Juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar (de terno com uma folha na mão) fala com a imprensa após encerrar a audiência nesta sexta-feira| Foto: Daniel Derevecki/Agência de Notícias Gazeta do Povo

Relembre o caso

O acidente envolvendo o ex-deputado aconteceu na madrugada do dia 7 de maio. Carli Filho dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Os ocupantes do Fit, Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20, morreram na hora.

O caso ganhou repercussão nacional após a Gazeta do Povo revelar que Carli Filho tinha 130 pontos na carteira de habilitação e do exame do Instituto Médico Legal(IML) informar que ele conduzia o veículo em estado de embriaguez. O acidente expôs um histórico de multas de políticos e de 68 mil cidadãos que dirigiam com a carteira de habilitação suspensa.

No dia 29 de maio, Carli Filho renunciou ao cargo de deputado estadual. O pedido oficial da renúncia foi encaminhado ao presidente da Assembleia, Nelson Justus (DEM), e Carli Filho perdeu o foro privilegiado. O ex-deputado prestou depoimento à polícia no apart hotel onde estava hospedado em São Paulo no dia 9 de junho. Ele disse não se lembrar de nada do acidente.

No dia 11 de agosto, após três pedidos de prorrogação de prazo, o delegado Armando Braga de Moraes concluiu o inquérito e indiciou Carli Filho por duplo homicídio com dolo eventual.

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Testemunha confirma que Carli Filho ingeriu bebidas alcoólicas e que não tinha condições de dirigir no dia do acidente

Médico que atendeu Carli Filho após o acidente participou da audiência nesta sexta
Na quinta-feira a movimentação foi intensa de jornalistas no Tribunal de Júri
Cristiane Yared, mãe de um dos jovens mortos no acidente, na entrada da sala onde ocorreu a audiência (Foto tirada na quinta-feira)
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O juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar terminou por volta das 10h45 desta sexta-feira (5) o segundo dia de audiência de instrução sobre o acidente provocado pelo ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho. Foram ouvidas três testemunhas na manhã desta sexta: duas de defesa e uma de acusação. Ainda faltam serem ouvidas 14 pessoas nesta fase de instrução do processo – seis delas moram em Curitiba, mas não foram localizadas para comparecer ao Tribunal do Juri, e o restante terá de ser ouvido em outros locais, pois não moram na capital.

Somente depois de ouvir todas as testemunhas o juiz Avelar vai definir se Carli Filho será julgado por um júri popular pelo crime de duplo homicídio. O ex-parlamentar também pode ser convocado para conversar com o juiz. Carli Filho é acusado da morte de dois jovens em um acidente de trânsito que aconteceu em maio do ano passado.

Após o encerramento da audiência nesta sexta, o juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar conversou com jornalistas que estavam no local. Avelar não deu um prazo de quando irá determinar se o caso irá para júri popular ou se a sentença será dada apenas por um juiz. Por lei, a instrução de um processo tem um prazo de até 90 dias para ser encerrada. Se Carli Filho não conversar com o juiz, a decisão será dada do mesmo jeito, apenas sem a defesa feita pelo próprio réu.

Antes de ser ouvido, porém, todas as testemunhas arroladas no processo precisam prestar depoimento ao juiz. Seis testemunhas de defesa não compareceram nos dois dias da audiência. Teoricamente, todas moram em Curitiba, mas não foram localizadas para irem ao Tribunal do Júri.

O juiz Avelar deu um prazo de três dias para a defesa de Carli Filho se manifestar sobre a ausência das testemunhas. Além dessas seis pessoas, ainda faltam outras oito que estão morando em outras cidades. Foram enviadas cartas precatórias para essas outras regiões e os juízes das comarcas irão fazer as audiências e depois enviar os documentos para Curitiba. Uma testemunha está em Cuiabá-MT, uma em Joinville-SC, quatro em São Paulo, uma em Guarapuava e outra em Florianópolis-SC.

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De acordo com o advogado Elias Mattar Assad, que representa a família de um dos jovens mortos no acidente, foram contratados advogados para acompanhar essas audiências fora de Curitiba. "A família Yared nos autorizou a contratar advogados nas cidades onde haverá as audições para acompanhar os depoimentos", disse. Todas as testemunhas de acusação já foram ouvidas.

Após ter todos os depoimentos em mãos, o juiz Avelar vai tentar marcar uma audiência para conversar com Carli Filho. "Não é obrigatório [ter que ouvir Carli Filho], isso é uma opção dele", disse o juiz Avelar. Se acontecer, a audiência com o ex-deputado provavelmente será somente após o Carnaval, pois não haverá tempo hábil antes disso. Sobre o ritmo do processo, o magistrado afirmou que "o desenvolvimento dos trabalhos está sendo muito bom".

Ao ser questionado para que emitisse uma opinião sobre dirigir embriagado e em alta velocidade, o juiz Avelar foi direto. "Não tenho como me manifestar sobre isso, só quando sair a decisão final", definiu. Esse será o ponto chave para decidir se Carli Filho será julgado pelo júri popular.

Testemunhas

Entre as testemunhas ouvidas nesta sexta estavam o garçom Alex Nascimento Silva, que trabalha no restaurante onde o ex-deputado jantou no dia do acidente. Nascimento repetiu na audiência o que havia falado em depoimento para a polícia. "Ele [Carli Filho] saiu embriagado e não tinha condições de dirigir", afirmou aos jornalistas que acompanharam o segundo dia de audiência.

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Pelo lado da defesa, foi ouvido o médico neurocirurgião José Antonio Maenguê, que atendeu Carli Filho em Curitiba após o acidente. Na conversa com a imprensa, o médico afirmou que existem níveis de trauma que vão do 3 ao 15. "Carli chegou no nível 5, extremamente grave", disse. A outra testemunha de defesa foi uma pessoa que trabalhava no gabinete do ex-deputado na Assembleia.

O advogado de Carli Filho, Roberto Brzezinski Neto, não adiantou qual será a estratégia da defesa do ex-parlamentar. "Eu faço a defesa dele [Carli Filho] com base no que está escrito no processo. Para definir a estratégia eu tenho que esperar todos os depoimentos das testemunhas", explicou.

Perícia particular

O computador do posto de combustível que registrou o acidente vai passar por uma nova perícia. Desta vez, o equipamento será analisado por um perito particular contratado pela família Yared. Na tarde de quinta-feira, com autorização da Justiça, o perito Walter Kauffmannteve acesso ao computador que estava em poder a Polícia Científica. O perito já havia analisado as imagens captadas pelas câmeras de segurança do posto, mas não tinha liberação para periciar o computador onde as imagens ficaram armazenadas.

O juiz Avelar, no entanto, afirmou nesta sexta-feira que não autorizou uma nova perícia no equipamento, apenas que a acusação tivesse acesso ao computador. "Não se trata de uma perícia. Se eles fizerem não quer dizer que eu vou aceitar", disse.

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O advogado da família Yared, Elias Mattar Assad, sustenta que houve adulteração nas imagens. O laudo do perito apontou que alguns frames da gravação foram apagados. A principal suspeita é que as imagens tenham sido removidas para ocultar o envolvimento de outro veículo no acidente.

Kauffman afirmou que há 80% de chance de recuperar as imagens apagadas. "A polícia não tem o software adequado para recuperar os dados que foram apagados do computador", disse o perito. A Justiça concedeu 30 dias para ele analisar o equipamento e apresentar seu laudo.Divergência

Os advogados de Carli Filho e da família Yared divergem sobre legalidade da nova perícia. A defesa aponta que não há motivo para uma nova investigação no computador onde estão as imagens, porque nem o Instituto de Criminalística do Paraná tem condições de avaliar o material. "Não houve em momento algum qualquer determinação do juiz para que fosse realizada perícia", complementou o advogado de defesa.

Para o advogado da família Yared, Elias Mattar Assad, a defesa de Carli está "mal informada". Ele destaca que assim que a possível adulteração foi mencionada o Ministério Público iniciou investigações. "Ele está mal informado, tanto que abriram um inquérito específico para apurar isso", apontou.