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Saúde

Justiça acelera fila de espera por cirurgias

Peterson Ling Yen, 20 anos, corre o risco de perder o movimento do braço direito caso não seja operado: no caso dele, ação na Justiça não acelerou processo | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Peterson Ling Yen, 20 anos, corre o risco de perder o movimento do braço direito caso não seja operado: no caso dele, ação na Justiça não acelerou processo (Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo)

A demora na fila por uma cirurgia no Hospital Universitário (HU)de Maringá, no Noroeste do estado, obrigou pelo menos 13 pacientes a recorrer à Justiça para garantir atendimento no mês passado. Na última sexta-feira, o juiz substituto da 1.ª Vara Cível, Jaime Souza Pinto Sampaio, deu um prazo de 72 horas – a partir da intimação – para que o HU e o município atendam seis pessoas que aguardam por cirurgias ortopédicas. A decisão atendeu a um pedido da Promotoria Especial de Defesa da Saúde Pública, do Ministério Público (MP).Caso descumpram a determinação, hospital e prefeitura estarão sujeitos a multa de R$ 1,5 mil por dia e por paciente não operado. Na liminar, o juiz lembra da "obrigação do Estado em prover a saúde e de prestar atendimento médico hospitalar a quem dele necessitar, o que não vem ocorrendo". O despacho também alerta para os riscos que envolvem a demora no atendimento. "Os traumas ortopédicos podem vir a se tornar irreversíveis ou de difícil reparação se houver calcificação no local".

No início de maio, a 3.ª Vara Cível de Maringá já havia se manifestado de forma semelhante. Na ocasião, uma liminar determinou o atendimento de sete pacientes que estavam há mais de um mês na fila por uma cirurgia ortopédica. Alegando não ter condições de fazer os procedimentos, o HU encaminhou-os para outros três hospitais de Maringá e Sarandi, onde as cirurgias foram realizadas.

Um dos que viveram o drama foi o gesseiro Adonias Ferreira, 31 anos, que teve de esperar 36 dias para operar um dos joelhos. "Como no HU não havia leitos, eu e os outros pacientes tínhamos de ficar em macas no corredor. Sentíamos muitas dores, principalmente nas costas", afirmou, logo após ter sido operado.

Pelo país

O Tribunal de Justiça e o MP não têm um levantamento sobre a quantidade de ações judiciais impetradas no Paraná para garantir atendimento médico. No entanto, casos como o de Maringá estão ocorrendo em várias partes do país. Em abril deste ano, por exemplo, o Ministério Público Federal (MPF) ajuízou ação para garantir atendimento rápido a pacientes do SUS que precisavam fazer biópsias, cirurgias e quimioterapia em Uberlândia (MG).

Já em novembro do ano passado, o Judiciário do Ceará determinou uma série de medidas para reduzir o tempo de espera para cirurgias ortopédicas em dois hospitais de Fortaleza. A decisão, que atendeu uma ação do MPF, estabeleceu um prazo de 12 meses para reduzir em 10% a fila para operações de alta complexidade.

O coordenador do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodrigo Kanayama, considera inadequada a postura do Judiciário em alterar políticas governamentais. "Isso é competência apenas do Poder Executivo. Sou contra a interferência da Justiça nesses casos", disse. Para ele, falta mobilização popular para questionar problemas como a longa espera por atendimento na saúde. "O Judiciário não deve se tornar uma estância política."

Na opinião do professor de direitos humanos do Centro Universitário de Maringá (Cesu­mar), Cássio Marcelo Mochi, a intervenção do Judiciário pode até ser criticada, mas é a última esperança para o cidadão. "A Constituição garante a todos uma série de direitos, inclusive à saúde. A interferência do Judiciário demonstra o quanto o Legislativo e o Executivo não estão cumprindo suas funções constitucionais de garantir a efetivação desses direitos", afirmou.

Mochi, que também é professor de Direito Constitucional, disse ainda que o Estado muitas vezes é insensível e irresponsável com o cidadão que aguarda atendimento na área da saúde. "Pode acontecer alguns casos de exageros por parte do Judiciário, mas quando o direito garantido não é cumprido pelo Estado, resta à Justiça entrar como interventor", opinou.

HU alega não ter condições de fazer operações

O superintendente do Hospital Universitário (HU) de Maringá, José Carlos Amador, afirmou que o local não tem estrutura para fazer mais seis operações ortopédicas, conforme determina a decisão judicial. "O hospital não tem aparelhagem nem capacidade técnica para realizar as cirurgias. Vamos entrar com recurso", informou.

O Ministério Público contestou o posicionamento do HU, alegando que o hospital assumiu com a prefeitura a responsabilidade pela realização dos procedimentos de média complexidade – relativas aos pacientes com ano de nascimento com final "8", "9" ou "0" – não havendo justificativa para deixar essas pessoas desassistidas.

Segundo a promotora Stella Maris Pinheiro, a unidade ainda recebe mensalmente cerca de R$ 1 milhão da prefeitura para custeio de diversas despesas. "O Hospital Universitário recebe recursos municipais para a realização de procedimentos ortopédicos classificados como de média complexidade. Se não possui equipamentos para realizá-los, o gestor municipal deve reorganizar o fluxo de trauma ortopedia existente e rever os valores repassados", explicou a promotora, em nota.

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