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Manifestantes permaneceram em frente do Fórum de Santana até o último dia do júri: para defesa, mídia e população já haviam condenado previamente o casal | Evelson de Freitas/AE
Manifestantes permaneceram em frente do Fórum de Santana até o último dia do júri: para defesa, mídia e população já haviam condenado previamente o casal| Foto: Evelson de Freitas/AE

Cinco dias

Relembre os principais momentos do júri mais esperado do ano:

Emoção

> No primeiro dia do julgamento do casal Nardoni, segunda-feira, a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira emocionou o tribunal. Testemunha da acusação, ela falou por mais de duas horas e chorou quatro vezes, uma delas quando contava o momento em que encontrou a filha, ainda inconsciente, na grama do Edifício London, onde moravam Alexandre Nardoni e Anna Jatobá. Ana Carolina levou às lágrimas uma das quatro mulheres juradas (dos sete jurados, três são homens).

Comoção popular

> Desde cedo, dezenas de pessoas se aglomeravam na porta do Fórum de Santana para tentar assistir ao julgamento ou prestar solidariedade, inclusive parentes de vítimas de violência. Somente 77 pessoas puderam acompanhar de perto o julgamento, que começou por volta das 16h40, quando o juiz Maurício Fossen começou a ler um resumo das 26 mil páginas do processo.

Testemunhos

> O depoimento do médico legista Paulo Sérgio Tieppo Alves, do Instituto Médico-Legal de São Paulo, marcou o segundo dia do julgamento, quando os testemunhos foram mais técnicos. A pedido do promotor Francisco Cembranelli, Tieppo apresentou fotos do corpo de Isabella ao júri. Nesse momento, a avó materna deixou o plenário chorando. Também prestou depoimento a delegada Renata Helena da Silva Pontes, que presidiu o inquérito, no 9º Distrito Policial de São Paulo. O promotor usou ainda duas maquetes, do prédio e do apartamento do casal Nardoni, para tentar provar a culpa do casal.

Depoimento

> Um dos momentos mais esperados do julgamento aconteceu quinta-feira, quando os acusados prestaram depoimento. E, embora tivessem versões bem semelhantes, caíram em contradição sobre um ponto importante da acusação da promotoria. Anna Jatobá desmentiu a versão que seu marido dera, horas antes, sobre o instante em que viram a janela do quarto de Isabella aberta e a grade de proteção, rasgada.

> A afirmação de Alexandre de que não lembrava que dissera, na fase do inquérito, haver uma terceira pessoa no apartamento, surpreendeu, porque essa era uma das teses de sua defesa.

  • Discussão entre pastor que defendia casal e populares: emoção marcou o júri mais esperado do ano

São Paulo - O júri mais aguardado da história recente do país chegou ao fim na madrugada de hoje com a condenação do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Conside­rados pelos jurados como responsáveis pelo assassinato da menina Isabella Oliveira Nardoni, de cinco anos, em março de 2008, eles tiveram sua sentença lida por volta de 00h30 da madrugada de hoje pelo juiz Maurício Fossen, cuja sentença ressaltou a frieza emocional dos réus. Ainda cabe re­curso.

Anna Jatobá, madrasta da menina, foi condenada por homicídio triplamente qualificado a 26 anos e oito meses de reclusão. Seu marido, Alexandre Nardoni, pai da garota, teve pena mais pesada porque o assassinato contra descendente é considerado mais grave. Ele foi sentenciado a 31 anos, 1 mês e 10 dias de cadeia. Como não obtiveram o direito de recorrer em liberdade, ele seriam levados logosapós o julgamento às penitenciárias onde já estão desde 2008.

A tripla qualificação se deve ao uso de meio cruel no assassinato; à ausência de possibilidade de defesa da vítima; e ao fato de o crime ter sido cometido contra menor de 14 anos. Os dois réus também receberam oito meses a mais de sentença cada um por terem tentado, no entendimento do júri, ocultar o crime para evitar a condenação.

Os jurados entenderam que Isabella foi atirada da janela do sexto andar do Edifício London, em São Paulo, depois de ela ter sido asfixiada. O pai e a madrasta estariam tentando simular a queda para disfarçar seu crime. Eles disseram, desde então, que uma terceira pessoa teria entrado no apartamento enquanto eles não estavam lá e atirado Isabella pela janela do quarto.

O júri, formado por quatro mu­­lheres e por três homens tomou a decisão depois de cinco dias de julgamento. Eles responderam às perguntas formuladas pelo juiz, que depois da condenação calculou a a pena que eles teriam de cumprir. Ambos foram condenados a iniciar a sentença em regime fechado.

O anúncio no Fórum de San­tana foi acompanhado de perto por muitos populares, que permaneceram lá durante toda a noite aguardando a sentença. Logo de­­pois do anúncio da sentença, transmitida por sistema de som para tevês e rádios de todo o país, a multidão comemorou, inclusive com fogos de artifício.

Peritos do Instituto de Crimi­nalística de São Paulo, que ajudaram a fornecer as provas para o julgamento, também esperavam em frente do Fórum. O caso é considerado um divisor de águas na história da perícia criminal brasileira, já que, devido à comoção popular, foram usados instrumentos de apuração do crime pouco comuns no país.

Com a decisão, Alexandre Nardoni e a esposa, que já estão presos desde 1998, foram levados novamente às penitenciárias onde já estavam para cumprir as suas penas. O tempo que eles permaneceram antes do julgamento na cadeia será descontado do total a que foram condenados. Ao ouvir a sentença, Alexandre teria permanecido impassível. Sua esposa chorou. Depois do fim do julgamento eles teriam direito a conversar com seu advogado para combinar sobre o recurso que será interposto.

Confronto final

O último dia de julgamento foi muito tenso. O clima pesado, mesmo antes da sentença, levou a ré Anna Carolina Jatobá a passar mal e chorar. O promotor Francisco José Taddei Cembranelli chamou os réus de mentirosos e o advogado Roberto Podval comparou o caso ao da menina Madeleine, a garota inglesa desaparecida em Portugal em 2007.

O promotor deu início à fase de debates com a clara estratégia de colocar o casal na cena do crime. Para isso, usou o que os laudos do Instituto de Cri­minalística trouxeram de mais "simples": a cronologia dos fatos, desde a chegada da família Nardoni ao edifício London na noite de 29 de março de 2008, até as manobras de reanimação aplicadas pelos bombeiros em Isabella.

Diante do olhar atento do réu Alexandre Nardoni, Cembranelli logo disparou: "No momento em que Isabella foi defenestrada do 6º andar estes dois (apontando para o casal) estavam dentro do apartamento." A linha do tempo usada pela acusação foi montada pela perícia com base apenas em dados técnicos, fornecidos pelas operadoras de telefonia, pelo GPS instalado no carro do casal e pelos registros de chamadas recebidas pela central de operações da Polícia Militar.

Enquanto falava da reação de dois moradores do London ao saberem que uma criança havia despencado, ligando desesperadas para o 190, Cembranelli se exaltou pela primeira vez: "Eles fizeram o que qualquer um de nós faria, menos o próprio pai", afirmou. "Se eu visse meu filho caído, eu pularia pela janela, desceria pelas escadas e não ficaria esperando o elevador chegar."

O promotor também jogou com a emoção dos jurados quando narrava o exato mo­­mento em que os bombeiros constataram a parada cardiorrespiratória da vítima. "O coração de Isabella parou de bater depois que a mãe chegou, como se ela a tivesse esperando para morrer."

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