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Invasão de igreja em Curitiba

Direita e esquerda debatem “caso Renato Freitas” em júri simulado no RJ

Relatório pede cassação de Renato Freitas por manifestação política no interior de igreja. (Foto: Malik Fotografia/Mandato Renato Freitas)

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Um júri simulado irá analisar o caso do vereador Renato Freitas (PT) que, em 5 de fevereiro, invadiu uma igreja em Curitiba junto com outros manifestantes para protestar contra a morte do congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro. O evento é organizado pelo Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF) e está marcado para quinta-feira (9), das 9h às 12h, no auditório da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, que fica no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Freitas deve participar da simulação. Por causa da invasão, ele pode ser cassado pela Câmara Municipal de Curitiba e perder o mandato. A defesa do parlamentar nega que tenha ocorrido a invasão e argumenta que ele entrou de forma pacífica no templo católico, a Igreja do Rosário, após o término da missa.

Na simulação, a defesa do vereador será feita por três advogados de esquerda - Saul Tourinho Leal, constitucionalista; Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, criminalista; Renato Ferreira, advogado e doutorando em Sociologia e Direito (UFF); e também por um representante da direita: William Douglas Resinente dos Santos, desembargador federal, doutor em Direito Constitucional, professor e coordenador do evento. Eles irão apresentar a argumentação pela não cassação do parlamentar.

Já a acusação será composta por representantes da direita. São eles: Ludmila Lins Grilo, juíza e professora de Direito Penal; Paulo Cremoneze, advogado; Bernardo Kuster, jornalista e diretor de opinião do jornal Brasil Sem Medo (BSM); e Hélio Bolsonaro, deputado federal (PL-RJ). O grupo vai defender que Freitas deve ser cassado.

O julgamento será presidido por Ivone Ferreira Caetano, a primeira juíza e desembargadora negra do estado do Rio de Janeiro. Dois convidados também terão direito à fala: Frei David, da ONG Educafro, e João Daniel Silva, estudante de Direito e presidente da Associação Brasileira de Juristas Conservadores (Abrajuc).

Debate de ideias

Além do fato em si, o júri simulado trará à tona questões sobre liberdade de expressão e liberdade religiosa. Será uma possibilidade de representantes da direita e da esquerda apresentarem um debate de ideias sobre o caso e sobre as referidas liberdades.

"Há muito tempo a direita e a esquerda não debatem juntas. Precisamos acabar com o muro que existe entre brasileiros, pois, afinal, é conversando que a gente se entende. Não bastasse esse momento singular, quase único, ainda estamos diante de um caso que condensa as maiores discussões do Brasil de hoje: política, liberdade de expressão e liberdade religiosa”, afirmou Santos, desembargador federal e coordenador do evento.

De acordo com os organizadores, o júri simulado não terá sentença, pois o objetivo é que cada pessoa ouça os argumentos do vereador, da defesa e da acusação, e depois formule o seu próprio veredicto.

Será possível assistir ao júri presencialmente, no Rio de Janeiro, ou de forma remota, pelo canal do Centro Cultural da Justiça Federal no YouTube (CentroCulturalJustiçaFederal).

Relembre o caso

O caso ocorreu em 5 de fevereiro deste ano: o padre Luiz Haas estava conduzindo a missa de sábado na Igreja do Rosário, no Centro de Curitiba, enquanto um grupo de manifestantes liderados pelo vereador Renato Freitas (PT) ocupava a escadaria do templo e gritava palavras de ordem, prejudicando a celebração religiosa.

"Isso é de propósito, para atrapalhar a nossa missa. Não sei que grupo é. Mas na hora da missa não precisa fazer isso", disse o padre. O sacerdote chegou a ir à escadaria para conversar com os militantes, sem sucesso. Pouco tempo depois, o grupo invadiu a igreja - a defesa nega a entrada forçada.

Os manifestantes levaram bandeiras e faixas até o altar enquanto gritavam palavras de ordem. Renato Freitas discursou e disse que os católicos tinham apoiado um "policial que está no poder".

Já o advogado de defesa do vereador, Guilherme Gonçalves, não acredita que se possa falar de invasão na igreja, já que a porta estava aberta e a missa já tinha terminado. Apesar de o vídeo feito durante a missa registrar que o barulho da manifestação estava atrapalhando a cerimônia, o que inclusive foi apontado pelo padre várias vezes durante a missa, Gonçalves nega também que os manifestantes teriam perturbado o ato religioso.

Apesar de o vereador aparecer nas imagens discursando dentro do templo, Gonçalves frisa ainda que ele teria sido um dos últimos a entrar no local. "Não é verdade que ele comandou o ato ou que o Renato atrapalhou a missa, ou que estava entre as pessoas que discutiram com o padre", afirma.

Segundo ele, a desproporcionalidade como algumas pessoas estão avaliando o fato seria a prova de que, caso o vereador seja cassado, o motivo seria a existência de um "racismo estrutural". "Da forma como o assunto foi conduzido, é evidente que vai legitimar um discurso de racismo estrutural, é a minha convicção", afirma. Para o advogado, caso ele seja punido pela Câmara Municipal de Curitiba, não será pelo ato na igreja, mas por ser negro, pobre, da oposição e de esquerda.

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