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Automedicação

Jovens consomem remédios sem receita

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Aspirina, Viagra para impotência sexual, antibiótico e fluoxetina são alguns dos remédios da moda entre adolescentes. Cada um tem sua função, mas todos representam perigo da forma como estão sendo usados. Aspirina com Coca-Cola para ficar "aceso", Viagra para aumentar a potência sexual, antibiótico com álcool para dar barato, fluoxetina para minorar as frustrações amorosas. Os jovens encontraram um jeito próprio e perigoso de usar esses fármacos, mas não só eles fazem mau uso dos medicamentos. Em Curitiba, consulta encomendada pela Gazeta do Povo à Paraná Pesquisas revela que 56% das pessoas compraram remédios sem prescrição médica nos últimos 12 meses (leia mais na edição de amanhã).

Dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) indicam que 80 milhões de brasileiros têm o hábito de se automedicar, prática que leva à morte cerca de 20 mil pessoas por ano, vítimas principalmente da intoxicação e das reações de alergia ou hipersensibilidade. O risco é grande entre os jovens não só por terem herdado o hábito dos pais, mas também pelas suas misturas perigosas. Este foi um dos motivos que levaram as Faculdades Pequeno Príncipe a incluir o tema da automedicação no ciclo de palestras que a instituição vem fazendo em escolas públicas e particulares de Curitiba.

O aconselhável é sempre consultar um médico antes de ingerir qualquer medicamento. Contudo, a realidade é bem diferente num país onde menos de um terço dos 185 milhões de habitantes são cobertos por plano de saúde privado. Ou seja, sete entre 10 brasileiros dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). E as condições do SUS todos conhecem. Daí a opção pela automedicação para ganhar tempo e economizar na consulta e no exame médico. Mas nem sempre este é o caminho mais curto e mais barato para a cura. Os remédios sem prescrição médica podem agravar doenças, mascarar sintomas, ter efeitos colaterais danosos. Na melhor das hipóteses, não servem para nada.

Por acreditar ser praticamente impossível erradicar a prática, seja em país pobre ou desenvolvido, a Organização Mundial da Saúde recomenda a automedicação responsável. Mas como chegar a esse nível de conscientização? O Brasil faz o contrário. Além do hábito de se automedicar, o brasileiro está vulnerável a propagandas milagrosas, diz a coordenadora do curso de Farmácia das Faculdades Pequeno Príncipe, professora-doutora Rosiane Zibetti. "Tomou, passou", ironiza. Inverteu-se a ordem das coisas. A mensagem "ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado" recomenda primeiro a automedicação e só depois o especialista, caso algo não dê certo.

Remédios diferentes podem reagir entre si, ocasionando a interação medicamentosa, um anulando a ação do outro, ou potencializando. O perigo pode estar até num ato aparentemente inocente da mãe dando ao filho um analgésico para dor de barriga ou de cabeça, ou até mesmo em outras situações mais prosaicas. Quem está com gripe, por exemplo, pode agravar a secreção pulmonar ao tomar xarope para a tosse, ou piorar o quadro de sinusite e pneumonia ao ingerir descongestionante, ou gastar dinheiro à toa tomando injeções à base de eucalipto. O mais grave, porém, é que isso tudo associado pode provocar reações alérgicas e até choque anafilático.

Responsabilidade

O farmacêutico Christian Boller culpa a indústria por favorecer o consumo exagerado ao oferecer um percentual das vendas aos balconistas. Dessa forma, quem não tem formação adequada acaba fazendo a "empurroterapia" para engordar o salário. Mas a responsabilidade profissional está na pauta dos farmacêuticos. Não se trata de só vender remédio, mas de transformar a farmácia num local onde a pessoa possa entender a própria saúde. Parece utopia, mas Boller tem percebido uma boa aceitação no meio acadêmico. E, segundo ele, algumas farmácias já trabalham desta forma, recusando-se a vender remédio sem prescrição médica.

Há três tipos de medicamentos. O primeiro, de venda livre, não tem tarja. São, por exemplo, os analgésicos e os digestivos iguais ao sal de frutas. A dispensa da prescrição médica, no entanto, não significa que estejam livres de contra-indicações. O segundo tipo é de venda restrita, que precisa ter a prescrição médica, embora a receita não fique retida. São os de tarja vermelha, como antibióticos e antiinflamatórios. Já os de tarja preta têm a receita retida na farmácia e são controlados pela Polícia Federal porque podem causar dependência ou seqüelas quando mal usados.

As Faculdades Pequeno Príncipe iniciam em setembro uma campanha para limpar as farmácias caseiras dos alunos e funcionários. Estudantes do curso de Farmácia farão análise dos remédios que podem ser aproveitados, vão fracioná-los para doar a alguma entidade assistencial. A intenção é não deixar estocado remédio que não esteja sendo usado. Normalmente, os descartes das farmácias domésticas vão para o lixo ou o ralo, podendo contaminar o meio ambiente. Rosiane, que também coordena a campanha, acredita que a iniciativa pode vir a ser estendida para outras instituições de ensino.

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