.
“O episódio configura explícito caso de violação do artigo 208 do Código Penal, ante o escárnio público do povo cristão”, aponta a associação, ao citar ainda “vilipêndio público de objeto de culto religioso” devido ao uso da figura de Jesus Cristo “de forma aviltante e indecorosa”.
Mais de R$ 350 mil de repasse público ao Bloco da Laje
Ainda de acordo com o documento enviado ao MP, performances do “Bloco da Laje” já foram financiadas pelo estado do Rio Grande do Sul e pelo município de Porto Alegre, ultrapassando a quantia de 350 mil reais. Os comprovantes anexados são de anos anteriores e foram retirados no Diário Oficial e do site de consulta de financiamento público, Pró-Cultura.
Entre os repasses localizados pela Anajure estão subsídios com valores entre R$ 50 mil e R$ 120 mil autorizados pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul. Também há contratações de apresentações musicais pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa do Município de Porto Alegre.
Em nota enviada à Gazeta do Povo na segunda-feira (3), a Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac) afirma que o Bloco da Laje já teve três projetos que atenderam critérios previstos em edital e foram contemplados por recursos públicos. O primeiro foi o “Cortejos Bloco da Laje”, de 2013, seguido pelo "Bloco da Laje – 4 Estações”, de 2019, e também o projeto “Circulação Bloco da Laje 4 Estações”, de 2020 e 2021.
No entanto, a Sedac afirma que o cortejo realizado pelo Bloco em janeiro de 2025 — com a performance de teor sexual envolvendo a figura de Jesus Cristo — não contou com recursos da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac).
A Gazeta do Povo também entrou em contato com a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa do Município de Porto Alegre, e o espaço segue aberto para manifestação.
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Anajure solicita investigação
Segundo a Anajure, um dos projetos confirmados pela Sedac é o "Bloco da Laje – 4 Estações”, de 2019, que contém a música "Pregadão", em claro deboche à crucificação de Jesus Cristo. O videoclipe da música, inclusive, "inclui a mesma performance ofensiva", denuncia a associação.
“Esperamos que o Ministério Público não apenas apure a ocorrência de ofensa à honra coletiva das comunidades cristãs perpetrada pelos envolvidos, mas também o financiamento público a performances e produções cujo cerne é um ataque às próprias comunidades que compõem a sociedade sul-rio-grandense”, afirma a Anajure, em nota.
Ao MP-RS, a entidade solicitou investigação do episódio que pode configurar em vilipêndio religioso, dano moral à coletividade cristã e crime de racismo religioso. Afinal, “não é aceitável que o Estado se utilize do dinheiro dos contribuintes para financiar produções que ataquem a fé de seus próprios cidadãos”, finalizou.