A Justiça de Londrina absolveu quatro dos cinco acusados da morte do empresário José Luiz de Souza, dono do Depósito São Marcos. O crime aconteceu no final de março do ano passado e foi cometido por um adolescente, que baleou o empresário no peito após um assalto ao caixa da loja.
Na denúncia oferecida pelo Ministério Público, foram acusados Sandra Aparecida da Silva, Viny Mayer Marcuz, Júlio César da Costa e David Willian Machado. Porém, no entendimento do juiz Délcio Miranda da Rocha, da 2ª Vara Criminal, os quatro não tiveram envolvimento direto no crime e foram absolvidos.
De acordo com a sentença, proferida na segunda-feira (21), "ficou devidamente comprovado que o autor direto do delito foi o adolescente V. C. S. (...), de acordo com o que é visto nas imagens degravadas das câmeras de circuito interno do estabelecimento". Ele foi condenado a três anos de internação, e está detido desde o ano passado.
Em relação a David Willian Machado, o entendimento do juiz é de que "provavelmente [o acusado] pensou em subtrair valores [da empresa], mas daí para concluir, sem provas concretas nesse sentido, que é ele coautor do fato, não há inferência lógica". Para Rocha, prevaleceu o princípio in dúbio pro reo na dúvida, interprete-se a lei em favor do réu.
Sobre Viny Mayer Marcuz, o juiz afirma que é inegável o fato de que este levou o adolescente de moto até a loja. Porém, de acordo com a sentença, "não há elementos concretos que o liguem à participação no delito, ou que confirmem o conhecimento da vontade do menor em subtrair valores do Depósito São Marcos".
Sandra Aparecida da Silva foi acusada de ocultar a arma do crime, mas para o juiz o ato não foi feito de maneira proposital. No texto, Rocha aponta que a arma foi colocada pelo próprio adolescente em uma bolsa de Sandra sem que essa soubesse do fato. "Ao encontrarem (...) Sandra, os policiais perguntaram de quem seria a sacola, e esta assumiu sua propriedade, sem, no entanto, ter ciência de que em seu interior estava uma arma de fogo", afirma a sentença.
Já sobre Júlio César da Costa a única alegação que havia era de ter dado cobertura à fuga do menor após o latrocínio. Para o juiz da 2ª Vara Criminal, não houve, desde o início das investigações, quaisquer provas que ligassem o rapaz ao crime. "Seu único envolvimento no caso foi ter encontrado (...) Viny antes do fato, momento em que o indagou a respeito de um acordo feito por ambos para ressarcimento de um dano causado pela motocicleta de Viny na camioneta de Júlio César", destaca Rocha, na sentença.
Relembre o caso
O comerciante José Luiz de Souza, 53, foi morto na tarde de 28 de março de 2013 em uma tentativa de assalto a sua loja, o Depósito São Marcos, localizado na Avenida Leste-Oeste, região central.
Segundo testemunhas, dois homens, aparentando ser menores de idade, deram voz de assalto à caixa do estabelecimento. Depois que já haviam recolhido o dinheiro, Souza andou em direção aos assaltantes, sem perceber o que estava acontecendo. Mesmo não esboçando qualquer reação, o comerciante levou um tiro no peito. A câmera de segurança interna registrou imagens do assalto, e a polícia já tem pistas da identidade dos criminosos.
Na fuga, os assaltantes acabaram deixando cair parte do dinheiro do roubo no chão. Amigos da família ainda relataram que viram dois outros jovens, aparentemente comparsas, esperando pelos ladrões do lado de fora da loja. Todos fugiram em motocicletas. Até o fechamento da edição, não haviam sido localizados.
O soldado Henrique Guerreiro, socorrista do Siate que atendeu à ocorrência, informou que o comerciante ainda estava vivo quando o socorro chegou ao local, por volta das 17h30. O Siate se deslocou para buscar atendimento médico, mas o empresário não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo dentro da ambulância.
Muitos amigos e familiares se dirigiram à loja, transtornados pela brutalidade do acontecimento. Nas rodas de conversa que se formavam, os rumores diziam que os assaltantes eram figuras conhecidas na região. Os gritos por justiça eram acompanhados da frustração pelas dificuldades de detenção dos criminosos, uma vez que são provavelmente adolescentes.
Muito emocionados, os familiares evitaram contato com a imprensa. A irmã Juliana de Souza se mostrava indignada com a futilidade do crime. "Tudo isso por causa de quê? Quinhentos reais? Pelo amor de Deus, se fosse para pedir esmola, a gente dava. Ele não reagiu, não fez absolutamente nada", disse.
Souza era um empresário muito conhecido e querido na região. Sua família mantinha o depósito desde 1980, e o comerciante assumiu o comando da loja em 2008, depois do falecimento do pai. Ele deixa a mulher, Lucinei, e dois filhos, Samantha e Murilo, que o ajudavam na administração do estabelecimento.
O funcionário Celso Fabiano Dias, há apenas três meses contratado pelo depósito, disse que o pouco tempo já havia sido suficiente para afeiçoar-se ao patrão. "Com ele não tinha tempo ruim, dava muitas chances para quem trabalha, gente boa. Inacreditável o quanto foi rápido, só deu para ouvir o estampido."