A juíza Ana Carolina Ramos não viu motivos para manter a investigadora da Polícia Civil Katia das Graças Belo presa temporariamente por 30 dias e negou o pedido do delegado chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Fábio Amaro.
Katia, que estava lotada no Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Crime (Nucria), é acusada de ter disparado um tiro que acabou matando a copeira Rosária Miranda, 44 anos, que comemorava com colegas de trabalho o final do ano no dia 23 de dezembro no bairro Centro Cívico. A decisão foi tomada no plantão judiciário do último dia 30 de dezembro.
O motivo do pedido de prisão está registrado em testemunhos sigilosos de pessoas que alegam que o tiro disparado naquele dia por Katia não foi o primeiro. O suposto histórico e o medo que a policial imporia aos vizinhos, testemunhas, embasaram a solicitação do delegado. Mesmo assim, de acordo com a magistrada, não houve indícios concretos para a excepcionalidade da medida cautelar.
“É imprescindível que exista situação concreta que coloque em risco o êxito da atividade investigatória oficial, para que o Estado possa intervir, cautelarmente, sacrificando a liberdade da pessoa investigada.”, escreveu a juíza.
Em outro trecho da decisão, que a reportagem teve acesso, a magistrada argumentou que as alegações da autoridade policial eram abstratas e não concretas. A reportagem tentou localizar a magistrada para comentar o caso, mas não houve sucesso.
O delegado Amaro também foi procurado pela reportagem, mas afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto.
O que diz a defesa de Katia
Embora imagens da câmera de segurança do local do crime mostrem o momento do tiro, o advogado da policial, Peter Amaro de Souza, levanta dúvida se o disparo feito pela investigadora é o mesmo que atingiu Rosária. Kátia se apresentou a DHPP após o período do flagrante, entregou a arma e foi ouvida. Ela afirmou que havia disparado, mas não em direção ao local da festa.
“Ela confessa que disparou, mas não em direção da festa. Além disso, há uma dúvida ainda sobre se foi o tiro dela que acertou (a copeira)”, mencionou o advogado. Segundo ele, não há ângulo suficiente para que o tiro tenha saído do local onde ela disparou e chegado à nuca de Rosária.
O defensor acredita que, em razão disso, o tiro pode ter vindo de baixo para cima. Somente o exame pericial de balística comprovará a trajetória. O advogado alega que havia árvore e muros no suposto caminho do projétil. “Pode ter sido até um ricochete”, comentou. Na avaliação dele, no entanto, não há dolo (intenção de matar).
Souza afirmou ainda que o local da festa não foi isolado adequadamente pela perícia, o que pode comprometer as análises. “Estamos consternados. Nós também queremos Justiça, mas não queremos condenação precipitada. Que ela responda na medida da sua culpabilidade”, disse.
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