Ludmila Grilo também disse que em muitos aspectos o “regime” instaurado no Brasil já ultrapassou limites estabelecidos até pela ditadura da Venezuela| Foto: Reprodução/Redes sociais
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Banidas das redes sociais no Brasil por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e aposentada compulsoriamente da magistratura, a juíza Ludmila Lins Grilo informou que teve as contas bancárias bloqueadas também por ordem de Moraes.

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Procurada pela Gazeta do Povo, a juíza disse que seu advogado ainda não foi intimado e que soube da autoria da decisão porque a gerente do banco disse ter recebido a ordem de bloqueio do ministro Alexandre de Moraes.

Ludmila acredita que a decisão pode ter ligação com o fato de ter se exilado nos Estados Unidos para evitar a perseguição do Judiciário, no Brasil.

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Perguntada sobre que providências pretende tomar, Ludmila disse que "enquanto houver ditadura no Brasil" não pretende voltar.

"No exterior, entretanto, usarei esse fato em meu processo de asilo e em outras ações internacionais sobre as quais não posso dar detalhes no momento", disse Ludmila à Gazeta, neste sábado (10).

A informação do bloqueio das contas havia sida dada pela juíza durante a transmissão de uma live no seu canal do Youtube, nesta sexta-feira (9). O canal só pode ser acessado no Brasil por meio do serviço de rede privada virtual ou virtual private network (VPN, em inglês). Ludmila disse que ainda não teve acesso à decisão.

“Ainda que eu perca tudo, não quero ser omissa [...] Não me arrependo de nada do que fiz, faria tudo de novo, viria para o exílio, perderia salário, não estou nem aí. Tenho que fazer o que é o certo, que é o que estou fazendo aqui [...]  Podem contar comigo. Inclusive, vou dar uma notícia em primeira mão: minhas contas bancárias foram bloqueadas. Então, hoje em dia nem a minha aposentadoria eu tenho mais”, disse a juíza na live.

Na ocasião, a juíza ressaltava a importância da contribuição financeira a perseguidos e exilados por conta de críticas ao Judiciário brasileiro, em especial ao STF. Além da juíza, outros brasileiros, como os jornalistas Allan dos Santos e Paulo Figueiredo, escolheram os Estados Unidos como destino depois de impelidos a deixarem o Brasil por conta de decisões do STF.

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Na live, a juíza comentou sobre a operação que mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados esta semana e disse que usará o canal para comentar “decisões injustas”.

Ludmila também disponibilizou um e-mail (tvinjusticabr@gmail.com) para que seus telespectadores enviem pedidos de comentários sobre decisões que consideram injustas e lembrou que o seu canal só pode ser acessado no Brasil por VPN.

“Quem não tem VPN está dentro da intranet do Alexandre de Moraes. Quem não tem VPN está circunscrito a ver apenas o que o Alexandre de Moraes quer que você veja”, afirmou a juíza.

Ludmila também cobrou uma reação dos professores de Direito que, segundo a juíza, têm o dever moral de alertar sobre os abusos cometidos por integrantes do Judiciário brasileiro.

“Se você tem algo a dizer e se cala, você está sendo cúmplice. E se você se cala tendo lugar de fala, sendo professor de direito, sendo reconhecido na sociedade como uma pessoa que pode falar sobre aquele assunto e você se cala, você é cúmplice. É lamentável e eu falo com dor no coração, muitos amigos meus, inclusive, que são professores estão calados. Essas pessoas são cúmplices, essas pessoas são covardes. E vou dizer do fundo do coração: são quase todos, quase 100%”, afirmou a juíza.

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Ludmila destacou ainda que em muitos aspectos o "regime" instaurado no Brasil já ultrapassou limites estabelecidos até pela ditadura da Venezuela. De acordo com a juíza, o Brasil já pode ser equiparado ao regime comunista da China.

Ludmila foi “cancelada” por criticar o STF e por ser amiga de Allan dos Santos 

Em maio deste ano, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decretou a aposentadoria compulsória de Ludmila Grilo, que atuava como juíza na Vara Criminal e da Infância e da Juventude da comarca de Unaí.

A decisão se deu em decorrência de processos que a  juíza respondia no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Ludmila virou alvo do CNJ por fazer análises críticas sobre decisões do STF em publicações na internet e em aulas fechadas; por participar de eventos conservadores; e por ser amiga do jornalista exilado, Allan dos Santos.

Segundo o corregedor do CNJ, ministro Luis Felipe Salomão, "além de aparentar desrespeito à ordem do Supremo”, as ações da juíza podem “configurar crimes tipificados no Código Penal” por ter, supostamente, violado “deveres funcionais inerentes à magistratura, notadamente o de manter conduta irrepreensível na vida pública e particular”.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]