
Propagada como a mais nova droga do mercado, o oxi vem sendo encarado pelas forças de segurança brasileiras como apenas uma estratégia do narcotráfico para ampliar as vendas e seduzir novos consumidores. É o que comprovam estudos feitos por peritos criminais da Polícia Federal (PF). "O que percebemos é que o oxi é apenas uma derivação da cocaína, um estágio anterior ou posterior ao crack, que não passa de uma jogada de marketing dos traficantes", explica o chefe da perícia da PF no Paraná, Silvino Schlickmann Júnior. O que se sabe, de fato, é que o oxi tem efeitos ainda mais destrutivos que o crack e é produzida principalmente no Peru e na Bolívia.
Uma análise criteriosa de 23 amostras de cocaína e de 20 amostras do suposto oxi apreendidas no Acre, feita no ano passado por peritos da PF, pôs em xeque a afirmação de que esta se trataria de uma nova droga. O estudo indica que formas de apresentação típicas da cocaína, como sal, crack e pasta base, vêm sendo erroneamente classificadas como oxi.
Os peritos federais Adriano Maldaner e Ronaldo Carneiro Júnior, principais autores do trabalho, destacaram que ficou claro não haver quantidades significativas de cal (óxido de cálcio) e de hidrocarbonetos (como querosene ou gasolina) nas amostras analisadas. "Os resultados não confirmam a informação de que quantidades significativas dessas substâncias teriam sido utilizadas na formulação de uma nova droga. Trata-se apenas de uma nova composição", afirma Maldaner.
De acordo com as análises, portanto, os usuários estariam consumindo diretamente pasta base (sem refino) e cocaína base (refinada) com elevados teores de pureza, acima de 60%, o que pode contribuir para agravar os efeitos estimulantes e psicotrópicos e aumentar a possibilidade de overdose. Quanto ao preço, mais baixo que o da cocaína em pó e até mesmo do crack, seria uma forma de viciar os consumidores mais rapidamente e assim ganhar mercado.
Análise laboratorial
Entre maio e julho do ano passado, pelos menos seis apreensões da "nova droga" foram feitas no Paraná, totalizando 13,7 quilos. A droga apreendida, no entanto, não passou por testes conclusivos para ser classificada como oxi. Para constar como prova no inquérito policial aberto contra acusados de tráfico de drogas independentemente do entorpecente com que foram flagrados , as amostras são encaminhadas para análise no Instituto de Criminalística do Paraná, em Curitiba. "O que fazemos é apenas verificar se a amostra contém a substância ativa, neste caso a cocaína, considerada ilícita, não a sua concentração, composição ou efeitos sobre os usuários", explica a perita do Laboratório de Química Legal Luciane Rocio de Lara França.
Para os órgãos federais, saber se essa pretensa nova droga está chegando ao país deve ser uma preocupação relativa à segurança nacional. Por se tratar de um crime muitas vezes internacional, a comprovação da existência de uma nova droga aciona o setor de inteligência, responsável por rastrear fornecedores e desvendar a logística de distribuição, explica Schlickmann Júnior.