Brasília Quatro jovens de classe média de Brasília chegaram a ser presos ontem por terem planejado, pela internet, a morte de um outro adolescente. O crime, que não chegou a acontecer, foi debatido de forma detalhada em uma sala de bate-papo da rede de computadores. Os diálogos foram interceptados pela Polícia Civil do Distrito Federal após uma denúncia anônima e revelavam que o assassinato aconteceria nesta semana. Os jovens três deles universitários e um no ensino médio haviam inclusive planejado jogar o corpo de sua vítima em uma represa localizada nos arredores da capital federal.
"Eu vou matar ele essa semana. Eu não quero pesar para o lado de ninguém. A gente já esquematizou. Vamos mandar a galerinha aqui matar ele e jogar no Santo Antônio. Ninguém vai saber. Pra fazer o mal tem que ter a manha, véi. Cabeça fria. Tem que ser na filosofia de Maquiavel", escreveu numa página da internet um dos acusados. A polícia não quis divulgar os nomes dos envolvidos no caso.
O motivo do desentendimento foi a ex-namorada de um dos jovens, que teria tido um breve romance com um conhecido do grupo. A partir do episódio, os dois começaram uma discussão pela internet e, em seguida, marcaram um encontro para acertar as contas. O adolescente, que tinha se envolvido com a ex-namorada do outro, chegou com dois rapazes, um deles armado. O encontro serviu como ameaça e, depois do episódio, os dois não se falaram mais.
Ontem, o rapaz que seria vítima do grupo soube pela polícia que sua morte estava sendo planejada na internet. A polícia monitorou as mensagens e apreendeu computadores nas casas dos jovens, que moram na Asa Sul e no Sudoeste, bairros da classe média brasiliense. Foram encontrados nos arquivos mais de 30 fotos dos acusados fazendo uso de bebidas alcoólicas e drogas, como cocaína. Algumas imagens mostravam integrantes do grupo posando com uma arma de fogo. Também foi apreendido na casa de um deles um comprimido de ecstasy.
Em depoimento prestado à Polícia Civil, o grupo negou a veracidade da conversa interceptada. Eles alegaram que tudo não passava de uma brincadeira. Admitiram, no entanto, que o revólver era de verdade. O dono da arma, um vigia de cemitério, foi localizado e preso. Ele admitiu ter emprestado o revólver aos adolescentes. Os acusados foram detidos, mas depois colocados em liberdade. "Os adolescentes vieram à delegacia prestar esclarecimento. A princípio, colocaram que a combinação do crime era uma brincadeira, mas admitiram que a arma era de verdade", disse a delegada Susana Machado.
Um dos rapazes é menor de idade, cursa o ensino médio e será investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente. Os três maiores, que são universitários, já foram indiciados e responderão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção de menores e porte de armas. A pena pode chegar a dez anos de prisão. O grupo ainda estaria tramando pela internet um segundo crime cujos detalhes não foram revelados pela polícia.
A delegada disse que os pais dos jovens também prestaram depoimentos.
Ela contou que, pela reação deles, não tinham a menor idéia da intenção dos filhos. "Os pais ficaram chocados e você percebia que eles jamais imaginariam que os filhos fossem capazes de uma atitude como essa", afirmou a delegada.
Interatividade
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