Cerca de 40 jovens participaram na tarde de hoje de um "rolezinho" no Shopping Tambiá, no centro de João Pessoa. O evento foi marcado pelas redes sociais e, ao contrário do que vem ocorrendo em São Paulo, contou com a participação de poucos jovens da periferia. A grande maioria dos presentes era de universitários e estudantes do ensino médio, que integram movimentos estudantis.
Durante o passeio pelo shopping, sem portar cartazes nem dizer palavras de ordem, o grupo tentou arregimentar a participação de adolescentes pobres e negros que estavam no local e não sabiam do evento.
Há relato de ao menos um caso de discriminação. Três jovens que estavam no shopping e aderiram à causa disseram que foram abordados pela segurança do shopping pouco antes do começo do "rolezinho", levados a um banheiro e revistados."Disseram o que a gente tinha ido lá bagunçar e que iria preso se não fosse embora. Nunca tinha vindo a um shopping center, foi muito humilhante. Nunca mais quero voltar aqui", disse o estudante Fabrício de Oliveira, de 17 anos, morador da periferia de Bayeux, na Grande João Pessoa. Oliveira estuda em uma escola estadual, e a mãe recebe R$ 30 por dia de trabalho como faxineira.
Procurada pela reportagem, a superintendência do Shopping Tambiá não quis se pronunciar sobre a denúncia.
A segurança no shopping foi reforçada. De quatro seguranças que atuam por andar em dias normais, havia pelo menos dez hoje.
Onze agentes do comissariado da 1ª Vara da Infância e Juventude de João Pessoa também estiveram no local para, segundo disseram, fiscalizar a lei que proíbe a venda de álcool para adolescentes. Segundo eles, a ação é rotineira.
Em outubro de 2013, jovens negros e pobres foram barrados e revistados pelos seguranças do estabelecimento comercial.
Na época, movimentos sociais organizaram um protesto em frente ao shopping, que disse que abordava "suspeitos" que marcavam brigas na praça de alimentação pela internet.
Uma das jovens que já havia participado do outro protesto, a estudante Bárbara Mendes, 17, voltou para a nova manifestação. Moradora de um bairro de classe média da capital paraibana, ela vive com a mãe e os dois irmãos, que têm renda familiar de cerca de R$ 5 mil.
"Todos os dias isso acontece, essa abordagem preconceituosa dos seguranças é frequente. Querem "embranquecer" o shopping", disse.