O quinto dia do julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, começou nesta sexta-feira (26) com a leitura de depoimentos por carta precatória de testemunhas consideradas importantes para o Ministério Público. Depois passaram a ser lidas as peças de defesa. Os advogados do réu disseram que pediram a leitura de 3 mil páginas. Somente depois Bola deve ser ouvido, o que pode não acontecer nesta sexta. Com isso, o júri do Fórum de Contagem, Minas Gerais, permanece sem previsão de término.
O destaque até esta manhã ficou por conta da leitura da carta da dentista Ingrid Calheiros, atual mulher do goleiro Bruno e namorada dele na época do desaparecimento de Eliza Samudio. A dentista diz que Bruno dizia não saber do paradeiro de Eliza e que esperava que ela fosse encontrada. Ela também afirmou ter ouvido do namorado que "Bola seria um matador".
Com o término das oitivas das testemunhas nesta quinta-feira (25), todas as atenções de agora em diante se voltam para o interrogatório de Bola, acusado de matar Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes. O ex-policial é acusado de homicídio duplamente qualificado da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes - meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima - e ocultação de cadáver, e pode pegar mais de 30 anos de prisão. Tanto defesa quanto acusação descartam a possibilidade de uma confissão do réu.
"Essa hipótese é inconcebível", prevê o promotor Henry Wagner Vasconcelos Castro. O quinto dia de julgamento no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, deve começar com a leitura de peças do processo. Neste momento, defesa e acusação terão a oportunidade de mostrar documentos e exibir vídeos para o corpo de jurados. Somente depois desta etapa o réu será ouvido.
Após o interrogatório de Bola, haverá o debate entre defesa e acusação, último momento do júri antes da divulgação da sentença. Com o ritmo lento dos trabalhos, o Tribunal de Justiça (TJ) de Minas cogita a possibilidade de estender o julgamento até sábado ou retomá-lo na segunda-feira. A última opção, no entanto, é considera mais complicada por causa da incomunicabilidade dos sete jurados.
Nesta quinta-feira, o delegado aposentado e vereador de BH, Édson Moreira (PTN), encerrou o interrogatório das testemunhas. Arrolado pela defesa, ele falou por mais de 15 horas. A sessão foi marcada por um bate-boca entre o promotor Henry Castro e o advogado Ércio Quaresma, um dos 12 que represetam o réu. Quaresma acabou tendo a palavra cassada pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. No entendimento da magistrada, o defensor atuava para protelar o julgamento e intimidar a testemunha.
Por vários momentos, o interrogatório de Moreira teve de ser intrrompida por causa de discussões entre defesa e acusação. Em um deles, Quaresma perguntava se havia sido apurada a relação dele com qualquer um dos réus no processo sobre a morte de Eliza. Moreira falou que a investigação estava preocupada em esclarecer o crime. O advogado acusou o Ministério Público de ter insinuado a participação dele na morte de Eliza. "Se a carapuça lhe serve, é problema do senhor", disse o promotor Henry Wagner.
O promotor falou também que o MP nunca fez tal insinuação. Quaresma e Henry Wagner chegaram a discutir por alguns instantes antes de as perguntas serem retomadas. "O senhor é um canalha mentiroso", disse o promotor. Quaresma rebateu: "O senhor que é um canalha, e eu vou provar isso". E continuou: "É um covarde em todos os seus aspectos e não é homem de assumir o que faz."
Como na quarta-feira, o objetivo da defesa foi, a todo momento, desqualificar o trabalho da polícia, mostrando lacunas na fase de investigação. Ao falar das buscas pelos restos mortais da vítimas, Quaresma falava em "suposto corpo" de Eliza. O advogado também fez perguntas sobre a perícia realizada no sítio Bruno, questionando o fato de Moreira não saber de quem era o sangue encontrado no travesseiro do quarto em que Eliza ficou. Quaresma também quis saber por que não foi pedida a quebra de sigilio bancário de Bola, Bruno e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, os dois últimos já condenados no processo. "Ou esse moço fez alguma coisa ou não fez nada, só apareceu na televisão para dar entrevista", disse Quaresma sobre a testemunha.
Moreira foi questionado sobre o vazamento de um vídeo feito durante a transferência de Bruno do Rio para Minas Gerais em 8 de julho de 2010. O advogado Ércio Quaresma perguntou se o delegado aposentado foi informado pela delegada Ana Maria Santos de que a diligência foi filmada. Moreira respondeu que não e que, a partir do momento que soube do vídeo, pediu que a fita fosse encaminhada ao Instituto de Criminalística. O delegado informou que soube do material por um policial depois de ser veiculado na TV. No vídeo, exibido em reportagem do Fantástico, da TV Globo, o jogador disse que era inocente, e creditou ao amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, o sumiço da ex-amante.
Ércio Quaresma iniciou o interrogatório com perguntas sobre os locais onde foram feitas buscas ao corpo de Eliza. Édson Moreira listou a Lagoa do Nado, Lagoa Suja, o sítio de Bruno e o sítio de Marcos Aparecido entre os alvos das diligências que coordenou. Quaresma emendou perguntas sobre o uso do luminol. O advogado questionou se Moreira se informou sobre o uso de substâncias químicas para impedir a eficácia do luminol. Mas Moreira disse que não conversou com os peritos sobre isso. E ao responder porque não pediu a quebra de sigilo bancário de Bruno, Macarrão e Bola, à época dos fatos, Moreira disse que o MP afirmou que em tempo oportuno seria feita essa suplementação.
Relembre o caso
Segundo a Justiça, Eliza Samudio, de 25 anos, foi morta durante uma briga pelo reconhecimento da paternidade do filho Bruninho. Eliza Samudio conheceu Bruno numa festa em maio de 2009, quando tinha 24 anos. Ela engravidou do então goleiro do Flamengo e em outubro o denunciou à polícia, acusando-o de tê-la sequestrado, com ajuda de dois amigos, mantendo-a em cárcere privado e obrigando-a a tomar uma substância abortiva. Bruninho acabou nascendo em 10 de fevereiro de 2010. Em junho de 2010, Eliza desapareceu. Ao todo, nove pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por participação no crime.
Acusado de ser o mandante da morte de Eliza, o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes foi condenado a um total de 22 anos e 3 meses de prisão em março. De acordo com a sentença proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, o ex-atleta recebeu as penas de 17 anos e seis meses, em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado; três anos e três meses, em regime aberto, pelo sequestro de Bruninho, seu filho com Eliza; e um ano e seis meses, em regime aberto, por ocultação de cadáver.
Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno, foi absolvida dos crimes de sequestro e cárcere privado de Bruninho no mesmo julgamento. De acordo com o promotor Henry Wagner Vasconcelos Castro, "Dayanne foi manobrada por todos os envolvidos, incluindo o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé", que, segundo o Ministério Público, também teria participado da trama. Durante a sua fala, o promotor chamou o ex-goleiro de "canalha" e "criminoso facínora".
Em novembro do ano passado, no primeiro julgamento do caso, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, braço direito de Bruno, foi condenado a 15 anos de prisão, por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado de Eliza. Já Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do ex-goleiro, foi condenada a cinco anos por sequestro e cárcere privado de Eliza e Bruninho.
Um primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, que era menor de idade à epoca do crime, em 2010, foi condenado a medida socioeducativa por atos infracionais análogos a homicídio e a sequestro e já está em liberdade. Em fevereiro deste ano ele concedeu uma entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, onde afirmou que Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, seria o principal culpado da morte da modelo, além de ter planejado o assassinato do filho de Bruno com Eliza.