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Juristas evangélicos convocam igrejas para ajudar pequenos empresários e pessoas vulneráveis
| Foto: Unsplash

Sem cultos, as igrejas devem aproveitar suas instalações e recursos para promover ações de solidariedade aos mais vulneráveis. É essa a posição da Associação de Juristas Evangélicos que iniciou campanha focada em líderes religiosos.

"[É preciso cuidar] dos grupos vulneráveis impactados pela pandemia do coronavírus, como forma de manifestação do caráter compassivo inerente à igreja cristã em toda a história", diz a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure), que se apoia também no artigo 19 da Constituição Federal para garantir a sua liberdade de atuação nesses casos.

"Temos um cenário propício para o exercício da fraternidade. Há anuência legal e um legado de solidariedade construído através da história, de modo que o mesmo senso de compaixão presente em outros períodos deve nos mover no contexto de caos gerado pelo coronavírus", diz a nota publicada pela associação.

"Por isso, conclamamos os pastores, líderes de ministérios e de agências missionárias, assim como cada membro de igreja, a contribuírem, segundo a multiforme graça de Deus que nos é concedida, com recursos, dons e talentos em prol dos necessitados".

A Anajure sugere que as instituições criem um "fundo de compaixão que possa suprir necessidades básicas de pessoas vulneráveis da igreja e da comunidade". Segundo o presidente da associação, Uziel Santana, as entidades já têm atuado nesse sentido.

"Fundos específicos para obra social já existem na maior parte das igrejas. A ideia é que elas possam aportar mais recursos ainda agora, para ajudar, por exemplo, moradores de rua, pessoas que não têm capacidade econômica, que precisam de proteção à pandemia", explica. "É preciso que essa frente assuma os holofotes da igreja".

Igrejas também podem estimular seus membros a realizar compras que contribuam com os chamados pequenos empresários que, no contexto atual, temem a quebra de suas empresas. Muitos pedem ao governo medidas como subsídio e corte de taxas e impostos.

"Temos recebido relatos de comerciantes, ambulantes, que vivem do mercado informal, que começam a enfrentar situações de vulnerabilidade", diz Santana. "A igreja tem a possibilidade de atender às pessoas que estão desesperadas nesse momento".

O grupo, além disso, discute a possibilidade de criação de um fundo de âmbito nacional que consiga dar suporte às instituições que não tenham capacidade de acolher suas comunidades. A Anajure já solicitou o engajamento de parlamentares nesta causa.

Leia a nota na íntegra:

O Conselho Diretivo Nacional da Associação Nacional de Juristas Evangélicos – ANAJURE, no uso das suas atribuições estatutárias e regimentais, emite à sociedade brasileira a presente Nota Pública, conclamando as igrejas, pastores e líderes evangélicos a promoverem ações de fraternidade e solidariedade no contexto de pandemia do coronavírus.

O exercício da compaixão é uma marca que acompanha a igreja cristã desde os primórdios. No Antigo Testamento, há diversas passagens que orientam o cuidado de grupos vulneráveis, como os pobres, os estrangeiros, as viúvas e os órfãos (v.g. Dt 24.17, Dt 24.20, Is 1.17, Zc 7.10). No Novo Testamento, as referidas orientações são ratificadas, como exemplifica a passagem contida em Mateus 25:34-40, na qual Cristo instrui seus discípulos sobre o cuidado do estrangeiro, do doente e das demais pessoas necessitadas.

Tais ensinos categóricos das Escrituras Sagradas têm inspirado diversas gerações de cristãos a se deixarem gastar em prol dos vulneráveis. Na época do domínio do Império Romano, quando a taxa de mortalidade era alta e o número de doentes também, o cristianismo foi tido como resposta à miséria, ao caos e ao medo, a partir das iniciativas da igreja primitiva.

Relatos históricos narram ações de pessoas como John Wesley, que se dedicou, dentre outros afazeres, ao levantamento de ofertas para adquirir roupas para os pobres, à visitação dos encarcerados e à obtenção de provisões para eles, bem como à organização e apoio de albergues para crianças. William Wilberforce, conhecido pela luta bem-sucedida contra a escravidão e o comércio de escravos, também se empenhou em prol da reforma de prisões e se dedicou à fundação de escolas cristãs para os pobres. Num tempo de caos e de incertezas, C.S. Lewis concedeu uma série de palestras, pelo rádio, sobre o cristianismo, revigorando pessoas angustiadas pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial por meio da esperança contida no Evangelho.

Na atualidade, as ações de solidariedade continuam a ocorrer. Cristãos se engajam para auxiliar em meio aos desastres, abrigam moradores de rua em noites frias, acolhem crianças em situação de abuso e abandono, contribuem para a ressocialização de socioeducandos, dentre outras atividades.

A ANAJURE, compromissada com a ajuda humanitária, executa o projeto ANAJURE Refugees, por meio do qual fornece apoio aos refugiados em meio à crise migratória que atinge o mundo todo. Através do Refugees, famílias de refugiados já foram acolhidas no Brasil, bem como foram fornecidos atendimentos odontológicos, jurídicos, psicológicos e assistência social.

Em reconhecimento ao papel exercido pelas entidades religiosas, o constituinte brasileiro, ao prever disposições sobre a laicidade estatal, estabeleceu restrições à subvenção e ao embaraço de cultos, por exemplo, mas também mencionou expressamente a possibilidade de colaboração de interesse público (art. 19, inciso I, CF/88). Nessa linha, a Carta Magna assegura a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva (art. 5º, VII, CF/88).

Temos, portanto, um cenário propício para o exercício da fraternidade. Há anuência legal e um legado de solidariedade construído através da história, de modo que o mesmo senso de compaixão presente em outros períodos deve nos mover no contexto de caos gerado pelo coronavírus. Por isso, conclamamos os pastores, líderes de ministérios e de agências missionárias, assim como cada membro de igreja, a contribuírem, segundo a multiforme graça de Deus que nos é concedida, com recursos, dons e talentos em prol dos necessitados.

Nesse sentido, sugerimos algumas possibilidades:

  • Criação de fundo de compaixão nas igrejas locais, a ser destinado para suprir as necessidades básicas de pessoas vulneráveis da igreja e da comunidade na qual a instituição está inserida;
  • Estímulo aos membros da igreja para a realização de ofertas específicas para ações de compaixão, segundo as condições de cada um;
  • Ênfase especial em grupos vulneráveis, como idosos, trabalhadores informais, pessoas em situação de rua e ambulantes das respectivas localidades;
  • Estimular compras que auxiliem pequenos empresários;
  • Estabelecer redes de contato com demais pastores e líderes para o compartilhamento de ações de compaixão realizadas.

Pelo exposto, a ANAJURE se pronuncia na presente ocasião convocando pastores, líderes e membros das igrejas a se engajarem, respeitando possíveis limitações financeiras e de saúde, com o cuidado dos grupos vulneráveis impactados pela pandemia do coronavírus, como forma de manifestação do caráter compassivo inerente à igreja cristã em toda a história.

Brasília, 24 de março de 2020.

Dr. Uziel Santana
Presidente da ANAJURE

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