Pela primeira vez, um estudo revela que os jovens negros de Curitiba e região metropolitana estão mais vulneráveis às desigualdades sociais. A análise foi feita pela socióloga Marcilene Garcia de Souza, entre agosto de 2004 e abril de 2005, com 190 estudantes concluintes do ensino médio, sendo 7% deles pretos e 28%, pardos.
A pesquisa faz parte de uma série que consta no livro Dimensões da Inclusão no Ensino Médio: mercado de trabalho, religiosidade e educação quilombola, lançado esta semana em Brasília e organizado pelo Ministério da Educação, Banco Interamericano do Desenvolvimento e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A análise mostra que os jovens negros (pretos e pardos) são os que possuem proporcionalmente menor renda quando comparados com os jovens brancos. Eles são 86% dos que têm renda familiar bruta de até um salário mínimo. Já nas famílias de rendimentos acima de três salários mínimos, os pardos são 50%, enquanto nenhum do grupo dos pretos possui esta renda. "Isso demonstra que este grupo de jovens precisa de políticas públicas específicas", argumenta Marcilene.
O estudante Ivanil Camargo, 26 anos, é um dos que está lutando para reverter as estatísticas. "Tive de parar de estudar para ajudar minha família", diz. Ele só conseguiu concluir o ensino médio há quatro anos, três a mais do que o considerado compatível. Recém-aprovado num concurso da Guarda Municipal de Curitiba, Camargo se prepara para prestar vestibular para Economia, no fim do ano. Ele faz parte dos bolsistas do Curso Positivo, em parceria com Instituto de Pesquisa para a Afrodescendência (Ipad).
Os números também apontam que os jovens negros possuem expectativas diferentes dos estudantes brancos com relação à universidade. Dos que acreditam que o ensino superior trará uma formação teórica voltada para a pesquisa, 73% são brancos e 27%, negros. Entre os estudantes que dizem esperar uma melhoria da situação profissional atual, os brancos são 51% e os pretos e pardos, 49%. "Isso demonstra que a preocupação dos negros é de resolver uma situação emergencial e sair da situação de exclusão", diz a socióloga.
Outro dado revela a cultura de racismo existente entre estes jovens. Ao serem questionados se concordavam ou não com a frase "brancos são mais inteligentes e negros são mais fortes", 75% dos que concordavam plenamente eram negros. Dos que discordaram da afirmativa, dois terços eram estudantes brancos. "Temos de refletir sobre o que esta sociedade construiu para que os negros tenham esta visão tão negativa sobre eles mesmos", conclui a pesquisadora.
Serviço: Outras informações sobre o curso pré-vestibular para negros no Ipad podem ser obtidas pelo telefone (41) 3018-0993.