Visita é direito assegurado
A visita de cônjuge, companheira, parentes e amigos a presos é um direito assegurado desde 1984 pela Lei de Execuções Penais. "A lei é aplicada dentro do que a estrutura permite. Atualmente o local não oferece condições, mas estamos tentando buscar uma saída para o imbróglio", lembra o delegado adjunto da 16.ª SDP de Campo Mourão, Nagib Nassif Palma, que acredita que a visita ajuda na ressocialização dos presos.
Para Palma, não há um culpado pela situação. "O problema acontece em todo o país, onde parte da população carcerária deveria estar em presídios e não cumprindo penas em delegacias", afirma. Entre os 110 presos da delegacia de Campo Mourão, 81 são provisórios e 29 são condenados, que deveriam estar em presídios. "Se houvesse vagas em presídios, a delegacia ficaria com 30% a menos de presos."
A falta do contato do filho com o pai, segundo a psicóloga Alice Moraes, pode causar distúrbios nas crianças. "A ausência paterna pode gerar insegurança, depressão e agressividade. A família é a base da personalidade da criança e a partir do momento que existe essa ausência, os distúrbios podem ser irreparáveis", explica Alice. Mas o contato precisa ser saudável, enfatiza. "O fato de saber que o pai está preso em um ambiente nefasto causa uma revolução no comportamento da criança."
Campo Mourão Há quase 40 dias, os 110 detentos da 16.ª Subdivisão Policial (SDP) de Campo Mourão tiveram as visitas dos filhos suspensas na carceragem. A decisão, assinada pelo juiz corregedor Juliano Manika em 11 de maio, fere a Lei 7.210 do Código de Execuções Penais, que garante aos presos o direito da visita de cônjuges, parentes e amigos. Manika justifica a medida alegando insalubridade na cadeia pública. "A carceragem gera riscos de contaminação para elas (as crianças) por apresentarem baixa imunidade. Por mais limpa que seja, é cadeia pública, onde o local é pequeno, fechado, com aglomeração de pessoas, sadias ou não", explica.
O juiz também aponta a superlotação como fator de risco. "A cadeia foi projetada para 64 presos, mas abriga 110 detentos. Há uma dificuldade natural de ventilação, de higiene e limpeza. Além disso, em uma situação de tensão, elas podem ser tomadas como reféns", aponta.
A entrada de crianças e adolescentes foi permitida por uma portaria do delegado titular da 16.ª SDP, Haroldo Davison, às vésperas do Dia das Mães. A atitude foi criticada pela Corregedoria. "Antes de liberar o acesso de crianças, o delegado deveria criar uma rotina diferenciada, com um ambiente menos agressivo e mais saudável", diz Manika. Davison disse ter liberado as visitas para manter a harmonia na cadeia. "Todo pai quer ver o filho e vice-versa", lembra.
Para encontrar uma alternativa, integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o delegado e o Judiciário estão estudando soluções. Uma das alternativas, apontada pelo delegado adjunto Nagib Nassif Palma, seria reestruturar o solário. "Ele poderia ser pintado, tornando o local mais agradável às crianças, mas em dias de chuva a visita não seria possível", lembra. O juiz observa que a suspensão não é definitiva. "Se o local indicado pelo delegado não afrontar os direitos das crianças, desde que o Juiz da Vara da Infância concorde, o acesso será liberado."
As visitas são realizadas aos sábados, das 9 às 17 horas. Na semana passada, a dona de casa Maria Luiza, que visitava o marido preso por tráfico de drogas, disse que há insatisfação dos presos. "Não sei o que o vai acontecer, mas coisa boa não é", afirmou. Outra mulher, que preferiu não ser identificada, só visitou o marido porque o filho de dois meses foi deixado com uma vizinha. Segundo ela, a cozinha da delegacia seria uma alternativa para as visitas. "É um espaço grande, menos agressivo."
Mãe de dois filhos, de 2 e 5 anos, e grávida de cinco meses, Cleonice dos Santos, que tem o marido preso por homicídio, acredita que o ambiente da carceragem não é apropriado às crianças. "É um local ruim, que os filhos irão guardar para sempre. Espero que seja encontrado um ambiente melhor para visitas", diz.
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