Kit desastre fica pronto para fugas repentinas

Pijama, remédio, documento, toalha e roupa para os três filhos fazem parte da lista da dona de casa Roselita Aparecida Reichelt Zabel, 29 anos. Ela já sabe o que levar se der chuva forte, com risco de deslizamento do morro, e tiver de sair de casa, no bairro Arraial, em Gaspar, próximo ao Morro do Baú. Com a lista que decorou, Roselita não esquece de nada e consegue pegar as coisas rapidamente.

Em novembro de 2008, quando teve de sair de casa, ela levou tudo errado. Esqueceu do pijama. Teve de dormir de calça jeans. Não levou outra calça para o filho. "Agora já sei o que levar. Pretendo estar preparada." Na metade do ano, quando a chuva se intensificou, ela até chegou a deixar uma mochila pronta com roupas. Não precisou usar daquela vez.

A família vive em constante alerta. Ao meio-dia da última quinta-feira, quando a reportagem chegou na casa dela e buzinou, Roselita já pensou o pior. Chovia fino e o primeiro pensamento dela foi de que era alguém que estava sem acesso, de que os morros teriam deslizado sobre a estrada.

Por causa da preocupação, a dona de casa não deixa acumular roupa e evita fazer compra muito grande no supermercado – vai que cai a energia e eles perdem os congelados. Se a situação piora, vão para a casa da sogra.

Apesar da chuva forte do fim de semana, Roselita não precisou sair de casa. A decisão de sair ou não é da própria família. Segundo ela, em janeiro foi a última vez que técnicos fizeram uma avaliação do risco. A dona de casa acha que não tem perigo. E, se tiver, corre para a casa dos parentes, levando os pertences necessários que já sabe de cor. É uma coisa que a família não gosta muito não. Para quem não tem nem vizinho perto, o bom mesmo é o sossego.