A 1ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba terminou de ouvir, nesta quinta-feira (17), o depoimento de 17 testemunhas da defesa de 13 policiais militares acusados de executarem cinco jovens em Curitiba em setembro de 2009. As declarações constituem a fase de audiência de instrução do processo. Segundo o promotor que acompanha o caso, Leandro Garcia, a defesa ainda pode apresentar outras testemunhas.
Os depoimentos dos doze selecionados pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), como testemunhas de acusação, já foram realizados. O promotor informou também que os treze acusados prestarão esclarecimentos à Justiça, também na fase de audiência de instrução, nos dias 27 e 28 de janeiro do próximo ano.
O advogado que defende os policiais, Cláudio Dalledone, informou que as audiências transcorreram dentro da normalidade. Dalledone acredita que o caso deva ir à júri popular, mas acha "pouco provável" que os réus sejam condenados.
Relembre o caso
As mortes foram registradas na madrugada do dia 11 de setembro de 2009. Na versão dos policiais, Davi Leite de Freitas, Josemar Bernardo, Thobias Rosa Lima, Salatiel Aarão Rosa Lima e Éderson Miranda estavam em um Gol branco que seria produto de roubo. Depois de percorrer várias ruas, os jovens teriam furado um bloqueio policial montado pela equipe da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). Quando chegaram à Rua Nicolau Maeder, no Alto da Glória, o carro bateu em uma mureta e os jovens saíram do carro efetuando diversos disparos. Na troca de tiros, eles acabaram morrendo.
No entanto, Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pelo Comando do Policiamento da Capital no dia das mortes desmentiu a versão. A investigação apurou que depois de bater o veículo, os jovens se renderam e não atiraram contra os policiais. Eles foram feridos e algemados.
Um aparelho rastreador instalado na viatura utilizada pela PM revelou que, antes de conduzir as vítimas para o hospital, os oficiais da Rotam pararam em um matagal entre os bairros Atuba e Santa Cândida, onde provavelmente os suspeitos foram executados.
Câmeras de segurança de uma clínica registraram o momento em que os policiais abordaram os rapazes. As imagens foram usadas pelo Ministério Público. O órgão falou, na época, que as imagens mostravam que a ação dos policiais tinha sido rápida e que as vítimas foram dominadas.
De acordo com as investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ficou evidente que os cinco jovens foram dominados pelos policiais no momento da abordagem do veículo e posteriormente levados até o bairro Atuba, onde foram mortos.
Os policiais foram denunciados pelo Ministério Público do Paraná três meses depois da ocorrência.
Repercussão
O transporte das vítimas para o Hospital Cajuru foi realizado pelos próprios policiais, o que gerou polêmica. Por isso, Depois da morte dos cinco jovens, o então governador Roberto Requião (PMDB) determinou que somente o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) pode fazer o atendimento e a remoção das pessoas feridas em confrontos armados com a polícia.