O júri do caso Isabella recomeça, nesta sexta-feira, com os debates entre a acusação e a defesa. A expectativa é que a sessão termine ainda nesta sexta, com o anúncio da sentença. Anna Carolina Jatobá foi a primeira a ser levada ao Fórum de Santana, onde chegou às 8h08m. Alexandre Nardoni chegou mais tarde, por volta de 8h40m.
Liberada pela defesa, a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, não irá ao Fórum, segundo a advogada Cristina Christo Leite. A mãe de Isabella estaria muito abalada e teria dito que espera apenas por justiça.
Nos interrogatórios realizados nesta quarta-feira no Fórum de Santana, em São Paulo, Anna Carolina Jatobá contradisse o marido na principal prova contra ele apresentada pela perícia.
Primeiro a ser interrogado, Alexandre Nardoni disse por duas vezes que, em momento algum, colocou a cabeça pelo buraco por onde a filha Isabella foi jogada. O ato, segundo a perícia, deixou uma marca na camisa dele, que só seria feita se tivesse carregando um peso de 25kg (peso de Isabella ). Alexandre disse que estava com o filho Pietro no colo, mas negou ter colocado a cabeça para fora. A negativa irritou a acusação. O promotor Francisco Cembranelli chegou a perguntar se a cabeça dele tinha mais de 50 cm, já que o buraco, conforme os autos, tinha 47 cm.
- Assim que entramos no quarto eu vi a janela aberta e uma gota de sangue bem próxima da cama do Pietro. O meu marido foi até a janela, colocou a cabeça para fora, virou-se para mim, já branco e disse 'Carol, a Isabella está lá embaixo' - disse ela.
Em seguida, falou sobre sua reação:
- Comecei a gritar. Não sei se falei palavrões. Só sei que coloquei o joelho na cama e, quando vi a Isabella lá embaixo, comecei a gritar desesperadamente - disse Anna Carolina, confirmando que ele estava com Pietro no colo e ela, com Cauã, o mais novo.
Outra contradição diz respeito à forma como o casal deixou o apartamento, depois do crime. Em seus depoimentos à justiça, Alexandre reiterou que, assim que percebeu que a filha tinha sido jogada pela janela, desceu de elevador apenas com um dos filhos e pediu para que a mulher ficasse no apartamento para telefonar para seu pai. Já a madrasta disse que ela chegou a dar dois telefonemas, um para o pai e outro para o sogro, e ainda conseguiu descer junto com o marido no mesmo elevador.
O promotor Francisco Cembranelli também apontou contradições entre o que Jatobá disse na delegacia e depois em juízo. Um delas, foi a de que a madrasta de Isabella só afirmou ter perdido a chave do apartamento no segundo depoimento.
Anna Carolina também admitiu que aumentou e inventou informações quando registrou um boletim de ocorrência sobre uma agressão que ela teria sofrido do pai, Alexandre Jatobá. O depoimento dela só terminou pouco antes das 21h.
Alexandre Nardoni tentou desmoralizar o trabalho da polícia e acusou os delegados Calixto Calil Filho e Renata Pontes - a delegada foi a responsável pelo inquerito que colocou o casal no banco dos réus - de terem oferecido a ele a possibilidade de livrar a mulher do processo, desde que assumisse a culpa por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A proposta teria sido feita por Calil Filho e Renata Pontes teria perguntado a ele se aceitava ou não.
Alexandre chegou a dizer que o pai, o advogado Antonio Nardoni, vem recebendo ameaça e vem sendo seguido por policiais do 9º Distrito Policial, onde a morte da neta foi investigada. Numa afirmação que surpreendeu a plateia e arrancou um sonoro 'ohhh", ele disse que a mãe de Ana Carolina Oliveira queria que a filha abortasse Isabella . Rosa Maria Oliveira não estava na sala neste momento.
Ríspido ao responder as perguntas da acusação, Alexandre foi acusado pelo promotor Francisco Cembranelli de ter ido de óculos ao Tribunal para esconder o choro sem lágrimas.
Duro com o réu, Cembranelli questionou o motivo de Alexandre usar óculos de grau. Alexandre respondeu com raiva:
- Sempre usei. O senhor não acompanha minha vida, por isso não sabe.
Cembranelli respondeu:
- Talvez para esconder o choro sem lágrimas.
Anna Carolina, que começou o depoimento com voz chorosa, demonstrou nervosismo. Falou muito depressa, atropelando as palavras, e disse que, por várias vezes, ouviu de investigadores e também da delegada Renata Pontes 'indiretas' para que ela incriminasse o marido.
Anna Jatobá se emocionou duas vezes durante o depoimento, uma quando lembrou ter encontrado Alexandre chorando horas depois da notícia da morte de Isabella e outra quando foi perguntada como era sua relação com a menina. A madrasta embargou a voz ao falar de Isabella.
- Eu tinha ela como se fosse minha filha. Nas férias, ela nem queria ir para a casa da minha sogra, queria ficar no nosso apartamento. A relação dela com o pai era de muito carinho.
Por várias vezes, o juiz Maurício Fossen teve de pedir que ela falasse mais devagar e fosse mais breve em seus relatos. Assim como o marido, ela atacou a polícia.
- Eles queriam que eu falasse que foi o Alexandre. A doutora Renata me disse várias vezes que ele tinha cara de psicopata. Os investigadores davam indireta, como eu era estudante de Direito, perguntavam se eu tinha noção de como era uma cadeia - disse.
Dando continuidade à conversa que teve com os policiais no dia seguinte ao crime, ainda no apartamento do Edifício London, Anna Jatobá disse que teria ali mesmo afirmado que não faria qualquer tipo de confissão.
- O senhor não vai tirar de mim o que não sei. Não vou falar o que não presenciei - disse ela.
Anna Jatobá admitiu que os dois brigavam muito até o nascimento do primeiro filho.
- Antes do nascimento do primeiro filho, eu discutia bastante com ele, gritava muito. Eu brigava direto, mas não como se fala por aí. Nunca ele partiu para cima de mim nem eu para cima dele. Eu só xingava - disse.
Perguntada sobre sua relação com a mãe de Isabella, Anna Jatobá chegou a dizer que as duas trocavam mensagens via internet entre 2003 e 2004 quase todos os dias para falar sobre Alexandre e outros vários assuntos. Fossen quis saber se as duas já tinham brigado alguma vez.
- Sem briga, mas ela vivia me infernizando a vida. Ela me falava que mandava mensagem para ele (Alexandre) e eu achava isso absurdo. Teve um dia que fomos buscar a Isa e o Alexandre nos colocou frente a frente. Nós começamos a discutir, mas foi uma coisa rápida - disse.
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